Crianças confundem Ambiente e Natureza
A necessidade de aprofundar o entendimento das crianças quanto às relações entre o indivíduo, a sociedade e o ambiente é uma das principais conclusões de uma tese de mestrado em Educação Ambiental dos Departamentos de Ciências Agrárias e Ciências de Educação defendida recentemente por Luzia Cordeiro Rodrigues, no campus de Angra do Heroísmo da Universidade dos Açores, orientada pelas Professoras Ana Moura Arroz e Rosalina Gabriel.
Intitulado “Espaços Verdes ou Contextos de Relação: Perspectivas e Preocupações das Crianças acerca do Ambiente”, o trabalho foi realizado na ilha Terceira, com 75 crianças do 4.º ano do Primeiro Ciclo do Ensino Básico, englobando diversas técnicas, na abordagem metodológica utilizada, desde a livre expressão escrita a fotografias, passando por desenhos e entrevistas semi-estruturadas individuais. O objectivo foi “contribuir para o conhecimento das perspectivas das crianças sobre o ambiente”, explica a autora. “Procurámos trazer novos dados que possam subsidiar a discussão acerca dos propósitos, conteúdos e processos de educação ambiental, por forma a extrair implicações para uma mudança ou alargamento das abordagens e práticas educativas, que se pretendem baseadas e centradas nas concepções das crianças”, sublinha.
POLUIÇÃO É PREOCUPAÇÃO
Segundo as conclusões do trabalho, “as crianças visualizam o ambiente como um espaço determinado, ou um contexto onde são exercidas relações unilaterais do homem para o ambiente - salientando-se o poder destrutivo do homem - ou do ambiente para o homem, enquanto fonte de recursos indispensável à sobrevivência da humanidade”. Para a maioria, o ambiente “é identificado com a natureza e tudo o que é natural, não construído pelo homem, sendo representado, quer no presente quer no futuro, com um elevado grau de pureza”, revela o estudo. Por outro lado, “apesar da poluição ser apontada como a principal preocupação das crianças, não é ela a responsável pelos problemas ambientais do futuro, mas sim a construção de várias infraestruturas”. Neste contexto, “o homem surge como o principal responsável pela delapidação do ambiente, enquanto fonte de recursos, e pelo futuro menos bom que nos espera”. Por seu turno, “a escola e a família, enquanto fontes principais do conhecimento ambiental, assumem um papel preponderante para estas crianças, que neles depositam confiança relativamente às informações que lhes são transmitidas”.
OUVIR AS CRIANÇAS
No que diz respeito a implicações pedagógicas, Luzia Cordeiro Rodrigues considera “necessário expandir o entendimento das crianças quanto às relações entre o indivíduo, a sociedade e o ambiente”. “As perspectivas de ambiente que encontrámos junto das crianças necessitam seguramente de ser ampliadas, criticadas e discutidas pelos seus pares, professores e famílias com vista à facilitação da sua reformulação e evolução crítica”, defende, salientando que “a precária diferenciação do conceito de ambiente relativamente ao conceito de natureza, constitui, disso mesmo, o exemplo mais gritante”. A autora classifica, assim, de “imprescindível que o educador conheça as concepções das crianças com quem trabalha para que, através de uma intervenção informada, possa contribuir para a evolução crítica que progressivamente conduzirá à superação do senso comum, mas não necessariamente a uma única forma de ver o mundo”. Reforça ainda a “necessidade e a instrumentalidade de ouvirmos atentamente e sem complexos o que as crianças têm para nos dizer”.
(In Diário Insular)Etiquetas: Ambiente, Ana Arroz, Educação Ambiental, Luzia Rodrigues, Percepções, Rosalina
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