terça-feira, julho 31, 2007

Uma Universidade na Ultra-Periferia

«Importa um empenhamento político de todos os partidos e órgãos de governo próprio no que há de ser o novo regime financeiro das universidades portuguesas», afirmou o vice-presidente do grupo parlamentar do PSD/Açores, José Bolieiro, após uma encontro com o Sindicato Nacional do Ensino Superior.
Sublinhando que a tripolaridade da academia açoriana é uma virtude da unidade dos Açores, José Bolieiro adiantou que a reconfiguração da UAç deve assegurar a valorização das competências instaladas e continuar a apostar na qualificação dos recursos humanos.
«A UAç é fundamental para o desenvolvimento dos Açores, qualificação dos seus recursos humanos e monitorização do estado social e económico da região«, afirmou o deputado social-democrata, acrescentando que PSD/A está »disponível, se necessário for«, para tomar iniciativas de âmbito político e legislativo ao nível regional e nacional em defensa da revalorização da Universidade dos Açores.
José Bolieiro defendeu, ainda, que a UAç deve investir na competitividade, para conseguir captar o interesse de mais alunos, e apostar na excelência da investigação produzida nos Açores, como forma de ganhar visibilidade nacional e internacional.
A Universidade dos Açores tem cerca de três mil alunos e está dividida por três das nove ilhas do arquipélago (São Miguel, Terceira e Faial).


Na audiência com o grupo parlamentar do PSD/Açores, em Ponta Delgada, o representante regional do Sindicato Nacional do Ensino Superior deu a conhecer um conjunto de preocupações, já manifestadas ao Governo Regional e vários Partidos Políticos com e sem acento parlamentar.
O desinvestimento nas universidades portuguesas e as consequentes dificuldades financeiras, o aumento de responsabilidade das instituições de ensino superior com a aplicação do Tratado de Bolonha e os constrangimentos da carreira docente são alguns dos pontos destacados por Álvaro Borralho.
«Dos cerca de 200 professores da UAç mas de 50 por cento estão em situação precária», afirmou Álvaro Borralho, que aguarda «feed back»do pedido de audiência com o CDS/PP, PCP e PDA.

(In Diário Digital)

Etnobotânica

Menosprezada pelos vários corpos de conhecimento, a importância da medicina popular veio a ser reconhecida, em Maio de 1978, através da resolução da Assembleia Geral da Organização Mundial de Saúde que deu início a um programa mundial com o fim de avaliar e utilizar os métodos da medicina popular.
Criar um corpo de conhecimentos na área da Etnobotânica não deve ser entendido como um registo apenas dos conhecimentos tradicionais relacionados com o uso das plantas, mas como uma tentativa de desenvolvimento de uma sociedade pela valorização do conhecimento empírico secular das populações de um determinado local. De forma mais simplificada, pode dizer-se que a Etnobotânica estuda todas as interacções entre o Homem e as Plantas, assim como, o estudo das suas aplicações e usos tradicionais.
Trata-se de uma ciência multi-disciplinar que envolve conhecimentos de áreas tão vastas do saber como a Botânica, a Antropologia, a Farmacologia, a Medicina, a Engenharia, entre outras. A Botânica reconhece e identifica as diversas espécies de plantas usadas pela comunidade humana em estudo. A Antropologia dedica-se ao estudo da origem, estrutura social e étnica dessa comunidade, elaborando questionários que são aplicados às populações com vista a recolher informação desta natureza que corre riscos de se perder. É a partir desta interacção que se constrói o conhecimento, não só da utilidade tradicional das plantas em foco, como da estrutura social à qual está associada. A Farmacologia pesquisa a existência das propriedades medicinais ou princípios activos presentes nessas plantas, por sua vez, a Medicina averigua o efeito fisiológico desses princípios na saúde humana, abrindo também caminho à investigação científica num campo vastíssimo e com enorme potencial como a indústria farmacêutica.
A primeira tese de Mestrado sobre Etnobotânica do País foi realizada pela Mestre Ana Vilela na ilha de São Jorge, a segunda pelo Mestre Marco Botelho, na ilha de São Miguel e a terceira, em fase de conclusão, será realizada pela Drª Cristina Mendonça, na ilha Terceira, todos da Universidade dos Açores.

A importância das plantas para o ser humano é incontestável. Segundo a Professora Maria de los Angeles Mendiola da Universidad Politécnica de Madrid, que tem orientado essas teses conjuntamente com o Prof. Félix Rodrigues, das cerca de 1.500.000 espécies biológicas que se conhecem, 350.000 são espécies vegetais, das quais 250.000 são plantas superiores e destas, cerca de 50% tem utilidade para o Homem. Da flora mundial, 20.000 a 50.000 são consideradas plantas com interesse agro-alimentar, conhecendo-se 200 culturas alimentares importantes, sendo 100 comercializadas a nível internacional, destas, 20 constituem 80% da base da alimentação mundial e, por sua vez, 10 destas culturas correspondem a 66% da alimentação humana a nível global, destacando-se três culturas (trigo, arroz e milho) que são 41.5% do sustento no nosso planeta. Os principais usos humanos dados às plantas podem agrupar-se em:
-Alimentar e culinário;
-Apícola (inclui material de construção de colmeias);
-Aromático;
-Doméstico (construção e combustível);
-Industrial (curtumes, tecidos, tinturaria, etc.);
-Lúdico;
-Medicinal;
-Religioso/ritual;
-Tecnológico (ferramentas, utensílios, cestaria, carpintaria, etc.);
Nas duas teses já concluídas foram identificadas mais de 100 plantas com interesse medicinal na ilha de São Miguel e mais de trinta plantas com interesse alimentar específico e no artesanato local, em São Jorge.

Muitas das aplicações dadas no arquipélago também se verificam em Portugal Continental e na América do Sul. Acredita-se que tal facto resulte de uma aquisição de conhecimentos ancestral que remonta a época do povoamento das ilhas e ao período dos descobrimentos.
Verificou-se nessas teses que o conhecimento empírico das propriedades das plantas, que se foi acumulando durante milhares de anos será hoje, só uma ínfima parte do que foi sendo conhecido, pois com os progressos civilizacionais e caminhando-se para uma civilização essencialmente urbana, muito desse saber, que era apenas oral, está-se a perder. Assim, a Etnobotânica permite a recolha dos hábitos e costumes que tradicionalmente eram dados às plantas, em especial, nos meios rurais, cada vez mais ameaçados pela massificação da cultura predominante, daí fazer todo o sentido preservar o que é nosso e diferente num mundo cada vez mais igual.
Concluiu-se também dessas teses que, para a generalidade dos tratamentos utilizados, pela população jorgense e micaelense na saúde, existe suporte científico que valida o saber conferido a determinadas plantas quase desde o início da História da humanidade, no entanto aparecem algumas aplicações específicas nas ilhas que terão que ser melhor estudadas para que se possam validar e recomendar o seu uso. É preciso conhecer o grau de toxicidade de cada planta utilizada bem como as suas doses e regras de segurança para que a sua aplicação terapêutica seja promovida. As doses são de facto fundamentais, bem a parte da planta utilizada.
As espécies referidas nestes estudos distribuem-se desde simples pteridófitas até às angiospérmicas mais desenvolvidas na escala evolutiva, fazendo parte de uma infindável lista de famílias, sendo as mais comuns pertencentes às Laminaceae e Rosaceae. Para muitas o seu fim medicinal cruza-se com o uso culinário e mágico. Este último aspecto não é facilmente recolhido porque os detentores desse conhecimento têm alguma dificuldade em falar sobre ele.
Nos estudos realizados também ficou claro que o não uso de uma planta, especialmente agrícola, pode levar à sua extinção sendo também válido o inverso, para plantas raras ou em vias de extinção.

(In A União)

segunda-feira, julho 30, 2007

Protecção de sistemas hidrológicos

Francisco Cota Rodrigues, professor do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores defende que a qualidade da água captada para consumo humano nos Açores depende da protecção dos sistemas hidrológicos.

Diário Insular (DI)-Os açorianos, e em particular os terceirenses, podem ou não confiar na qualidade da água que bebem?

Francisco Cota Rodrigues (CR)- A qualidade das águas para consumo humano nos Açores é diversificada. Essa diferenciação deve-se, por um lado, à elevada vulnerabilidade dos sistemas aquíferos captados, quando a água é subterrânea, e, por outro, a deficiências nos sistemas de captação, tratamento e distribuição. No caso específico da ilha Terceira, em ambos os concelhos, a água apresenta boa qualidade, conforme foi recentemente divulgado pelo Instituto Regulador de Aguas e Resíduos (IRAR). Existem, contudo, algumas situações a resolver, associadas à inexistência de áreas de protecção de nascentes e aquíferos, a fenómenos de intrusão de água do mar e às características geoquímicas dos terrenos.

DI-Como estamos ao nível de reservas de água?

CR-As reservas subterrâneas de água nos Açores estão associadas a aquíferos suspensos e de base. Os aquíferos suspensos têm, na generalidade dos casos, capacidades de armazenamento baixas, sendo a água de melhor qualidade. O aquífero de base, não obstante apresentar grandes volumes de água doce, apresenta problemas de exploração devido a fenómenos de intrusão marinha. A maior parte da água actualmente captada na Terceira provém de aquíferos suspensos, os quais são extremamente susceptíveis a variações na distribuição da precipitação. Se as previsíveis alterações climáticas implicarem períodos longos sem precipitação, teremos reduções de caudal nestes sistemas, o que implicará, necessariamente, uma exploração cada vez maior do aquífero de base, deteriorando-se qualidade da água devido à intrusão marinha.

DI-Efectuaram-se recentemente trabalhos de prospecção de energia geotérmica na ilha Terceira. Essas perfurações poderão afectar a qualidade dos recursos hídricos subterrâneos?

CR- Qualquer perfuração profunda pode interceptar sistemas aquíferos e, consequentemente, ter implicações nos recursos hídricos subterrâneos. Pelo conhecimento que tenho não houve impactos negativos no meio hídrico subterrâneo directamente relacionados com as perfurações que refere, uma vez que a entidade que as realizou tomou uma série de medidas cautelares que se revelaram eficazes.

DI-Quais são, actualmente, os maiores desafios que se colocam à gestão sustentável dos nossos recursos hídricos?

