quinta-feira, janeiro 17, 2008

Térmitas desvalorizam parque habitacional

A ciência avisa que o valor do parque habitacional açoriano infestado com térmitas pode entrar em colapso nas ilhas açorianas. A proibição de venda de casas “sujas” deve ser encarada.
A desvalorização do parque imobiliário nos principais centros urbanos dos Açores é uma das principais consequências previsíveis do alegado descontrolo no combate às térmitas nas ilhas. Segundo o cientista Paulo Borges, do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores - perito em insectos e principal conhecedor do fenómeno das térmitas nos Açores -, se a situação continuar como se encontra, a crise imobiliária é inevitável. A coordenação entre os vários sectores envolvidos no problema (Governo Regional, câmaras, empresas, população, investigação) é inexistente. Além disso não há legislação para resolver o problema dos resíduos sólidos (madeiras contaminadas). A própria lei de apoio aos proprietários que queiram substituir madeiras infectadas é considerada pelo cientista como “insuficiente”. Paulo Borges adianta que é necessário tomar uma medida urgente, copiada do modelo em vigor em França, no sentido de ser proibida a venda de casas infestadas com térmitas. “Dada a dimensão que se conhece do mercado imobiliário, só isso poderia ser um contributo importante para controlar a praga”, disse.

Síndrome do escaravelho

Paulo Borges está convencido que o Governo Regional está a encarar as térmitas afectado pela síndrome do escaravelho. Entende o cientista que no caso do escaravelho japonês, praga introduzida na Terceira através da Base das Lajes, acabou por se provar que os pastos existentes são suficientes para as vacas e para os escaravelhos, pelo que o que poderia ser uma praga acabou por não ser um problema grave. Como deixou as coisas andar e não se deu mal, o Governo parece agora apostar no mesmo comportamento do caso das térmitas. Só que, avisa Paulo Borges, a situação é muito diferente, uma vez que as térmitas são “altamente destruidoras”. Neste momento a região não tem quadros técnicos formados no combate às térmitas, não havendo - o que é pior ainda - um plano regional com coordenação efectiva.

O que há de bom

Mas nem tudo está mal no reino das térmitas. Segundo Paulo Borges, é possível arrolar passos positivos já dados em diversos sectores. Desde logo, destaca o esforço das pessoas individuais no tratamento das habitações afectadas pela praga. Há também o mundo empresarial, que já respondeu com duas empresas vocacionadas para o combate às térmitas. Também já estão colocadas armadilhas para captura de adultos em edifícios públicos e privados. Outro facto positivo é a acumulação de conhecimento científico, apoiado pela região, sobre as térmitas desde 2002, quando o fenómeno das foi descoberto nos Açores. A criação de legislação, embora com lacunas, é apontada por Paulo Borges como outro facto positivo. Angra do Heroísmo está infestada de térmitas a mais de 50 por cento, prevendo-se que sejam idênticos os números em Ponta Delgada. Na Horta há várias casas infestadas e em Santa Maria já há duas freguesias com térmitas.S egundo Paulo Borges, com o actual nível de descontrolo, o mais provável é a praga alastras pelas ilhas.


(In Diário Insular)

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