sexta-feira, janeiro 25, 2008

Gestão Integrada da Água

Gestão Integrada da Água: uma condição para a segurança do homem. É este o tema da reunião onde estive que decorreu em Marrocos. A última de uma série delas que ocorreram ao longo dos últimos quatro anos de seis em seis meses: Antuérpia na Bélgica, Varska na Letónia, Génova na Itália, Antalya na Turquia, Arrábida perto de Lisboa, Goniaz na Polónia e, agora, Marrakech. Desta vez com um grupo importante de convidados que constam entre os melhores cientistas do mundo em gestão integrada da água. São trinta e sete pessoas de vinte e quatro países: Egipto, Azerbeijão, Jordânia, Geórgia, Marrocos, Letónia, Turquia, Bulgária, Polónia, Bélgica, Holanda, França, Espanha, Portugal, Grécia, Alemanha, ... São nomes destes sítios mas são sobretudo nome de pessoas que vamos conhecendo há alguns anos. Nomes que também estão ligados a disciplinas como hidrologia, ecologia, engenharia, geografia e economia. A questão colocada por Patrick Meire, coordenador do projecto, é de relacionar a ciência com a gestão, a gestão com a política, a política com a sociedade e cada uma destas funções com todas as outras. Ao fim e ao cabo trata-se de relacionar a ciência com a sociedade sabendo que, para o fazer, é necessário passar pelos gestores do território e pelos políticos. Há locais privilegiados onde esta interacção é mais visível: nos indicadores ambientais, económicos e de saúde pública que vão sendo revelados através da comunicação social; pelas funções que relacionam essas variáveis entre si e que vão sendo percebidas pelo público e pelos técnicos; pela participação pública muitas vezes protagonizada pelas organizações não governamentais; e pelos problemas transfronteiriços que anunciam conflitos e prenunciam acordos e compensações. E depois há casos extremos que os jornalistas gostam de anunciar com imagens na comunicação social: o desaparecimento de glaciares dos Alpes, o bilião de pessoas que tem falta de água potável, os dois biliões de pessoas que têm falta de saneamento, o maior rio da China completamente seco devido às intervenções humanas, e por aí fora. O que está em causa agora é escrever um segundo livro sobre aquilo que fomos adquirindo ao longo destes anos. No primeiro contribuímos com um trabalho sobre as Sete Cidades na ilha de São Miguel e outros sobre a ilha Terceira no Arquipélago dos Açores. No que há-de vir pretendem de nós que consigamos escrever um capítulo sobre economia da água dando vários exemplos dos estudos de caso que fomos ouvindo. Os problemas fronteiriço do lago Peipsi, entre a Estónia e a Rússia; o Rio Guadiana, o Rio Danúbio, o Rio Esquelda e por aí fora. Pelo meio talvez consigamos introduzir a problemática das lagoas da ilha do Pico que são como modelos pedagógicos de gestões alternativas de bacias hidrográficas. O que me dá especial gozo é a possibilidade de relacionar a pequena – grande dimensão dos nossos cérebros com a enorme variabilidade dimensional entre a Lagoa do Caiado no Pico e a Terra como um todo. A verdade é que as concepções científicas são adaptáveis a uma escala e à outra. Também é verdade que as preocupações políticas de cada um de nós tanto se associam à escala pequena como à escala planetária. O que dificilmente se aplica a ambas as escalas são as decisões não só pela incapacidade de implementar acções mas também pela incerteza dos impactos e dos efeitos. Sobretudo pela culpa colectiva face aos enormes erros feitos no passado mais ou menos recentes. Os polders da Holanda e da Roménia estão a ser de novo inundados porque é necessário difundir a energia das inundações e recuperar outros bens e serviços providos pelo ambiente. As barragens nos Estados Unidos estão a ser colocadas em causa e até dinamitadas pois há mais vantagens na sua destruição do que na sua manutenção. Como nos diz Les Lavkulich do Canadá há espaços e tempos da Terra onde os problemas ligados à água são ou serão tão graves que a questão está entre inovar ou desesperar.

(Prof. Tomaz Dentinho In A União)

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