CR-O maior desafio que hoje se põe ao nível do abastecimento de água nos Açores prende-se com a gestão integrada dos recursos em cada ilha, dando-se especial atenção à protecção dos sistemas hidrológicos insulares, a qual deverá ser conjugada com uma aposta cada vez maior na formação e inovação.

domingo, julho 29, 2007

Açores não são competitivos no mercado da carne

"Os Açores não são competitivos no mercado da carne", quem o afirma é Graça Silveira Professora do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores.

Diário Insular (DI)-Num cenário em que as barreiras alfandegárias à carne sejam reduzidas ou desapareçam, os Açores têm alguma capacidade competitiva?

Graça Silveira (GS)-Mesmo num contexto em que desapareçam as barreiras alfandegárias, existem outros condicionalismos à comercialização das carnes, nomeadamente, a existência de sistemas de identificação e registo dos animais, que são um garante da qualidade higieno-sanitária. A capacidade competitiva dos Açores no mercado da carne, no cenário actual, é inexistente, até porque a carne continua ainda a ser um subproduto do leite.

DI-O Japão colocou no mercado carne de boi escovado diariamente com cerveja. Haverá condições nos Açores para criar um produto tão diferenciado quanto o boi nipónico?

GS-A raça japonesa wagyu, que dá origem ao bife de Kobe, é criada com uma dieta regada a cerveja, massagens e sessões de música clássica com o objectivo de relaxar os animais, condições que estão naturalmente criadas nos Açores. Não tenho dúvida de que os Açores têm condições para produzir um produto diferenciado, valorizado por nichos de mercado como o que referiu, mas para isso temos ainda um longo percurso a percorrer, começando pela introdução de raças mais precoces, rústicas e com boa apetência para pastoreio.

DI-A carne IGP já é um primeiro passo nesta caminhada. Há quem continue a afirmar que é preferível continuar a exportar gado vivo para o continente. Concorda?

GS-Com a exportação do gado vivo versus abate e desmancha locais, não concordo, pois durante o transporte os animais perdem muito peso e desvalorizam-se muito, além de que qualquer transformação da produção primária é sempre um valor acrescentado. Quanto à reconversão do efectivo leiteiro em raças de corte, tenho dúvidas se será economicamente uma opção.

DI-Acredita numa desregulamentação do mercado mundial da carne?

GS-Não, pelas razões que já apontei anteriormente. Aliás num artigo publicado recentemente no The Scottish Farmer, Roger Taylor afirma que o Brasil durante anos tem vindo a quebrar as regras europeias e que devido a problemas como o da febre aftosa, a carne brasileira não pode continuar a ser comercializada sem restrições. O que acredito é que os grandes produtores de carne da América Latina, mais cedo ou mais tarde, vão acabar por aplicar sistemas de credibilização das suas carnes, como já acontece no Uruguai, em que os animais são criados segundo os critérios da USDA para a produção do “natural beef”.

sábado, julho 28, 2007

Cerimónia de Encerramento dos Cursos de Enfermagem em Angra do Heroísmo

Tratamento de feridas, mediação familiar, gerontologia social e gestão de serviços de saúde serão os quatro cursos de pós-graduação que vão ser disponibilizados pela Escola Superior de Enfermagem de Angra do Heroísmo já em Outubro. A escola entregou ontem os diplomas de curso a 49 novos enfermeiros.
"O encerramento dos cursos de licenciatura e de complemento de formação em enfermagem é, sem dúvida, um momento de enorme satisfação e alegria para esta Escola, e uma data muito especial para todos os enfermeiros que culminam um percurso pessoal e profissional, bem como para as suas famílias e amigos", afirmou o Secretário Regional dos Assuntos Sociais.
Transcreve-se de seguida o discurso desse governante.

"Associar-me a esta cerimónia constitui para mim, enquanto Secretário Regional dos Assuntos Sociais, uma grande honra e prazer, pelo que desejo expressar as minhas sinceras congratulações para todos aqueles que hoje aqui estão, em especial para todos os profissionais de enfermagem que terminam a sua licenciatura e o complemento de formação. Ao longo dos seus cursos, uns e outros, puderam ganhar conhecimentos, partilhar as suas experiências e enriquecer as suas competências, encontrando-se, agora, preparados, estou certo, para enfrentarem novos desafios e uma nova fase das vossas vidas. Quero dirigir uma palavra de apreço e agradecimento à Universidade dos Açores, mormente à Escola Superior de Enfermagem de Angra do Heroísmo pelo convite endereçado, mas, fundamentalmente, pelo esforço, organização e consolidação do seu projecto formativo, de que esta cerimónia é um dos exemplos. Neste momento queria partilhar convosco o empenho que o Governo dos Açores tem vindo a depositar no apoio à formação em enfermagem. Exemplo disso foi a criação de legislação própria para regulamentar a concessão de bolsas para a frequência do Curso de Complemento de Formação em Enfermagem, permitindo, deste modo, que 105 enfermeiros dos serviços de saúde da Região, o fizessem como bolseiros. Ao longo dos últimos anos, e desde o ano lectivo de 1999-2000, esta Escola proporcionou formação complementar a 264 enfermeiros, sendo que no cômputo geral da Região se formaram 615 profissionais. Este é o último curso de complemento de formação em enfermagem, da Região Autónoma dos Açores. Hoje, estão aqui presentes 23 enfermeiros que tiveram a oportunidade de enriquecerem conhecimentos, experiências e adquirirem novas competências. Para além disso, é de louvar as diligências levadas a cabo pelos Conselhos de Administração das unidades de saúde, que tiveram enfermeiros a frequentar o complemento de formação, porque souberam reorganizar os seus recursos humanos, nomeadamente, os de enfermagem, de modo a atribuírem dispensas de serviço para a frequência de aulas dos formandos, mantendo o normal funcionamento e qualidade dos serviços prestados. A formação dos profissionais de enfermagem do Serviço Regional de Saúde vem revelar-se como uma mais valia para a qualidade dos cuidados dirigidos à população da nossa Região. Do mesmo modo, não posso deixar de referir que o terminus da licenciatura de 49 novos profissionais de enfermagem aqui presentes será, indubitavelmente, um óptimo potencial em termos de mais recursos qualificados para o enriquecimento dos nossos serviços de saúde. São estes profissionais que, com as suas perspectivas de cuidar e com a sua juventude contribuirão para um sistema de saúde cada vez mais centrado na pessoa do utente, tal como está preconizado, mas importa alertar que há um longo caminho a seguir para se atingir a satisfação profissional e a excelência do cuidar. Essa caminhada começa hoje. Será a partir de agora que em cada um de vós se formará uma identidade profissional conducente à pertença de um grupo com uma missão própria, com características peculiares de desempenho, que cada vez mais é reconhecido e apreciado pelos utentes e doentes e pela sociedade, no geral. De facto, a formação de profissionais a nível de preparação nos aspectos humano, científico, técnico, cultural, de investigação e de prestação de serviços/cuidados de saúde são, genericamente, os aspectos primordiais com que as Escolas Superiores de Enfermagem têm agraciado os seus alunos. Esta Escola é exemplo disso mesmo, tendo, ao longo dos 30 anos da sua existência permitido que o seu desempenho fosse norteado pelo desenvolvimento da formação em saúde, nos Açores. Como não poderia deixar de referir, o Governo dos Açores conta convosco para o desempenho da vossa missão no Serviço Regional de Saúde, pois tem a certeza de que são bons profissionais e serão ainda melhores amanhã. Resta-me pois, reiterar a todos vós, novos profissionais de enfermagem e enfermeiros que terminam o complemento de formação os votos de um excelente sucesso pessoal e profissional. Aos familiares e amigos dos novos enfermeiros e dos demais, particularmente, aos que vieram até nós, uma palavra de boas-vindas e bem hajam pelo apoio e incentivo que ajudou a concretizar o sonho profissional dos vossos filhos e amigos. Para o corpo docente desta Escola e seus funcionários é o ver concretizado mais um dos muitos objectivos e projectos que abraçaram desde sempre. Parabéns e obrigado em nome do Governo dos Açores. Agradeço uma vez mais o convite para estar hoje aqui presente, e expresso a minha disponibilidade para que todos possamos trabalhar em prol da nossa população.
(In Canal de Notícias dos Açores)

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sexta-feira, julho 27, 2007

Lei das Pescas

Pescar no cais do Porto das Pipas foi, desde sempre, um acto cultural que faz bem ao espírito depois de um dia de trabalho árduo, ou na reforma enquanto forma de entreter o tempo e ensinar aos netos os segredos do encantamento do peixe. E é assim há muitos anos, mesmo quando o porto efervescia de movimento de contentores, de descarga de combustíveis, de granéis, de mercadorias inter-ilhas, ou de passageiros. Era um chega para lá, encosta daqui e os caniços, com mais ou menos espaço, continuavam mergulhados no cais, à espera do chicharrinho, da sardinha, às vezes de uma cavala meio distraída.
"Lei das Pescas é para agradar ao Sindicato dos pescadores" argumenta João Pedro Barreiros, docente do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores.
O Professor João Pedro Barreiros insurge-se contra a proposta de decreto regional que impõe licenças e limites para a pesca lúdica no arquipélago.

Diário Insular (DI) – A proposta de decreto legislativo regional vem impor a obrigação de licenças para os pescadores lúdicos. Estas medidas, para si, fazem sentido?

João Pedro Barreiros (JPB) – Há nesta proposta, de facto, várias questões que me parecem irregulares e inoportunas, havendo coisas mais urgentes para se estudar a sério. É evidente que a grande maioria dos pescadores lúdicos (caça submarina, pesca de barco e pesca de calhau) vai para o mar poucas vezes por ano. E faz isso por distracção e prazer. Aliás, muitas vezes, só o simples facto de estar sentado à beira da água, mesmo sem apanhar nada, é motivo de satisfação. Ou seja, tendo em conta este cenário e as quantidades capturadas, não podemos cair no erro de impor para tudo e mais alguma coisa chatices às pessoas, que acabam por acabar com os divertimentos.

DI – A tutela justifica a proposta, por exemplo, com a existência de venda ilegal de pescado.

