Lagoas do Pico
Continuo por aqui, pela Ilha Maior, correndo os Concelhos da Madalena, São Roque do Pico e Lajes do Pico, ilha que é a maior em termos da recta mais extensa dos Açores, maior no que se refere ao ponto mais alto dos Açores e de Portugal, maior ainda nas mentes das suas gentes, capazes de gerar cardeais e patriarcas, doutorados e empresários, fados de Coimbra e baladas de intervenção.
A rotina é sempre a mesma. Dormida na casa simpática cedida pelo Departamento de Oceanografia e Pescas para os docentes do mestrado em Gestão e Conservação da Natureza do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores, cuidadosamente gerida pela organização local do mestrado a cargo da Ecoteca do Pico. Segue-se a troca de emails e o envio deste texto logo depois do pequeno-almoço no Café Simpatia e, quando lembra, de uma passagem rápida pela Matriz da Madalena. Depois vou aos Serviços Agrícolas solicitar o apoio das engenheiras Benilde Pereira e Rita Ferreira que até às cinco da tarde me vão ensinando os segredos do agros e dos agricultores. E finalmente vem o mestrado das seis às onze, com uma sanduíche e uma cerveja no único café aberto àquela altura.
Ontem fomos visitar as Lagoas do Pico e aprender sobre elas. Na Lagoa do Capitão encontrámos um lavrador a tratar do seu gado charolês ainda no pino do Inverno. A lagoa estava cheia e o vento era tão forte que fazia alguma rebentação num lençol de água cuja dimensão não é por aí além, talvez dois hectares. Lá estavam os patos deixados pelos serviços florestais e poderíamos imaginar os peixes protegidos do vento pelas águas oxigenadas por esse mesmo vento. Lá estavam também os banquinhos e os placars que o Estado gosta de colocar nos sítios a marcar a sua presença hegemónica, embora quem lá esteja duas vezes por semana sejam os lavradores. Houvessem bebedouros funcionais para o gado e já não haveria necessidade do gado se aproximar do lençol de água. O problema é que os serviços preferem estimular bebedouros colectivos que não são mantidos nem menos usados em vez de estudar a hidráulica complexa de criar bebedouros nas várias explorações, e que tenham água potável todo o ano. Afinal de contas é para isso que deveriam servir os engenheiros e não para copiar o bebedouro que vem do livro de escola que não serve e foi caro.
A Lagoa do Caiado é um caso paradigmático de que a solução se aproxima do óptimo quando existem usos alternativos com direitos de propriedade bem definidos. De um lado a possibilidade do uso do solo e da água pelos lavradores da bacia hidrográfica. Do outro a possibilidade de uso da água pelo município. E como o município tem ali uma fonte de água mais barata e melhor do que a dos furos, não se importa de pagar aos lavradores da pequena bacia a água dos seus terrenos, adquirindo o direito consuetudinário do uso do solo e da água para a pastorícia para afectar esses recursos ao abastecimento de água. É caso para pensar que, se houvesse utilização da Lagoa do Capitão, atrás referida, para o abastecimento de água do município, certamente os lavradores seriam compensados e o ordenamento da bacia estaria resolvido, como parece estar a acontecer na Lagoa do Caiado. No entanto, ao contrário do que muitos pensam, o direito à água era inicialmente dos lavradores e não do Estado tendo sido adquirido pelo município através da aquisição dos terrenos.
A Lagoa do Paúl estava enevoada, mas foi possível verificar que a régua de medida da profundidade estava no zero no pino do Inverno indicando que a lagoa já não é capaz de reter a água que retinha num passado recente. Além disso o equipamento que media o nível estava com o cronómetro ligado mas não tinha tinta. Ao lado havia uma ordenha em tempos subsidiada mas agora abandonada e degradada. E pelo caminho apareciam umas reses com frio que vinham ao sinal do nosso carro de que algum alimento externo estaria para chegar. Aliás a estrada estava cheia de caules de milho. Deu tempo para ir à Lagoa do Peixinho e da Rosada mas agora não há espaço para falar delas.
