A ABORDAGEM À LEITURA E À ESCRITA NO JARDIM-DE-INFÂNCIA: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS DOS EDUCADORES DE INFÂNCIA
Os Estudos 2, 3 e 4 debruçaram-se sobre a análise das práticas pedagógicas dos educadores de infância no âmbito da linguagem escrita, procurando destrinçar, fundamentalmente, qual o papel que estes docentes desempenham no processo de abordagem emergente à linguagem escrita no jardim-de-infância. Focando aspectos como a forma de conceber o projecto de intervenção, a organização e gestão de espaços e tempos, a implementação de estratégias de intervenção junto dos grupos de crianças que frequentam cada uma das salas observadas ou as estratégias de articulação família/escola, estes Estudos oferecem-nos uma visão alargada acerca do papel dos educadores de infância neste domínio, permitindo pormenorizar os elementos que se constituem como privilegiados em termos de intervenção pedagógica. Os resultados apresentados no Estudo 4 permitem-nos, ainda, estabelecer alguma relação entre as práticas pedagógicas das educadoras de infância e a evolução das concepções infantis sobre leitura e escrita. Dos Estudos 2 e 4 fizeram parte as 18 educadoras de infância anteriormente referidas e, ainda, 146 crianças, cujos resultados de diversas provas para avaliar as suas concepções sobre leitura e escrita foram incluídos no Estudo 4. O Estudo 3 foi construído a partir da observação aprofundada das práticas pedagógicas de três educadoras de infância seleccionadas de entre as 18 observadas.Em geral, os resultados apresentados nestes estudos permitem afirmar que concepções e práticas pedagógicas dos educadores de infância no domínio da linguagem escrita podem ser caracterizadas pela descontinuidade que revelam e que se manifestam quer entre concepções e práticas, quer, mesmo no interior de concepções e de práticas. Entendendo esta descontinuidade enquanto situação pontualmente focada para o domínio em questão, mas carente de um fio condutor ou de um contínuo que lhe confira fluidez, regularidade, sistematicidade e transversalidade, concepções e práticas pedagógicas acabam por carecer de uma perspectiva de omnipresença que torne a abordagem à linguagem escrita contextualizada e significativa. Esta descontinuidade, manifestada pelos altos e baixos que ora as aproximam, ora as distanciam, de uma abordagem que se pretende emergente, são denunciadoras de hiatos na forma como os educadores concebem e implementam a sua intervenção pedagógica, numa confluência de saberes e saberes-fazer, com implicações evidentes quer ao nível da organização e gestão da intervenção docente quer, sobretudo, ao nível da forma como as crianças são levadas a pensar a linguagem escrita, que se torna claramente evidente no Estudo 4, com as diferenças evidentes na evolução registada nas concepções sobre leitura e escrita do grupo de crianças que frequentam salas cujas educadoras se afiguram mais consistentes e sistematizadas com uma perspectiva de literacia emergente.
Mesmo com alguns resultados que se revelam prometedores em termos de promoção da literacia no jardim-de-infância, dos mesmos emerge uma chamada de atenção para os docentes da educação de infância e para os seus formadores, perante a necessidade de reflectir acerca da forma como está a ser perspectivada e implementada a intervenção neste âmbito e da formação que neste campo é oferecida, na procura da necessária articulação coerente entre as diversas componentes curriculares que enformam concepções e práticas, na tentativa de responder da melhor forma possível às necessidades e interesses emergentes das crianças em idade pré-escolar no domínio da linguagem escrita.
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