domingo, janeiro 27, 2008

Ideias sobre a água e a água no Mundo

Como vos tenho dito estou em Marrakech num encontro patrocinado pela NATO sobre Gestão Integrada da Água. Tem havido comunicações excelentes e sobretudo testemunhos e ideias estupendas para tratar um dos problemas mais velhos que o homem enfrenta: a gestão da água. De França reportam o número de planos de bacias hidrográficas que estão em fase de implementação e a forma como o fazem, solicitando apoio financeiro para os projectos e acções que estão previstos ou enquadrados por esses planos; um país com dinheiro é assim que pode fazer. De Inglaterra dizem-nos que não estão previstos apoios externos para pagar aos lavradores para deixarem de poluir pois existe o princípio do poluidor-pagador e qualquer pagamento seria injusto. Em Portugal avançamos alegremente com grandes barragens que tapam os problemas e as potencialidades, centralizam a gestão e permitem a negociação com Espanha. Em Espanha a água corre dentro de tubos e reservatórios e é assim que os nossos irmãos estão representados apenas por engenheiros hidráulicos. Os Alemães tapam os problemas com planos magníficos, bem interligados e com mapas animados que, para os decisores, substituem a realidade. Depois existem cheias e outras desgraças mas a solução é incorporar esses factores nos modelos anteriores para que tudo fique mesmo organizado, até as cheias. Os Italianos chegam atrasados e estão interessados com tudo o que diga respeito a processos de decisão; a informação é a que existe mas é na decisão que as coisas ganham importância. Os polacos são muito bons e vêm com toda a infantaria: um foi consultor no World Bank, outro será consultor do World Bank, e um terceiro tem vários artigos publicados na prestigiada revista Science. O Gregos fazem filosofia mas dizem a verdade. Os Turcos são assediados por ingleses na possibilidade de resolver um qualquer problema que precise ser abordado em inglês. E os WASPs - sejam eles da África do Sul, da Flórida ou do Canada – supervisionam tudo na sua postura british que subentende valores e soluções. Quem comanda tudo isto são os Flamengos da Flandres e da Holanda, pois é perto deles que se encontram as sedes da NATO e da União Europeia. Há ainda búlgaros simpáticos; romenos aculturados; lituanos tímidos; egípcios, azeris e jordanos calados; e marroquinos hospitaleiros. Sintomaticamente as ideias e os ideais são diferentes conforme a situação de cada país ou região. Os Jordanos não têm problemas de se ligarem aos israelitas e palestinianos para fazerem um tubo com água do Mar Vermelho para o Mar Morto, oferecendo água dessalinizada a Jerusalém e a Amman, e permitindo a recuperação do Mar Morto que, devido à retirada de 80% da água do Jordão, reduziu a superfície em 33% e corre o risco de desaparecer dentro de 50 anos. Os Sul-africanos, que durante décadas estimularam a emigração dos africanos para trabalhar em Joanesburgo impedindo-lhes também o acesso à água atribuída aos agricultores brancos, estabeleceram, há pouco tempo, o princípio de um mínimo de água para todos orientando os recursos aquíferos para as grandes cidades centrais e deixando um pouco para o ambiente. Os problemas ficaram com aqueles que nas zonas rurais continuam a não ter acesso à água porque há direitos e eficiências adquiridas pelos agricultores brancos. Um novo Zimbabué não é improvável. Os americanos estão um pouco à beira do colapso ambiental em várias zonas daquele extenso país. O Rio Apalachecoma nasce nos Apalaches passa por Atlanta, Albany e Columbus e desagua no Golfo do México na Florida. Existem direitos riparianos e cada Estado pode utilizar a água sem prejudicar os que estão a jusante. No entanto os benefícios e prejuízos evoluem no tempo e criam efeitos cumulativos. O resultado é que Atlanta está em sério risco de ficar sem água.
(Prof. Tomaz Dentinho In A União)

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