ÁFRICA ANNES - Social perception in environmental risk communication
A Fundação Ciência e Tecnologia aprovou e financiará o projecto "ÁFRICA ANNES - Social perception in environmental risk communication" dirigido por António Félix Flores Rodrigues do Departamento de Ciências Agrárias e no qual participam os Professores Emiliana Leonilde Diniz Gil Soares da Silva, