As duas substâncias que vão ser utilizadas no combate ao escaravelho japonês (Popillia japonica Newman), no âmbito da Rede de Vigilância que agora foi estendida às nove ilhas dos Açores, estão a suscitar dúvidas. Em causa está a utilização de imidaclopride e deltrametrina nas silvas e expontâneas que rodeiam as pastagens.
De acordo com o Professor do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores, Félix Rodrigues, a deltrametrina é relativamente inofensiva, mas gera habituação na espécie, o que exige doses de insecticida cada vez maiores. "É sabido que a aplicação de um produto químico no combate a uma praga provoca a sua habituação e adaptação, sendo necessário para a sua erradicação, doses cada vez mais elevadas da substância insecticida, daí que a aplicação de deltrametrina ou imidaclopride ao combate ao escaravelho japonês, não foge a esta regra", avança, salientando que o recurso a esta substância deverá ser "o último recurso".
A habituação provocada pela substância activa deltrametrina já foi verificada no terreno. "A utilização da deltrametrina durante vários anos no Panamá, para combater os mosquitos, criou-lhes resistências fazendo com que as autoridades desse país tivessem que recorrer a insecticidas fosfatados, ambientalmente mais prejudiciais do que o anterior, para obter os mesmos efeitos" alerta o docento do Departamento de Ciências Agrárias.
Em relação aos efeitos prejudiciais que podem ser provocados, Félix Rodrigues avança que a "deltrametrina mata os insectos por contacto directo ou por ingestão. É um composto pouco volátil e muito resistente à degradação térmica e à fotólise (decomposição pela luz), sendo aplicado em solos por praticamente não se deslocar nas fases gasosas e aquosas. Quando aplicado no solo, os resíduos são baixos, permanecendo essencialmente nos primeiros 2,5 cm de solo. As pessoas que possam ser contaminadas por essa substância podem sentir dores de cabeça e tremores, outros efeitos não estão convenientemente estudados."
Já quanto à segunda substância, que será utilizada na Região para o combate ao escaravelho japonês, Félix Rodrigues caracteriza-a como "um insecticida neurotóxico potente, permitido na Europa".
A aplicação de imidaclopride "está quase sempre sujeita a polémica, pelo facto dos ambientalistas, especialmente os franceses, advogarem que é extremamente tóxico para as abelhas. No entanto não existem provas sobre o impacto da imidaclopride nas abelhas porque as provas científicas actualmente disponíveis não são conclusivas, revela o Professor Félix Rodrigues.
De acordo com Aida Medeiros, da Direcção de Serviços da Agricultura e Pecuária, as duas substâncias activas são de "uso comum" em floricultura e horticultura, sendo recomendadas em protecção integrada.
Segundo Aida Medeiros, não se tratam de insecticidas agressivos. "Cada vez mais os produtos utilizados tendem a ser de baixo risco, até por limitação legal. Estas são substâncias de utilização usual, que surtem efeitos em vários tipos de praga, não só no escaravelho japonês".
Aida Medeiros avança que o objectivo principal no combate ao escaravelho japonês é a erradicação, mas que esta meta não será realista nesta primeira fase. "O mais importante é detectar e controlar a praga. O principal é evitar que o problema avance", explica.
Na opinião da Professora do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores, Ana Maria Simões, autora de uma tese de Doutoramento em endoparasitoídes, as frentes de luta devem passar tanto por medidas biológicas, como culturais, devendo a luta química representar a "última opção".
Já o Professor David Horta Lopes, também do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores, defende que a utilização de químicos para a erradicação de focos de escaravelho japonês pode ser indicada, por ser eficaz, mas o grau de risco das substâncias deve ser tido em conta.
A luta química contra o escaravelho japonês já despertou polémica no passado. Na década de 90 foi utilizado o carbaril, que, segundo Félix Rodrigues, "é um produto químico que persiste no ambiente e que se provou ser cancarígeno".
"Essa substância era pulverizada através de máquinas das do tipo de sulfatar ou de helicóptero, afectando a qualidade do ar e infiltrando-se no solo".
Ainda segundo Félix Rodrigues, "a nível internacional já se provou que o carbaril é tóxico para os humanos e que, em doses excessivas, pode provocar a morte de pessoas e animais. Este químico provoca ainda a instabilidade ambiental, pois, para além de matar o escaravelho japonês, erradica também todo o conjunto de insectos benéficos. Além disso, é tóxico para as abelhas, intoxicando o mel" concluiu Félix Rodrigues.
(In Diário Insular)
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