JPB – Há prevaricadores em todas as actividades, tal como na pesca lúdica. Pode haver quem venda o que apanhou ilegalmente. Admito essa situação. Mas se isso acontece, existem organismos para fiscalizar esses episódios. Por exemplo, a Inspecção Económica tem a função de ir aos restaurantes e pedir os papéis que justificam a origem do pescado que confeccionam. Agora, isso não justifica que se tome a excepção pelo todo, partindo do princípio que todos são desonestos, que todos vendem peixe ilegalmente, que todos apanham quantidades astronómicas, etc. E isto quando nem se sabe quais as quantidades daí provenientes…

DI – Não existe qualquer estudo que demonstre o real impacto da pesca lúdica nos stocks de peixe existentes no arquipélago?

JPB – Não. Mas é evidente que o impacto causado pela pesca lúdica – incluindo a caça submarina – é perfeitamente ridículo, correspondendo a uma percentagem ínfima, quase desprezível, comparativamente ao impacto da pesca profissional. Por exemplo, o caso da caça submarina na Terceira: existem entre 25 a 30 caçadores submarinos na ilha, com nível competitivo e capazes de a realizar como ela exige (mergulho em apneia, armas de carregamento manual, etc); ora, todos eles juntos não apanham num ano aquilo que um barco de pesca profissional apanha num dia. Aliás, nem apanham um décimo dessa quantidade. E nas restantes vertentes da pesca lúdica, a situação é idêntica. É claro que há sempre o dia de sorte, há sempre o dia da pesca e o dia do pescador, como se diz. Mas é isso mesmo que motiva o pescador lúdico: “será que hoje vou fazer a pescaria da minha vida”. Não podemos acabar com essa alegria, com essa expectativa, só porque supomos que essas capturas põem em causa os stocks existentes.

DI – A fiscalização do cumprimento da legislação pode estar inquinada?

JPB – Claro. Imagine quantos pescadores de calhau estão, num determinado momento, nas costas das ilhas. A Polícia Marítima tem capacidade humana, financeira e material para percorrer toda a costa, andando com balanças a pesar que quantidades cada um capturou? Como se vai controlar e fiscalizar a pesca lúdica com base neste regulamento?...

DI – Na sua opinião, os limites de captura impostos têm fundamento?

JPB – Essas limitações generalizadas em peso e em número não fazem qualquer sentido. Não podemos atribuir um número genérico. Poderá fazer algum sentido para as espécies que já estão estudadas, nomeadamente pela Universidade dos Açores. Por exemplo, dizer que não se pode apanhar mais do que determinada quantidade pargo faz sentido, porque já sabemos que os stocks desta espécie estão num determinado estado. Mas generalizar isso é errado.

DI – Uma das justificações para esta legislação é necessidade de gerir e preservar os stocks existentes. Há base científica para esse argumento?

JPB – Não. Eu acho, sinceramente, que esta legislação é uma forma de tentar agradar os sindicatos dos pescadores profissionais, mas, ao mesmo tempo, enganando-os. A melhor maneira – e já propus isso várias vezes – de se saber, exactamente ou aproximadamente – a quantidade de peixe capturado na pesca lúdica é pedir aos pescadores que, de forma anónima, façam um relatório, anual por exemplo, do que capturam. Dessa forma, teríamos uma ideia aproximada do que foi apanhado. Esse documento seria entregue por cada pessoa voluntariamente no momento em que recolhessem a licença do ano seguinte.

DI – Mas rejeita a existência de licenças para a pesca lúdica?

JPB – Já há uma licença para a caça submarina. Admito que haja também licenças para os outros tipos de pesca lúdica, mas desde que não sejam a preços exagerados. Por exemplo, a licença para a caça submarina, neste momento, custa cerca de 15 euros. Não me parece um valor avultado. Há quem argumente que se a caça submarina paga, as outras também devem pagar. Acima de tudo, o importante é que quem paga a licença compreenda que isso tem algum sentido. Na minha opinião, acho que, neste momento, a licença só faz sentido se as pessoas também contribuírem com dados. Tirar licença para se entregar mais dinheiro à direcção regional das Pescas não faz sentido. Mais uma vez, estamos perante uma situação que podia ter sido bem pensada, e que, no concreto, parece um conjunto de ideias retiradas daqui e dali para satisfazer determinados grupos e, manifestamente, com uma carga politica forte, que em nada tem justificação científica. É isso que é visível nesta proposta, pelo menos nos moldes em que eu a conheço.

DI – Há soluções melhores?

JPB – Acho que tudo isto era dispensável se houvesse uma coisa que eu e outros andamos a dizer há anos: todas as zonas costeiras dos Açores têm hipótese de recuperar, e isso não implica montes de licenças e burocracia sem bases científicas; bastam pequenas reservas, estrategicamente localizadas, em todas as ilhas e com tolerância zero para a pesca. Esse é que era o passo inteligente, ficando todos satisfeitos.

DI – E há algum estudo sobre essa matéria?

JPB – Há sim. Existem várias propostas, existem análises ilha a ilha. No caso da Terceira, por exemplo, já indiquei muitos lugares. Imagine uma reserva junto ao Monte Brasil, associada ao parque arqueológico que já existe. Passado um ano, ao lado dessa reserva de tolerância zero existirá uma grande quantidade de peixe. Essa área, além disso, pode também ser aproveitada para o mergulho contemplativo. Como se vê, esta seria uma solução inteligente.

O Decreto

A proposta de Decreto Legislativo Regional que define o regime jurídico da pesca lúdica (aprovada em Conselho de Governo no final de Novembro do ano passado e agora em análise no parlamento açoriano) impõe a obtenção de uma licença junto da direcção regional das Pescas.O documento consagra ainda a proibição de venda dos espécimes capturados no exercício da pesca lúdica, ao mesmo tempo que estabelece o universo das modalidades de captura de espécies marinhas sem fins comerciais, prevê o leque de artes permitidas e as suas características e esclarece as regras aplicáveis quanto a tamanhos mínimos e períodos de defeso dos organismos vivos passíveis de pesca. O não cumprimento das regras aplicáveis será punido com coimas que poderão ir dos 25 euros aos 3.500 euros ou, no caso de pessoas colectivas, aos 15 mil euros. Estão ainda previstas sanções acessórias que poderão ir da perda das artes e outros equipamentos e utensílios à privação do direito de atribuição de licença. A proposta tem como principal objectivo incluir a pesca lúdica num sistema de gestão coerente com a Política Comum de Pescas da União Europeia, perspectivando a actividade do ponto de vista da defesa do ambiente, da conservação dos recursos e da preservação da natureza, designadamente do património biológico marinho. Surge, segundo o executivo insular, ainda na sequência da aprovação de legislação nacional sobre esta matéria. No Continente, a legislação também impõe o licenciamento da pesca lúdica, podendo uma licença custar entre três e 200 euros, com validade entre um mês e três anos. Por dia, cada pescador não pode capturar mais do que dez quilos de peixe. E numa embarcação com três ou mais tripulantes não podem exceder os 25 quilos. A legislação impõe ainda que os pescadores de calhau têm de estar distanciados, no mínimo, dez metros; e que as embarcações tenham de estar afastadas da costa pelo menos 50 metros. Quer no Continente, quer nos Açores, vários pescadores lúdicos já se manifestaram publicamente contra estes regulamentos.

(In Diário Insular)

quinta-feira, julho 26, 2007

Mestrado em Educação Ambiental e e-learning

O curso de mestrado em Educação Ambiental vai estrear as novas metodologias de ensino do e-learning na Universidade dos Açores. Além das aulas presenciais, a internet e as novas tecnologias da informação vão formar pela primeira vez alunos de São Miguel ao Corvo.
A internet e as novas tecnologias da informação vão ser uma das principais ferramentas do e-learning que o Departamento de Ciências Agrárias (DCA) e o Departamento de Ciências da Educação (DCE) preparam-se para implementar, pela primeira vez, na Universidade dos Açores (UA). O curso de mestrado em Educação Ambiental conta já com 23 inscritos e vai chegar às ilhas do Corvo, São Jorge, Terceira e São Miguel, além de já possuir dois alunos do Brasil. Trata-se da primeira vez, igualmente, que um mestrado é desdobrado simultaneamente em dois pólos, respectivamente o de Angra do Heroísmo e Ponta Delgada. Na prática, os alunos terão ao seu dispor formação e materiais complementares em suporte digital que serão complementados com outras aulas e momentos presenciais. Nestes casos, será necessária a deslocação dos formandos aos dois pólos acima referenciados. A responsável pela segunda edição do mestrado, Ana Moura Arroz, fala no aproveitamento das potencialidades das novas tecnologias ao serviço da insularidade: “o e-learning é uma das mais importantes vias que a Universidade dos Açores tem para transcender a formação entre as ilhas”. A grande procura pelo curso com recurso ao e-learning, conta, faz com a coordenadora acentue as vantagens que a ferramenta traz à instituição universitária e ao aprofundamento do conhecimento na área da educação ambiental, bem como à sustentabilidade das próprias ofertas formativas dos cursos da UA. “O e-learning abre-nos potencialmente a novos públicos”. É por isso que no arranque no curso, em Setembro, o mestrado vai contar com dois alunos oriundos do Brasil, três do Corvo, dois de São Jorge e os restantes da Terceira e São Miguel.
Segundo a coordenadora do mestrado, este primeiro mestrado através de algumas das ferramentas do e-learning enquadra-se num esforço que a UA está a iniciar de implementação de estratégias formativas inovadoras via internet a outros cursos do estabelecimento de ensino universitário. É por isso que refere o intuito da UA em prestar formação aos docentes da casa em e-learning para reforçar o objectivo, também ele já referido pelo Reitor da universidade em ocasiões públicas, de aprofundar estas novas metodologias de ensino. Os novos moldes do mestrado, aponta, faz os responsáveis pensarem em estruturar o ciclo seguinte ao mestrado, um doutoramento em educação ambiental.
Além das aulas presenciais, os alunos do mestrado em Educação Ambiental vão obter a sua formação através de fóruns de discussão na Internet, bem como todo o material e documentação necessários enviados pelos formadores. Outras das novidades vai para a existência de aulas por DVD, explicou a responsável.
Ana Moura Arroz relembra que este é um curso surgido da parceria interdepartamental, entre DCE e DCA, que acabou por “construir um vocabulário e um percurso comum” entre ambos as estruturas que, acresce vai acabar por “consolidar uma produção científica” nesta área. Em suma, adiantou, através do e-learning, este mestrado acaba por “pôr a UA ao serviço de todas as ilhas”.