A rotina é sempre a mesma. Dormida na casa simpática cedida pelo Departamento de Oceanografia e Pescas para os docentes do mestrado em Gestão e Conservação da Natureza do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores, cuidadosamente gerida pela organização local do mestrado a cargo da Ecoteca do Pico. Segue-se a troca de emails e o envio deste texto logo depois do pequeno-almoço no Café Simpatia e, quando lembra, de uma passagem rápida pela Matriz da Madalena. Depois vou aos Serviços Agrícolas solicitar o apoio das engenheiras Benilde Pereira e Rita Ferreira que até às cinco da tarde me vão ensinando os segredos do agros e dos agricultores. E finalmente vem o mestrado das seis às onze, com uma sanduíche e uma cerveja no único café aberto àquela altura.
Ontem fomos visitar as Lagoas do Pico e aprender sobre elas. Na Lagoa do Capitão encontrámos um lavrador a tratar do seu gado charolês ainda no pino do Inverno. A lagoa estava cheia e o vento era tão forte que fazia alguma rebentação num lençol de água cuja dimensão não é por aí além, talvez dois hectares. Lá estavam os patos deixados pelos serviços florestais e poderíamos imaginar os peixes protegidos do vento pelas águas oxigenadas por esse mesmo vento. Lá estavam também os banquinhos e os placars que o Estado gosta de colocar nos sítios a marcar a sua presença hegemónica, embora quem lá esteja duas vezes por semana sejam os lavradores. Houvessem bebedouros funcionais para o gado e já não haveria necessidade do gado se aproximar do lençol de água. O problema é que os serviços preferem estimular bebedouros colectivos que não são mantidos nem menos usados em vez de estudar a hidráulica complexa de criar bebedouros nas várias explorações, e que tenham água potável todo o ano. Afinal de contas é para isso que deveriam servir os engenheiros e não para copiar o bebedouro que vem do livro de escola que não serve e foi caro.
A Lagoa do Caiado é um caso paradigmático de que a solução se aproxima do óptimo quando existem usos alternativos com direitos de propriedade bem definidos. De um lado a possibilidade do uso do solo e da água pelos lavradores da bacia hidrográfica. Do outro a possibilidade de uso da água pelo município. E como o município tem ali uma fonte de água mais barata e melhor do que a dos furos, não se importa de pagar aos lavradores da pequena bacia a água dos seus terrenos, adquirindo o direito consuetudinário do uso do solo e da água para a pastorícia para afectar esses recursos ao abastecimento de água. É caso para pensar que, se houvesse utilização da Lagoa do Capitão, atrás referida, para o abastecimento de água do município, certamente os lavradores seriam compensados e o ordenamento da bacia estaria resolvido, como parece estar a acontecer na Lagoa do Caiado. No entanto, ao contrário do que muitos pensam, o direito à água era inicialmente dos lavradores e não do Estado tendo sido adquirido pelo município através da aquisição dos terrenos.
A Lagoa do Paúl estava enevoada, mas foi possível verificar que a régua de medida da profundidade estava no zero no pino do Inverno indicando que a lagoa já não é capaz de reter a água que retinha num passado recente. Além disso o equipamento que media o nível estava com o cronómetro ligado mas não tinha tinta. Ao lado havia uma ordenha em tempos subsidiada mas agora abandonada e degradada. E pelo caminho apareciam umas reses com frio que vinham ao sinal do nosso carro de que algum alimento externo estaria para chegar. Aliás a estrada estava cheia de caules de milho. Deu tempo para ir à Lagoa do Peixinho e da Rosada mas agora não há espaço para falar delas.
(Prof. Tomaz Dentinho In A União)
Etiquetas: agricultura, Gestão e Conservação da Natureza, Lagoas, Ordenamento, recursos hídricos, Sustentabilidade, Tomaz Dentinho
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