segunda-feira, janeiro 28, 2008

O Problema das rações em excesso

O investigador do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores, João Batista, entende que a utilização de rações deve ser mais moderada e utilizar-se outros factores naturais, designadamente, a erva. "Os Açores têm óptimas condições para que a alimentação das vacas tenha como base, a erva", refere. A utilização de energia fóssil no sistema de produção de leite nos Açores foi objecto de um estudo científico, elaborado por João Batista e pela investigadora Edite Batista, do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores. Segundo João Batista, professor de "Sistemas de Agricultura" no Departamento de Ciências Agrárias, o estudo agora apresentado, consistiu em descrever a eficiência de utilização de energia fóssil num conjunto de 10 explorações localizadas na ilha Terceira, num período de 5 anos (1998-2002), em termos de rácio entre o total de energia fóssil que entra na exploração de modo directo ou indirecto e a energia contida no leite produzido. Em termos de conclusões, os resultados apontam para um valor de 3 para 1, isto é, por cada três unidades de energia fornecidas ao sistema é produzida uma. João Batista, em declarações ao Diário dos Açores, explica que embora em termos económicos os resultados tenham sido favoráveis para as explorações analisadas, verifica-se uma utilização "desmesurada" de alguns factores de produção, nomeadamente o de rações (64,5 % da energia entrada no sistema). O investigador entende que o actual sistema está demasiado "dependente de factores externos, cuja produção está directa ou indirectamente associada à utilização de produtos petrolíferos, o que, face ao aumento crescente do seu custo, conduz à necessidade de repensar o sistema, tornando-o mais eficiente e aproveitando ao máximo o potencial natural das ilhas, nomeadamente os solos e o clima". As explorações que foram analisadas, quando comparadas com outros sistemas de produção internacional, assumem um "carácter muito intensivo e demasiado dependente da energia fóssil". A energia fóssil é consumida de forma indirecta nas explorações agrícolas, designadamente, no fabrico das rações, adubos e pesticidas, em que esta energia está incorporada em cerca de 70%. "Porque para se produzir milho é necessário energia fóssil e as rações são feitas à base de milho. Então as rações acabam por ser um factor limitativo na produção de leite", ressalva. Para João Batista, o problema não reside na utilização de rações nas explorações, mas sim com a forma como está a ser utilizada. "A utilização de rações deve ser mais moderada e utilizar-se outros factores naturais, designadamente a erva, acrescentando que "os Açores têm óptimas condições para que a alimentação das vacas tenha como base a erva". Em termos de eficiência de utilização de energia, João Batista conclui que esta utilização excessiva "não é eficiente, porque pode deixar de o ser, bastando que o petróleo suba muito, como se tem verificado actualmente ou que o preço do milho para a produção de bio- combustíveis suba muito e aí as rações vão tornar-se mais caras e colocar em causa a eficiência deste sistema", concluindo que preço do leite será afectado pela negativa. De acordo com João Batista, esta linha de investigação do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores está associada a um projecto comum às universidades de Tuscia (Itália) e Wageningen (Holanda), realizando-se em Angra, no próximo dia 25 de Junho, um workshop, onde se discutirá a sustentabilidade energética da produção de leite em diferentes regiões dos três países, procurando simultaneamente alargar a análise da sustentabilidade a outros indicadores, como sejam os económicos, os técnicos e os ambientais (nutrição animal, maneio, solos, fertilizantes, entomofauna do solo, qualidade das águas, etc).

(In Diário dos Açores).

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