Os ciclos naturais são a música da Natureza
Integrada no Festival Transatlântico de Música Alternativa que decorreu nos dias 11 e 12 de Agosto na ilha de São Jorge, foi proferida uma conferência sobre Alterações Climáticas Globais pelo Professor do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores, Félix Rodrigues.
"Contribuir para a dinamização cultural e a promoção turística da região, bem como incentivar a consciência ambiental e de cidadania, foram, desde o início, os princípios norteadores do projecto". Os promotores querem desenvolver uma “proposta inovadora” que reúna dois diferentes estilos musicais: o electro e o rock. “Seleccionaram um line up recheado de bandas actuais como cabeças de cartaz, adicionaram-lhe uma pequena lista de bandas conceituadas oriundas das várias ilhas do arquipélago. Utilizando o mesmo critério de qualidade, o line up foi também constituído por D.J.’s top do panorama musical nacional”. Com o intuito de acompanhar a tendência global na realização deste tipo de eventos, e de garantir a sua dinamização cultural, foram realizadas actividades paralelas, para além da música, tais como desportos radicais, conferências, performances, artes circenses, espectáculos multimédia, terapêuticas alternativas, entre outros.
Na conferência que proferiu no âmbito desse evento, Félix Rodrigues referiu existirem semelhanças entre a música e as problemáticas das Alterações Climáticas Globais. A fronteira entre a música e o ruído é muito ténuo, dependendo do estado de espírito, do timing da audição e do background cultural do ouvinte. Até a música clássica está sujeita a essa dicotomia som-ruído. A música clássica será ruído se não for uma opção ou se for ouvida através das paredes da casa do vizinho a horas despropositadas. Do mesmo modo, o rock só é música para quem o aprecia e estiver disposto a ouvi-lo num determinado contexto ou ambiente.
Qualquer tipo de música tem ritmo, periodicidades, sons mais graves e sons mais agudos. Assim são os ritmos da natureza: a sucessão dos dias e das noites, a sucessão das estações do ano, os períodos de sol e de chuva ou as marés. Essas periodicidades são música natural, o ruído surge porque os ritmos são alterados, produzindo-se num tempo inadequado que não estamos preparados para os ouvir ou observar. Por outro lado, podem ser semelhantes aos sons estridentes: porque se intensificaram ou porque desafinaram drásticamente nos ciclos naturais.
Nas alterações climáticas globais há desafinos de interpretação relativamente às suas origens: se natural se antropogénicas, se associadas à emissão de dióxido de carbono e outros gases de estufa, se associadas ao ciclo solar de 11 anos, ou então, a outros ciclos naturais mais longos.
Este mês foi publicado um artigo de investigadores americanos que estudaram a relação entre o aquecimento do planeta terra e o ciclo solar. Concluíram que há ligação, mas essa ligação só explica metade do aumento de temperatura observada no nosso planeta nos últimos 50 anos. Os autores afirmam então que o aquecimento global real observado não é justificado na integra pelo ciclo solar, mas pela libertação de gases com efeitos de estufa.
Outro desafino prende-se com a não adesão ao Protocolo de Quioto de Países como os Estados Unidos da América ou a Austrália, porque afirmam que pouco se pode fazer para contrariar a tendência actual, sendo preferível apostar em medidas de mitigação. Acreditam na capacidade tecnológica da humanidade para encontrar soluções para os problemas críticos como o aumento do número de ciclones, cheias, incêndios, doenças respiratórias, perda de biodiversidade, subida do nível médio da água do mar, entre outros, a nível local, tendo dificuldade em acreditar que a a humanidade tenha capacidade para cumprir um propósito comum que passa pela contribuição individual, resolvendo assim um problema global.
A distinção entre informação e ruído, proveniente de um som, é conseguida pela capacidade de análise dos interlucotores. Continuando com esta analogia, a distinção entre informação e ruído nas alterações climáticas globais também se faz com a formação, análise e investigação. Analisa-se aquilo que nos rodeia, investiga-se como se alteram os fenómenos, se com ritmo se com intensidade, se com clareza se com ambiguidade e informamo-nos das diferentes perspectivas de análise.
Os sinais das alterações climáticas existem e são inequívocos para alguns e incompreensíveis para outros. A diferença está na capacidade de análise e informação de uns e outros.
Sem dúvida que o mar subirá nesta ou na próxima geração.
Sem dúvida que os combustíveis fósseis terminarão, nesta ou na próxima geração.
Sem dúvida que a economia se alterará, nesta ou na próxima geração.
Sem dúvida que o mundo mudará, nesta ou na próxima geração.
Se as duas primeiras premissas são negativas, cabe-nos fazer o esforço para que as duas últimas sejam positivas.
O Novo Mundo não aceitará demissionários, não aceitará inactivos, não aceitará descomprometidos com esta outra causa. O novo mundo não se compadecerá dos irracionais e a prova é que já começou a extinguir a biodiversidade.
E o homem, onde se posiciona?
São Francisco de Assis dizia que "Todos os seres são feitos de pó de estrelas" , aí também entra o homem.
(In Diário Insular)
Etiquetas: Alterações climáticas globais, ciclos naturais, Ciência, Palestras
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