A formação pós-graduada no âmbito da Educação Ambiental surge, aponta a coordenação do mestrado, da necessidade de reinventar dinâmicas sociais que busquem o combate à pobreza, alteração de padrões de consumo, coerência nas tomadas de decisão políticas, preservação de legados naturais e culturais, preservação da atmosfera, dos solos e da água, combate à desertificação e desflorestação, conservação da biodiversidade, minimização dos riscos de saúde pública, gestão de resíduos sólidos e de dinâmicas sociais que busquem a sustentabilidade, apontando para a fusão dos domínios de conhecimento anteriormente considerados estanques. Assim sendo, um dos objectivos principais deste curso será atender ao interesse evidenciado por profissionais dos mais diversos domínios que, confrontados por problemas ambientais no seu quotidiano, procuram informação, instrumentos e estratégias de intervenção.
(In A União)

quarta-feira, julho 25, 2007

Aproximar a Universidade dos Agricultores

Aproximar o Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores da população, em geral, e dos agricultores, em particular. É este o principal objectivo de um serviço de extensão rural que o estabelecimento de ensino superior pretende implementar no arquipélago, com o envolvimento do Governo Regional, das associações agrícolas e da própria indústria.
Diário Insular-Revista falou com Alfredo Borba, director do Departamento de Ciências Agrárias, sobre o projecto e as dificuldades com que se depara a instituição na divulgação do seu saber.
Diário Insular – A Universidade dos Açores anunciou recentemente a possibilidade de criação de um serviço de extensão rural. Por que surge, neste momento particular, essa necessidade?
Alfredo Borba – A necessidade não surgiu neste momento. Já há intenção de implementar esse serviço há alguns anos. No ano passado, por exemplo, nas Jornadas de Ciências Agrárias, falou-se muito nessa necessidade. Neste momento, há uma necessidade de aconselhamento dos agricultores como imposição da nova Política Agrícola Comum. Seria uma ajuda nesse sentido, mas não é um assunto novo.
DI – O que tem inviabilizado a criação desse serviço?

AB – Primeiro, o modelo. Porque há vários modelos de extensão rural. Depois, não há o hábito de extensão rural em Portugal, o que leva a que se sinta a necessidade, mas não se saiba como resolver o assunto. Há várias pessoas que têm alertado, ao longo do tempo, para a necessidade deste serviço, inclusivamente a universidade. Porque é uma forma de estabelecer uma ligação entre aquilo que se faz em termos de investigação e a lavoura. E é importante essa ligação, porque se não o Departamento de Ciências Agrárias fica fechado e a lavoura não tem acesso àquilo que se faz cá. Tentamos colmatar essa separação, organizando jornadas e colóquios e publicando, através do Carrefour, um pequeno jornal para informação europeia. Mas um serviço ou gabinete que faça essa extensão, coordenada entre universidade, lavradores, Governo e serviços de apoio aos lavradores na indústria, é importante para se obter melhores resultados.

DI – Já têm alguma resposta por parte do Governo Regional e das associações agrícolas?

AB – Tivemos conversações com o Governo Regional, com o anterior secretário, e ficámos de concretizar o projecto. Com este secretário ainda não tivemos nenhuma conversação. Sabemos que há abertura do novo secretário, por conversas que teve com o reitor, não sei se especificamente para este assunto. Mas também ainda não houve tempo de se tomar uma decisão.

DI – Continua tudo em aberto?

AB – Continua. Há uma proposta nossa de fazer-se um modelo de extensão rural que envolva a universidade, os serviços do Governo, as associações da lavoura e a indústria e que faça um acompanhamento dos agricultores. Que dê resposta às suas necessidades e permita fazer formação de técnicos e de agricultores.

DI – Ocorreram já várias tentativas de promover a extensão rural na Região sem sucesso. O que é que este projecto poderá trazer de novo?

AB – Penso que o que este modelo tem de novo é a flexibilidade. Não é um modelo rígido, mas flexível, em que os vários intervenientes têm papéis a desempenhar. Os agricultores também têm um papel a desempenhar, que se baseia nas suas necessidades. É um modelo flexível, que permite fazer um acompanhamento ou dar uma resposta aos agricultores.

DI – Como vai funcionar esse modelo?

AB – Na prática, não sabemos porque temos de discutir. Tenho ideias sobre um modelo, em que haverá agentes de extensão rural que fazem a ligação entre os diferentes serviços nas associações da lavoura, por exemplo. Organizam-se colóquios, cursos sobre vários temas. Faz-se publicação de informação, de modo a que chegue a toda a gente. Mas qual será o modelo a adoptar, ou se será adoptado na Região Autónoma dos Açores, depende de conversações entre todas as partes. Não posso dizer ‘é este o modelo’.

DI – A universidade é muitas vezes acusada de estar afastada da realidade, de não fazer chegar o conhecimento às pessoas e, neste caso particular, aos lavradores. O que tem falhado?

AB – O que se passa é que o modelo das universidades portuguesas não implica uma extensão, uma chegada aos lavradores, neste caso. O que queremos é acabar com isso. É chegar junto das pessoas que precisam de aplicar na prática os resultados da nossa investigação.

DI – Há uma falta de divulgação do conhecimento que se produz na Universidade dos Açores?AB – A divulgação do trabalho da universidade faz-se através de revistas científicas, porque a nossa carreira o exige. As pessoas em geral não lêem revistas científicas. Portanto, é difícil chegar às pessoas através desse meio. Se não houver uma forma que traduza aquilo que as revistas científicas dizem para uma linguagem mais acessível, não há hipótese de quebrar esta separação entre o que se passa dentro da universidade e na sociedade, em geral. Há vários métodos para implementar essa interligação. A extensão é um meio importante, mas não é o único.

DI – Que outros métodos são esses?

AB – Há o apoio directo aos agricultores, que já fazemos em parte, através de análises de forragens, de solos e de outro tipo, que os lavradores solicitam directamente à universidade. Não é um modelo muito eficaz, pois é muito disperso. Se não for enquadrado dentro de um projecto ou de um protocolo, fica um pouco solto. É preciso conversar, estabelecer aquilo que se quer e decidir qual o modelo que queremos seguir para o futuro.

DI – Há interesse dos lavradores nesse conhecimento?

AB – Sim. Aliás, falei já há algum tempo com os presidentes das associações agrícolas de São Jorge e de São Miguel, que sãos as principais ilhas leiteiras, para além da Terceira, e houve interesse e abertura para um serviço desse género.

DI – O Governo Regional tem apoiado os projectos desenvolvidos pelo Departamento de Ciências Agrárias?

AB – Os nossos projectos são financiados, na sua maioria, não pelo Governo Regional. O número de projectos financiados pela direcção regional da Ciência e Tecnologia é muito reduzido. Temos tido é alguns projectos financiados pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, pela União Europeia e pela Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento, que tem-nos dado um apoio importante. O Interreg, onde, embora seja um programa comunitário, o Governo Regional tem uma palavra importante a dizer, também tem sido uma fonte de financiamento importante.

DI – Esses apoios são suficientes?

AB – Não sinto que sejam suficientes. Penso que há necessidade de mais apoio do governo Regional. No continente, as universidades congéneres têm um apoio substancial do ministério da Agricultura, através dos programas PAMAF (Programa de Apoio à Modernização Agrícola e Florestal) e AGRO (Programa Operacional de Agricultura e Desenvolvimento Rural), que são extremamente importantes a nível nacional e forneceram a maior parte do dinheiro que essas universidades gastaram em investigação nos últimos anos, e aos quais não temos acesso. Para já porque o Governo Regional não disponibilizou ainda essas verbas comunitárias, que são canalizadas para outros empreendimentos. Não temos nada contra que se façam outros empreendimentos. Não estamos é em igualdade de circunstâncias com as universidades congéneres do continente.

terça-feira, julho 24, 2007

Análises de Solo

Que laboratórios existem em Portugal que prestam serviços de análises de terra? Se encontrar um laboratório que faça análises de terra não é difícil, não é o fim da conversa. Antes de colher as amostras e as entregar para análise, é importante fazer mais algumas verificações. Entre os factores a tomar em conta, de acordo com as necessidades do cliente, estão:
-as análises que estão à disposição,
-as instruções para colher e entregar a(s) amostra(s)
-os métodos seleccionados,
- o controlo de qualidade,
-a qualidade dos resultados obtidos,
-os preços praticados,
-a disponibilidade e rapidez de execução.
Alguns destes pontos podem ser verificados facilmente através da informação fornecida pelo laboratório. Outros são muitas vezes uma grande incógnita para os potenciais clientes. Será sempre boa ideia indagar junto de outros clientes sobre a fiabilidade dos resultados obtidos.
Nem todos os laboratórios activos fazem trabalhos externos, muitos existem para satisfazer necessidades internas das instituições a que pertencem e, eventualmente, para responderem a protocolos estabelecidos com outras instituições ou a solicitações pontuais. A lista de laboratórios que aqui fica não representa tudo o que há em Portugal, mas deve andar lá perto...
Lab. Solos da Universidade dos Açores - Departamento de Ciências Agrárias
Lab. Solos da Universidade de Aveiro (!)
Lab. Solos da Escola Superior Agrária de Beja
Lab. Solos da Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Beja
Lab. Solos da Escola Superior Agrária de Bragança
Lab. Solos da Escola Superior Agrária de Castelo Branco
Lab. Solos da Escola Superior Agrária de Coimbra (!)
Lab. Solos da Escola Superior Agrária de Elvas
Lab. Químico-Agrícola da Universidade de Évora
Lab. Solos da Universidade de Évora (!)
Lab. de Física de Solos da Universidade de Évora
Lab. Químico-Agrícola Rebelo da Silva - Lisboa
Lab. Solos da Escola Superior Agrária de Santarém

