Protecção de sistemas hidrológicos
Francisco Cota Rodrigues, professor do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores defende que a qualidade da água captada para consumo humano nos Açores depende da protecção dos sistemas hidrológicos.
Diário Insular (DI)-Os açorianos, e em particular os terceirenses, podem ou não confiar na qualidade da água que bebem?
Francisco Cota Rodrigues (CR)- A qualidade das águas para consumo humano nos Açores é diversificada. Essa diferenciação deve-se, por um lado, à elevada vulnerabilidade dos sistemas aquíferos captados, quando a água é subterrânea, e, por outro, a deficiências nos sistemas de captação, tratamento e distribuição. No caso específico da ilha Terceira, em ambos os concelhos, a água apresenta boa qualidade, conforme foi recentemente divulgado pelo Instituto Regulador de Aguas e Resíduos (IRAR). Existem, contudo, algumas situações a resolver, associadas à inexistência de áreas de protecção de nascentes e aquíferos, a fenómenos de intrusão de água do mar e às características geoquímicas dos terrenos.
DI-Como estamos ao nível de reservas de água?
CR-As reservas subterrâneas de água nos Açores estão associadas a aquíferos suspensos e de base. Os aquíferos suspensos têm, na generalidade dos casos, capacidades de armazenamento baixas, sendo a água de melhor qualidade. O aquífero de base, não obstante apresentar grandes volumes de água doce, apresenta problemas de exploração devido a fenómenos de intrusão marinha. A maior parte da água actualmente captada na Terceira provém de aquíferos suspensos, os quais são extremamente susceptíveis a variações na distribuição da precipitação. Se as previsíveis alterações climáticas implicarem períodos longos sem precipitação, teremos reduções de caudal nestes sistemas, o que implicará, necessariamente, uma exploração cada vez maior do aquífero de base, deteriorando-se qualidade da água devido à intrusão marinha.
DI-Efectuaram-se recentemente trabalhos de prospecção de energia geotérmica na ilha Terceira. Essas perfurações poderão afectar a qualidade dos recursos hídricos subterrâneos?
CR- Qualquer perfuração profunda pode interceptar sistemas aquíferos e, consequentemente, ter implicações nos recursos hídricos subterrâneos. Pelo conhecimento que tenho não houve impactos negativos no meio hídrico subterrâneo directamente relacionados com as perfurações que refere, uma vez que a entidade que as realizou tomou uma série de medidas cautelares que se revelaram eficazes.
DI-Quais são, actualmente, os maiores desafios que se colocam à gestão sustentável dos nossos recursos hídricos?
CR-O maior desafio que hoje se põe ao nível do abastecimento de água nos Açores prende-se com a gestão integrada dos recursos em cada ilha, dando-se especial atenção à protecção dos sistemas hidrológicos insulares, a qual deverá ser conjugada com uma aposta cada vez maior na formação e inovação.
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