Provas de Agregação sobre Cinética Química

Realizaram-se, nos dias 23 e 24 de Julho de 2007, no Complexo Pedagógico do Campus de Angra do Heroísmo da Universidade dos Açores, as provas para obtenção do título de agregado no grupo de disciplinas de Química, requeridas pelo Prof. Doutor Paulo João de Lemos Cabral de Sousa Fialho.
As provas foram avaliadas por um júri presidido pelo Reitor da Universidade dos Açores, Prof. Doutor Avelino de Freitas de Meneses, sendo vogais o Doutor Carlos Alberto Nieto de Castro, professor catedrático da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa; o Doutor Fernando Manuel Sebastião Silva Fernandes, professor catedrático da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa; o Doutor Casimiro Adrião Pio, professor catedrático da Universidade de Aveiro; o Doutor António Manuel Figueiredo Palavra, professor associado com agregação do Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa; e a Doutora Maria Filomena Gomes Ferreira Crujo Camões, professora associada com agregação da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
As provas constaram, no primeiro dia, da discussão pública, com crítica e defesa, do Curriculum Vitae e de um relatório intitulado Programa, Conteúdos e Métodos de Ensino da Disciplina – Química Geral. No segundo dia decorreu a apresentação e defesa de uma lição de síntese sobre Cinética Química.
A cinética química é uma ciência que estuda a velocidade das reacções químicas. A velocidade da reacção recebe geralmente o nome de taxa de reacção. A taxa de reacção está relacionada com as concentrações dos reagentes, o estado particular dos reagentes (estado físico, estado cristalino ou amorfo dos sólidos, do facto dos reagentes estarem ou não em solução e neste caso da forma como o solvente poderá influenciar a velocidade da reação), a temperatura, a carga eléctrica, a luz, a pressão, a presença de catalisadores e dos produtos de reacção.
A importância deste tema é vasta já que se relaciona como por exemplo, com a rapidez com que um medicamento actua no organismo ou com problemas industriais, tais como a descoberta de catalisadores para acelerar a síntese de algum produto novo.

segunda-feira, julho 23, 2007

Formação no sector Agrícola

O secretário regional dos Açores da Agricultura e Florestas felicitou sexta-feira à noite os 20 formandos que terminaram o curso de Agentes de Inseminação Artificial em Bovinos, da responsabilidade do Governo Regional e garantiu o reforço de acções formativas desta e de outras áreas.
O governante elogiou a aposta destes formandos pelo facto de terem optado por participar num curso mais intensivo sobre a matéria, em detrimento de algumas iniciativas similares de conteúdo muito vago, que não garantem a qualidade dos formandos para o início da sua actividade. Noé Rodrigues, que falava na cerimónia de entrega de diplomas a estes formandos, realizada no restaurante da Associação Agrícola de São Miguel, fez ainda referência à colaboração da Universidade dos Açores nestas iniciativas do Governo Regional, bem com aos técnicos dos serviços oficiais que têm demonstrado uma grande dedicação na realização dos vários cursos de formação de um dos sectores mais importantes para a economia regional. Este curso, destinado a técnicos propostos por associações e cooperativas que pretendem vir a desempenhar funções de agentes de inseminação artificial, teve a duração de 170 horas, decorreu de 11 de Junho a 20 de Julho, no Centro de Formação Profissional Agrária de São Gonçalo (componente teórica) e no Matadouro Industrial de S. Miguel (componente prática). Dos objectivos da iniciativa destacam-se a habilitação dos formandos para inseminar bovinos, de acordo com as técnicas adequadas, manejar convenientemente o material seminal posto à sua guarda e conservar, em boas condições higiénicas, todo o material necessário ao exercício das suas funções. Foram formadores neste curso técnicos/docentes da secção de reprodução do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores, formadores dos Serviços da Secretaria Regional da Agricultura e Florestas e do Ministério da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas. A Secretaria Regional da Agricultura e Florestas através das suas estruturas operacionais de Formação Profissional realizou nos últimos seis anos, 336 cursos específicos de formação profissional para o sector agrícola e pecuário em toda a Região. Tais acções de formação foram dinamizadas por 31.150 horas, abrangendo 4.845 formandos, num investimento total de mais de dois milhões de euros. A dinâmica destas acções confere capacitação e actualização de conhecimentos, conjugados com a motivação e o saber prático do agricultor e do técnico, num universo de utilidade e de competência para o exercício das suas funções.
(In Canal de Notícias dos Açores)

ÁFRICA ANNES - Social perception in environmental risk communication

A Fundação Ciência e Tecnologia aprovou e financiará o projecto "ÁFRICA ANNES - Social perception in environmental risk communication" dirigido por António Félix Flores Rodrigues do Departamento de Ciências Agrárias e no qual participam os Professores Emiliana Leonilde Diniz Gil Soares da Silva, Paulo Alexandre Vieira Borges e Rosalina Maria de Almeida Gabriel do Departamento de Ciências Agrárias e Suzana Nunes Caldeira, Ana Margarida Moura de Oliveira Arroz, Ana Cristina Pires Palos e Isabel Maria Gogumbreiro Estrela Rego do Departamento de Ciências da Educação da Universidade dos Açores.
Desde a Declaração do Rio, em 1992, que foi reconhecida a indissociabilidade da protecção ambiental e do processo de desenvolvimento social, ao mesmo tempo que a participação social – enquanto “acesso adequado (e efectivo) à informação relativa ao ambiente” e oportunidade de todos se implicarem nos processos de decisão – surge priorizada. Apesar destas intenções e da sua reafirmação, nas declarações mundiais e europeias posteriores, “as práticas – políticas, económicas, sociais – de escala internacional ao longo da última década e, mais ainda, na viragem para o novo século têm demonstrado contradições, dificuldades, bloqueios e mesmo retrocessos graves em todas estas boas intenções” (Schmidt & Valente, 2004, p. 28). A responsabilidade pela persistência, e eventual agravamento, dos problemas ambientais não pode, contudo, ser imputada exclusivamente aos decisores. O academismo da produção científica e a erudição dos seus enunciados, por um lado, e o alheamento dos cidadãos, por outro lado, têm dificultado a implicação de todos os intervenientes numa acção eficaz. Incidindo no estudo dos riscos associados a um conjunto diversificado de problemas ambientais, naturais e manufacturados, e reunindo um grupo multidisciplinar de especialistas, este projecto visa promover a aproximação entre a comunidade científica, os decisores e as populações, através da concepção de dispositivos de comunicação que suportem processos de tomada de decisão mais informados e responsabilizem os implicados na mitigação de fontes de risco e/ou das suas consequências. Focando a realidade açoriana, elegem-se como contextos de risco: a utilização de recursos hídricos e energéticos, a aviação civil, as alterações climáticas e o aquecimento global, as pragas animais e vegetais e a manipulação de substâncias tóxicas em meio hospitalar. Assume-se que a estruturação e mediação de um processo de comunicação de risco –necessariamente ajustado às particularidades de cada situação concreta – implica a conjugação do risco percebido por populações, peritos e decisores, a apreensão das representações recíprocas sobre os papéis a desempenhar e a qualidade da resposta actual ao risco, bem como a identificação dos factores de credibilização e de desacreditação associados à mensagem, ao interlocutor, ao meio de comunicação e ao tipo de audiência. Em termos operativos, este projecto contempla três vertentes ou tarefas. A primeira incide sobre as percepções de risco, tornando salientes as suas condicionantes sócio-culturais. Na sequência das diversas significações que as populações atribuem a um conjunto de riscos ambientais terem sido identificadas em estudos exploratórios prévios, mediante abordagens extensivas, foram seleccionados os grupos-alvo cujas percepções revelavam maior alheamento e/ou deficit de informação. Um estudo empírico mais aprofundado e intensivo dessas comunidades interpretativas corporiza o objecto de estudo nesta componente. Paralelamente, proceder-se-á a avaliações periciais e a análises documentais dos normativos, programas e políticas, com vista a discriminar as modalidades científicas e institucionais de interpretar o risco. Considerando que os mass media constituem um importante fórum na produção de opinião, influenciando as agendas públicas e políticas (Schmidt & Ferreira, 2004), importa ainda identificar o modo como estes riscos são abordados na comunicação social. A informação produzida a este nível orientará a discriminação dos objectivos de acção que, relativamente a cada risco e no âmbito comunicacional, conduzirão intervenções posteriores. Adoptando uma idêntica abordagem metodológica, a segunda tarefa direcciona-se para a caracterização das condicionantes relativas aos processos de influência social e de responsabilização pública na comunicação do risco, junto dos grupos-alvo anteriormente definidos. Informar a concepção de dispositivos de intervenção específicos e a delineação de estratégias de comunicação ajustadas às características desses públicos constituem a informação de saída desta fase. A última componente deste projecto corresponde à implementação e avaliação de tais dispositivos de comunicação. Prosseguindo um modelo de participação interactiva na governance dos riscos ambientais, pretende-se produzir conhecimento acerca das dinâmicas e mecanismos da participação pública e derivar heurísticas passíveis de serem implicadas contextualmente em processos similares.

sexta-feira, julho 20, 2007

Understanding Underground Biodiversity: Studies of Azorean Lava Tubes

A Fundação Ciência e Tecnologia aprovou e financia o projecto "Understanding Underground Biodiversity: Studies of Azorean Lava Tubes", coordenado pela Professora Maria de Lurdes Nunes Enes Dapkevicius e onde participam a Professora Célia Costa Gomes da Silva, o Professor António Félix Flores Rodrigues, o Professor Airidas Dapkevicius, o Professor Paulo Alexandre Vieira Borges, a Mestre Isabel Maria Amorim do Rosário, a Professora Rosalina Maria de Almeida Gabriel e a Mestre Nídia Fernanda Martins Homem, do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores.
Sabe-se pouco sobre a distribuição, dinâmica populacional e biogeoquímica dos microrganismos das grutas (Northup & Welbourn 1997; Northup & Lavoie 2001; Northup & Lavoie 2004; Northup et al. 2006 in press). Este conhecimento baseia-se frequentemente em estudos dependentes do cultivo microbiano, que subestimam a diversidade por incapacidade de cultivar muitos dos microrganismos (Hugenholtz et al. 1998). As grutas açorianas parecem muito ricas em biofilmes (D. Northup, observação pessoal), contudo, são necessários estudos independentes do cultivo microbiano para compreender a sua diversidade. Estudos preliminares (Northup et al. 2006 in press) efectuados em cavidades vulcânicas dos EUA demonstraram grande diversidade microbiana, incluindo novos organismos. Os actinomicetas, uma das principais fontes de antibióticos, são os microrganismos mais abundantes nestas grutas (Groth et al. 1999). Alguns destes representam novas famílias taxonómicas. Os biofilmes açorianos assemelham-se aos dos USA, pelo que poderão também conter novos organismos. As grutas são ainda um ambiente inexplorado no que toca à pesquisa de compostos bioactivos, como os antibióticos. As cavidades vulcânicas dos Açores são reconhecidamente interessantes e quatro delas foram classificadas em 2004 como Monumentos Naturais Regionais (ilhas Terceira, S. Miguel, Pico e Graciosa) e o Algar do Carvão (Terceira) foi já objecto de vários estudos biológicos (invertebrados: Borges & Oromi 2006 in press; plantas: Gabriel & Dias 1994; comunidades bacterianas: Dapkevicius et al. 2006). O número de visitantes nas grutas dos Açores tem aumentado significativamente nos últimos anos (Costa et al. 2006). Contudo, os visitantes podem alterar o equilíbrio dinâmico do ambiente natural duma gruta ao modificar a qualidade do ar e ao introduzir microrganismos estranhos ao sistema. A iluminação artificial altera o ambiente luminoso, aumenta a temperatura média e diminui a humidade relativa, podendo encorajar a colonização e disseminação de numerosos grupos microbianos e o desaparecimento de outros. Os biofilmes das grutas podem ser de acesso difícil e identificação dispendiosa. Por isso, serão examinados neste projecto briófitos e artrópodes que possam actuar como indicadores da biodiversidade microbiana. Documentar-se-á se existem grupos de artrópodes que se alimentam dos biofilmes. Propõe-se também neste projecto uma campanha educacional sobre as grutas, abordando temas como o turismo de baixo impacto e os microrganismos úteis. Esta campanha compreenderá uma página web, folhetos e cartazes destinados a visitantes, escolas e público em geral.

quinta-feira, julho 19, 2007

Plantas Medicinais podem ser perigosas

As plantas com utilidade medicinal, especialmente as endémicas, devem ser alvo de estudos aprofundados. A sua utilização sem um conhecimento científico prévio pode ser perigosa, avisa Eduardo Dias, biólogo e professor do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores.

Diário Insular-Uma recente tese de mestrado confirma as capacidades de mais de uma centena de plantas medicinais de uso corrente, em medicina tradicional, na ilha de S. Miguel. Presume-se que existam muitas outras plantas úteis para a medicina nas restantes ilhas. Este manancial está suficientemente estudado pelo método científico, de modo a serem confirmadas as qualidades que o povo atribui a cada planta?
Eduardo Dias-É pertinente, antes de mais, e no enquadramento do problema, separar as plantas introduzidas pelo Homem, a que nós, botânicos, chamamos neófitos, das plantas naturais dos Açores (onde se incluem as endémicas), isto é, aquelas que já chegaram pelos seus meios e desenvolveram, de forma mais ou menos acentuada, adaptações especiais ao meio açoriano. Esta separação é fundamental para entendermos a relação que a sociedade açoriana mantém com os seus recursos vegetais. Inclusive, vale a pena considerar que muitas das plantas introduzidas nos Açores pelo Homem (que neste momento anda em torno de 700 espécies) são, de facto, plantas medicinais ou, melhor dizendo, estão referenciadas como PAM (Plantas Aromáticas e Medicinais) no Continente e foram, de facto, cultivadas ou espalhadas nos terrenos destas ilhas para o seu uso etnobotânico, no desenvolvimento do processo de transposição dos usos e costumes que os povoadores desenvolveram ao longo dos nossos cinco séculos de história insular. Por isso, a resposta, em concreto, à sua pergunta será: sim, para a maioria das espécies introduzidas pelo Homem, não por nós, mas por laboratórios nacionais e estrangeiros, nas áreas de distribuição ou cultivo destas espécies; não, para as espécies naturais e endémicas, ou apenas em aspectos específicos (veja-se, por exemplo, resultados do projecto Interfrutas I, publicados na net, sobre plantas bioactivas, ou alguns trabalhos publicados sobre o louro). É necessário anotar que estamos a falar da saúde humana e, portanto, existem procedimentos e cuidados que se devem ter quando se gera informação sobre este tema (o que torna necessário tempo e financiamentos para podermos ter resultados seguros), bem como uma grande cuidado na divulgação de informação não certificada, dado que se pode estar a promover usos que contemplem alguns riscos. As plantas são perigosas e todos os medicamentos são, potencialmente, venenos.
Diário Insular-Confirmando-se, como sugere a tese, que muitas das nossas plantas são portadoras de princípios activos de uso comum na medicina, isso significa que estamos a passar ao lado de um grande negócio. A que se deve esta incapacidade para explorar um rendimento potencialmente tão significativo?
Eduardo Dias- Creio que se deve à reunião do que foi referido no ponto anterior. Uma parte importante das plantas medicinais, de distribuição pelo continente, está já a ser explorada para esse fim. Aqui, a vantagem dos Açores seria apenas a promoção de um produto mais biológico ou cultivado em condições menos poluídas. Para mais, temos alguns problemas em cultivar plantas de origem mediterrânica (pouco calor) ou de origem atlântico-continental (pouco frio). Teríamos grandes vantagens nas subtropicais e tropicais. Nas naturais e endémicas, o risco para a saúde pública e o verdadeiro alcance dos seus efeitos, enquanto não forem confirmados, de forma científica, é um risco e um atrevimento a sua divulgação e a sua promoção comercial. Lembro-me de, há alguns anos, ter participado num estudo sobre a avaliação económica da exploração destes recursos, utilizando algumas PAM´s dos Açores, e os resultados, na altura, não apontavam para um “grande negócio”. A OMS-Organização Mundial de Saúde recomenda o uso de plantas medicinais. No entanto, nós temos muitas plantas que se enquadram nesse segmento e nem nos damos ao trabalho de promover tais produtos junto das populações, depois de os creditarmos pelo método da ciência.
Diário Insular-Parece-lhe normal tamanho desleixo?
Eduardo Dias-Não será desleixo. A creditação científica destes produtos é complexa e não pode ter enganos. Há uns anos, realizámos um estudo sobre as plantas medicinais do Norte da ilha Terceira e os resultados foram de que a maioria das pessoas utilizava plantas conhecidas por toda a Europa. A interpretação dos resultados apontava um grande cuidado na medicina popular em utilizar plantas naturais. Temos a certeza que muitas delas possuem princípios activos que podem ser utilizados na medicina. Tal implica programas de estudo que validem essas potencialidades. Levantam-se aqui problemas de direitos e valorização de recursos naturais e da biodiversidade. Muitas vezes, são empresas internacionais que investem na procura desses valores e depois os comercializam, sem haver retorno para as terras que os possuíam. Programas regionais de conservação da biodiversidade e regulação na colheita e uso de plantas endémicas podem ajudar, acoplados, certamente, a parcerias internacionais, para o estudo desses potenciais.

MEDICAMENTOS NATURAIS NÃO CONSEGUEM “COMPETIR” COM INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

Diário Insular-Acredita que o uso de produtos biológicos e de métodos da medicina tradicional, como o recurso a plantas, pode tornar as pessoas mais saudáveis e felizes. E a “indústria da saúde” menos rica e exploradora?
Eduardo Dias-Francamente, não creio que a questão se possa colocar assim. Uma parte dos produtos da dita “indústria da saúde” contempla, de facto, produtos extraídos de plantas e transformados em “comprimidos”. E os usos mais naturais nunca conseguiram competir. Hoje, assiste-se a uma procura de produtos medicinais mais naturais, mas a resposta está a ser dada pelas indústrias e não por um aumento dos usos tradicionais. Creio que, acima de tudo, as pessoas procuram segurança e comodidade. Comprar um comprimido de uma empresa certificada dá resposta a estes anseios, enquanto fazer um chá é, antes de mais, e por enquanto, um acto cultural, um posicionamento perante o que nos rodeia e a natureza, em particular. Há sinais de que estamos a mudar e, se calhar, num futuro próximo as escolhas alternativas, também aqui, vão ter um grande valor e constituir um nicho de mercado significativo. No entanto, não creio que isso induza pessoas mais saudáveis e felizes, mas exactamente ao contrário.

quarta-feira, julho 18, 2007

Expedição Científica às Flores e Corvo

Iniciou-se a expedição científica de dez dias às Flores e Corvo de cerca de 120 investigadores e alunos, «a maior» organizada pelo departamento de Biologia da Universidade açoriana para aprofundar o conhecimento científico sobre as duas ilhas.
A expedição contou com investigadores nacionais e internacionais, docentes, alunos de licenciaturas, mestrados e doutoramentos.

Além de Portugal, estão presentes na expedição investigadores oriundos de Espanha, Alemanha, França, Canadá, China, Brasil, México, Marrocos, Moçambique, Moldávia, Suíça e Índia.
As equipas estudarão a orla costeira e a flora das duas ilhas, actualizarão as listas de vertebrados terrestres e do inventário de pragas agrícolas, recolherão amostras de solo, procederão à actualização da biodiversidade marinha e de água doce, entre outros trabalhos.
O Departamento de Geociências estudará o vulcão do caldeirão, na ilha do Corvo, e do planalto central das Flores.


A par das actividades de campo serão realizadas nas duas ilhas 14 conferências e actividades de educação ambiental.
A XIII edição da expedição integra também alunos do ensino básico e secundário das Flores e Corvo e, pela primeira vez, de duas escolas do Continente. Estes últimos são alunos da Escola Básica Integrada das Colmeias (Leiria) e da EB 2,3/S de Melgaço que poderão também acompanhar o trabalho de campo da investigação.


Os participantes da expedição, que ficará sedeada no polivalente da Vila de Santa Cruz das Flores, serão instalados em 35 tendas de campismo, disponibilizadas pelo Serviço Regional de Protecção Civil.


A investigação implicou ainda a deslocação de vários meios, como, por exemplo, oito viaturas de São Miguel e uma equipa da Escola Superior de Enfermagem do Campus de Angra do Heroísmo na Universidade dos Açores, ilha Terceira.

Os resultados dos trabalhos desenvolvidos ao longo da expedição científica serão publicados, em relatório, dentro de seis meses.

(In Agência Lusa)

terça-feira, julho 17, 2007

105 Plantas em São Miguel com utilidade medicinal

Um inquérito levado a cabo junto a 90 pessoas de São Miguel conduziu ao levantamento de 105 plantas com utilidade medicinal. Trata-se do estudo que está na base da tese de mestrado de Marco Botelho, orientado por Félix Rodrigues, intitulada “Etnobotânica da ilha de S. Miguel: Valorização Patrimonial e Potencial Económico”, apresentada na passada sexta-feira no pólo da Universidade dos Açores em São Miguel.
De acordo com o autor da tese, o primeiro objectivo foi validar cientificamente o conhecimento popular que existia na ilha sobre estas plantas, com vista a abrir caminho para que estas sirvam para fins comerciais. “Numa primeira instância, poder-se-ia apostar nas ervanárias e, num estado mais avançado, os componentes químicos poderiam ser retirados das plantas para serem utilizados pela indústria farmacêutica. Existe grande potencial nesse sentido”, explica Marco Botelho. O aluno da Universidade dos Açores e professor da Escola Secundária Padre Tomás de Borba, em Angra do Heroísmo, afirma estar surpreendido com a quantidade de plantas com fins medicinais encontradas. “São plantas que, na sua maioria existem e são conhecidas em todo o arquipélago. É o exemplo da conteira, que é considerada uma praga nos Açores e que, em São Miguel, é utilizada para curar frieiras nas mãos e nos pés, através de uma infusão. Outro exemplo é a faia da terra, que pode ser usada para tratar o reumatismo. O inhame também é utilizado para tirar quistos e a anona serve para tratar a diabetes”, exemplifica. Outras plantas com fins medicinais são o agrião da horta (dor de dentes), o pero azedo das Furnas (problemas cardíacos), o manjericão (tosse convulsa), a Daboecia azorica (tratamento da hipertensão), a uva da serra (dor de barriga) ou a hortelã-pimenta (azia). Marco Botelho acredita que as plantas identificadas podem ter mais-valias comerciais. “Se observarmos a nossa sociedade, existe um interesse crescente pelos produtos biológicos e, também, pela medicina natural. Uma das senhoras que eu entrevistei disse-me para levar o trabalho em diante, para acabar com as empresas farmacêuticas. Pode ser uma declaração exagerada, mas demonstra o que as pessoas pensam”. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o uso das plantas medicinais tem aumentado significativamente nos últimos anos, sendo o mesmo recomendado pela OMS.
(in Diário Insular)

segunda-feira, julho 16, 2007

Cursos de Mestrado em Gestão e Conservação da Natureza e em Engenharia do Ambiente

domingo, julho 15, 2007

Paisagem sob ameaça

Os solos açorianos foram o tema de uma lição de síntese apresentada recentemente pelo Prof. Jorge Pinheiro, docente do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores, no âmbito das provas de agregação.
A paisagem dos Açores, que constitui a “galinha dos ovos de ouro” em termos de desenvolvimento futuro da Região, encontra-se sob ameaça. Quem o diz é Jorge Pinheiro, professor Associado do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores. Os aspectos genéticos e as propriedades dos solos do arquipélago foram o tema de uma lição de síntese apresentada recentemente pelo docente no âmbito das suas provas de agregação (pré-requisito para a obtenção do título de professor catedrático), na sequência de vários anos de investigação sobre estas questões.

“O solo é um campo dinâmico, sobre o qual assenta a paisagem e o território, que pode ser estudado não apenas enquanto entidade natural, mas também numa perspectiva mais aplicada, designadamente ao nível do ordenamento do território, da actividade agrícola e da sustentabilidade ambiental”, começa por explicar o especialista, sentado na pequena sala do pólo da Terra Chã, onde se acotovelam a secretária de trabalho, uma estante forrada de livros e algumas cadeiras. No entender de Jorge Pinheiro, “a conservação da paisagem é um dos assuntos mais relevantes nos Açores”. “O futuro e o desenvolvimento da Região passam muito pela paisagem, que é, no entanto, susceptível de ser agredida e degradada”, sustenta, apontando os exemplos das freguesias do Porto Martins e dos Biscoitos, na ilha Terceira: “Tratam-se de casos de desenvolvimento selvagem, onde o crescimento urbano desregrado, resultante de uma pressão muito grande para construir, tem provocado a degradação da paisagem agro-rural”. Para o professor universitário, “são necessárias medidas muito rigorosas de planeamento urbano e uma atenção muito grande em relação ao equilíbrio e preservação da paisagem”.“A paisagem é a nossa galinha dos ovos de ouro e, uma vez perdida, os Açores deixam de ser importantes em qualquer aspecto para o exterior”, alerta.
PROGRESSO E CONSERVAÇÃO

Jorge Pinheiro sublinha, contudo, que os perigos não espreitam apenas sobre a paisagem natural, mas também sobre aquela que é construída pelo homem. “Na cidade de Ponta Delgada, por exemplo, temos assistido a um crescimento selvagem da área limítrofe”. Na sua opinião, “têm havido algumas manifestações de boa vontade” no sentido de contrariar esta tendência, mas “o que está feito deixa um pouco a desejar”. “O problema é que há muitas forças em jogo e as autarquias nem sempre têm a capacidade legislativa ou a sensibilidade para evitar essa degradação da paisagem”, considera o docente, para quem “os Açores ainda têm uma alma e um carácter bem definidos, mas que estão sob ameaça”. Segundo o docente, “essa ameaça é tanto maior quanto mais dinheiro há para gastar em obras públicas e privadas”. “O dinheiro deve ser bem orientado e os autarcas têm de perceber que, para além de apresentarem obra feita, devem também perpetuar aquela que a natureza construiu, nos seus aspectos essenciais”.
Jorge Pinheiro ressalva, todavia, não ser partidário de um “modelo estático” de desenvolvimento. No seu entender, “a dificuldade está em compatibilizar o progresso necessário com a conservação indispensável, de modo a assegurar a sobrevivência e o futuro”.
AGRICULTURA BIOLÓGICA
De origem vulcânica, os solos dos Açores têm uma génese, propriedades e características “muito especiais”, assim como um “potencial produtivo elevado, que permitiria cultivar uma variedade ampla de culturas”, explica, em traços gerais, o professor associado. No entanto, segundo Jorge Pinheiro, “aspectos relacionados com a economia e com o relevo têm feito com que estejamos numa condição de quase monocultura ou baixa diversidade cultural”. “As características do relevo das ilhas não favorecem culturas que exijam uma elevada mecanização, como acontece por exemplo no continente em áreas muito amplas, mas a diversidade poderia ser aumentada em zonas mais favoráveis a nível fisiográfico”. Para além da floricultura e da fruticultura, culturas que começam já a ganhar alguma expansão nos Açores, o investigador sublinha que a Região dispõe de “um potencial muito grande para a agricultura biológica”. “A agricultura biológica, assim como a produção biológica de leite e de carne, em que a qualidade do produto é muito tida em conta, têm um grande potencial no arquipélago, que só agora começa a ser tido em conta”. Jorge Pinheiro sublinha ainda que este tipo de cultura tem um maior “sentido ecológico”. “Nas ilhas maiores, há uma tendência para a aplicação excessiva de adubos na prática agrícola, o que perturba muito o sentido do ecológico”, refere Jorge Pinheiro, para quem “tem-se procurado mais aumentar a produção do que atingir um equilíbrio entre a quantidade e a qualidade ambiental”. De acordo com o docente universitário, “São Miguel é a ilha onde essa intensificação é mais óbvia, seguindo-se a Terceira, embora de uma forma menos notória”.“Há, no entanto, ilhas onde esse equilíbrio é muito claro, nomeadamente o Faial e São Jorge, onde a produção de queijo exige uma preservação mais cautelosa desses aspectos”, realça. Apontando o exemplo do leite açoriano, Jorge Pinheiro sublinha que, “apesar da produção ser menor, ervas mais equilibradas e a partir uma maior diversidade de pastagem são um factor de enriquecimento do produto”.
VALORIZAR O PRODUTO
A aposta na agricultura biológica exige, contudo, uma valorização dos seus produtos, sustenta o professor associado. “Este tipo de cultura pressupõe uma diminuição da produção e um aumento dos custos da mesma. Ora, enquanto o produto final não for devidamente valorizado pela qualidade, o agricultor não tem espaço de manobra para realizar uma agricultura sustentável”. No entender de Jorge Pinheiro, “a culpa não é do agricultor, que faz aquilo que lhe dá mais rendimento, mas das políticas e da orientação dessas políticas”. A eutrofização das lagoas açorianas, provocada pelo excesso de adubação, é, na sua opinião, uma consequência deste estado de coisas. A solução poderá passar por “uma exploração menos intensiva e a atribuição aos agricultores de indemnizações compensatórias especiais”, defende. “A Lagoa das Sete Cidade, em São Miguel, é um exemplo de um problema ambiental motivado por práticas agrícolas excessivas, uma vez que a intenção do agricultor é maximizar o seu rendimento”, afirma, acrescentando que são necessárias “medidas políticas que preconizem a atribuição de ajudas financeiras que compensem a perda de rendimento do agricultor quando passa de um regime intensivo para um regime extensivo”. Segundo o especialista, “a própria política agrícola europeia vai no sentido de uma agricultura ambientalmente sustentável, que exige equilíbrios muito rigorosos ao nível do sistema produtivo, da aplicação de adubos e pesticidas e da utilização de maquinaria”. “O objectivo não é maximizar a produção, mas uma agricultura sustentável economicamente, tendo em conta os limites definidos pelos impactos ambientais”.
(in Diário Insular)

sábado, julho 14, 2007

Etnobotânica da ilha de S. Miguel: Valorização Patrimonial e Potencial Económico

Foi defendida em Ponta Delgada, no Departamento de Biologia da Universidade dos Açores a tese de Mestrado em Ambiente Saúde e Segurança de Marco Paulo de Viveiros Botelho com o título "Etnobotânica da ilha de São Miguel: Valorização Patrimonial e Potencial Económico" orientada pelo Professor Félix Rodrigues, do Departamento de Ciencias Agrárias da Universidade dos Açores.
Nos tempos que correm, preservar as diferenças, num mundo cada vez mais igual, assume uma enorme importância nas mais diversas áreas, incluindo-se a científica, como a botânica e a antropologia cultural.
Com este trabalho pretendeu-se, por um lado, valorizar o património botânico da ilha de São Miguel no Arquipélago dos Açores e promover a preservação ambiental, em especial, de espécies que correm risco de extinção, e por outro, numa perspectiva de Saúde e Segurança, validar as crenças populares no que diz respeito à medicina popular e ao tratamento fitoterápico, ou seja, apoiar o "saber empírico" com o "saber científico" que confirma a segurança e a utilização popular de algumas plantas indicando também precauções, dosagens e potencial tóxico do seu uso, em cada uma das espécies com aplicações populares registadas. Não se descurou neste trabalho o potencial económico que está subjacente à utilização dada às plantas com fins medicinais, numa indústria tão promissora como a farmaceutica e, progressivamente naturalista, numa altura em que o homem procura aproximar-se cada vez mais da natureza.
Foram identificadas, classificadas e conservadas em herbário, cerca de 107 espécies vegetais com aplicações populares no tratamento de problemas de saúde na lha. A grande maioria dessas plantas pertencem à flora local, ainda que tenham sido introduzidas ou cultivadas. Também se verificou que são empregues na medicina popular Micaelense algumas plantas nativas e duas plantas endémicas: o Vaccinium cylindraceum e a Daboecia azorica. Em termos etnobotânicos, são dadas outras utilizações na ilha de São Miguel às plantas endémicas, mas não na área da medicina popular.

Cerca de metade dos medicamentos que actualmente se encontram no mercado têm uma composição de origem vegetal, e um quarto, contém extractos de plantas ou moléculas provenientes directamente do mundo vegetal. Através dos medicamentos de hemissíntese ou da fitoterapia, as plantas constituem o modo de tratamento mais frequente em todo o mundo.
Através dos dados fornecidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS), constacta-se que o uso das plantas medicinais pela população mundial tem aumentado significativamente nos últimos anos, sendo esse uso incentivado pela própria OMS.
A cultura popular açoriana é toda ela extremamente rica em saberes e tradições nas mais diversas áreas, entre as quais se incluem a etnobotânica. Este trabalho pretendeu também contribuir para a preservação do património regional que ousa desaparecer à medida que cada um dos anciãos das nossas vilas e freguesias se extingue.
Após a inquirição de 90 pessoas, profundamente conhecedoras da medicina popular na ilha de São Miguel, concluiu-se que para a generalidade dos tratamentos propostos com plantas, existe suporte científico que ajudará a validar o saber popular conferido a determinadas plantas, conhecimento esse que parece provir desde os primórdios do povoamento, pelo facto da maioria das plantas utilizadas serem espécies introduzidas e cultivadas na ilha e resultarem da transmissão de conhecimentos orais dos seus antepassados.
Conclui-se também que muitas das utilizações medicinais dadas às plantas na ilha de São Miguel, que se distribuem também por outras regiões do planeta, são as mesmas que as populações que aí residem lhes dão. No entanto, na ilha, registam-se diferentes usos de algumas plantas de distribuição geográfica ampla, indiciando a construção de um "conhecimento empírico" específico. Por exemplo, é utlizada na ilha a anona como diurético, não se conhecendo aplicações noutros locais para esse fim, no entanto haverá que validar cientificamente essa aplicação.
A planta Daboecia azorica, endémica dos Açores, é utilizada no tratamento da hipertensão e carece também de uma investigação mais aprofundada neste domínio.

Com aplicações próprias que parecem ser específicas da ilha encontra-se o agrião da horta, para o tratamento da dor de dentes, o pero azedo para problemas cardíacos, o manjerico para a tosse convulsa, o incenso para o reumatismo, a uva da serra (planta endémica) para a dor de barriga, a hortelã-pimenta para a azia, a borragem para branqueamento dos dentes, o inhame para tratamento de quistos, o louro para tratamento da gripe e peste, a anona para os diabetes, a faia da terra para a diarreia, a conteira para as frieiras, etc.

Algumas das plantas apresentadas possuem um certo grau de toxicidade, daí que o seu uso tem que ser devidamente acautelado com um manuseamento apropriado e doses correctas. Entre as plantas mais tóxicas utilizadas na medicina popular micaelense destacam-se a arruda, o sabugueiro, a salva, o buxeiro, o estramónio, a erva-cidreira, a lúcia-lima, a losna, a celidónia e o marroio. No manuseamento dessas plantas deve ser colocado especial cuidado.

quarta-feira, julho 11, 2007

Plantas de São Jorge em Estudo

Recuperar a memória das gentes de São Jorge em relação ao uso das plantas tradicionais da ilha foi o objectivo da tese de mestrado da aluna da Universidade dos Açores, Ana Maria Vilela, intitulada “Etnobotânica de São Jorge: Valores, Recursos e Sustentabilidade”.
Segundo Ana Maria Vilela, trata-se da segunda tese na área da etnobotânica (ligação entre etnografia e botânica) realizada em Portugal, tendo sido levadas a cabo, no ano passado, cerca de 30 entrevistas junto a habitantes da ilha que se encontravam entre os 51 e os 89 anos. “O objectivo foi registar o conhecimento que essas pessoas têm sobre as plantas de São Jorge e a sua utilização, que se está a perder nas gerações mais jovens. Os avós e os pais sabem quais são as plantas e para que eram usadas, mas quando chegamos aos netos, esse conhecimento já não está lá”, explica a autora. A informação recolhida e reunida na tese de mestrado pode servir, avança Ana Maria Vilela, para a tomada de medidas de promoção ambiental. “No caso do cedro do mato estamos a falar de uma espécie que as pessoas continuam a abater e que, a médio prazo, pode estar no limite da extinção. Se essa informação for divulgada, é provável que a população começa a abandonar esse comportamento”, defende.

EM DESAPARECIMENTO... A tese de mestrado identificou crenças e costumes dos jorgenses em relação às espécies vegetais da ilha, com especial destaque para a cultura do café, que só é realizada em algumas zonas da ilha e do cedro do mato, que esteve na base de uma verdadeira “escola de escultores de arte sacra”. A romania, uma espécie endémica da Região, também era utilizada na ilha para o fabrico de doce e aguardente, costume que caiu no esquecimento. Também em desaparecimento em São Jorge estão o linho e o pastel que durante anos foram recursos económicos importantes.
(In Diário Insular)

Ilhas são os territórios mais vulneráveis às alterações climáticas

Diário Insular - Uma tese de mestrado defendida na Universidade dos Açores conclui que 96 por cento dos terceirenses têm receio das alterações climáticas, mas colocam o terrorismo e a SIDA no topo dos seus medos. Sabendo-se que as alterações climáticas podem ser destrutivas à escala global, o que estará na base desta hierarquia?
Prof. Brito de Azevedo - Se há fenómeno que tenha merecido ultimamente a atenção dos órgãos de informação é o das mudanças climáticas. A explicação para os resultados do inquérito assenta, eventualmente, nos nossos mecanismos mais primários de defesa face às ameaças. Ameaças fisicamente mais próximas (segurança da família, saúde, etc.), ou sobre as quais podemos ter algum controlo directo, ocupam um lugar prioritário nas nossas preocupações e na nossa forma de actuar.
Diário Insular - Há na Terceira – dizem os estudos – uma elevada propensão para alterar hábitos, como partilhar o automóvel ou andar a pé. No entanto, sabemos que estas mudanças só acontecem de facto se forem tomadas medidas concretas pelos decisores políticos. Parece-lhe que tais medidas já se justificam no nosso espaço geográfico?
Prof. Brito de Azevedo - Veja-se o resultado do estudo. Face à dimensão do fenómeno e à rapidez da sua evolução, a mitigação do problema não se compadece com o tempo necessário à mudança colectiva de mentalidades. Para além do contributo individual que cada um possa dar, só através de políticas de escala é que se podem esperar resultados. Diário Insular - A população local, embora se preocupe com os problemas climáticas, tende a pensar que as coisas más acontecem sobretudo aos outros. No nosso caso concreto, será realista pensar assim?
Prof. Brito de Azevedo - Não. As ilhas, umas mais do que outras, apresentam-se como dos territórios com menor capacidade de adaptação e mais vulneráveis. Em particular no que se refere às disponibilidades hídricas. Nas ilhas o clima é a única fonte natural de água doce e também condiciona importantes mecanismos relacionados com o seu retorno à atmosfera ou aos oceanos. No nosso caso, e atendendo à fraca capacidade de retenção hídrica, típica dos territórios de origem vulcânica, a menores amplitudes da alteração climática expectável podem, à escala regional, corresponder impactos ambientais e socioeconómicos mais problemáticos. Diário Insular - O descontrolo climático é uma questão conjuntural ou tende a ser um problema estrutural, com retrocesso mais do que incerto?
Prof. Brito de Azevedo – É cada vez mais uma questão estrutural a que nos teremos de adaptar. Com muita incerteza pela frente!

terça-feira, julho 10, 2007

Conservar a tradição vitivinícola

O Arquipélago dos Açores tem uma grande tradição Vitivinícola, sobretudo as Ilhas do Pico, Terceira e Graciosa, afirma Maria Teresa Lima, professora do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores.
A vinha foi no passado um sector de grande interesse económico, social, e que por razões várias veio a diminuir. A década de 90 do século passado deu um novo impulso à vitivinicultura com a criação das regiões demarcadas. Actualmente, na freguesia dos Biscoitos, na ilha Terceira, cerca de 85 % da área de vinha está abandonada, devido à falta de mão-de-obra e são as pessoas mais antigas que mantém esta cultura. Os mais novos não estão minimamente sensibilizados para isso. A Universidade dos Açores e a Escola Básica Integrada dos Biscoitos através do CITA- A (Centro de Investigação Tecnológica Agrária dos Açores), Europe Direct e com o apoio da Secretaria Regional da Agricultura e Florestas, estão a desenvolver um programa, nesta escola, para a Sensibilização das Crianças para a Cultura da Vinha. O objectivo é a sua preservação, torná-la sustentável, manter e valorizar esta paisagem ímpar.
"Não nos limitaremos à observação", afirma a Professora Teresa Lima. Os alunos irão acompanhar o ciclo da vinha, aprendendo as diferentes operações e executando-as, inclusive a laboração do vinho. Pensa-se que esta acção poderá deixar, às 14 crianças que a irão frequentar, sementes preciosas em ordem a criar o gosto pela vinha, incorporar a sua importância social, económica, ambiental, cultural e turística. Assim está-se a contribuir no sentido da gestão e conservação da natureza da Região Vitivinícola dos Biscoitos.

(In Diário Insular)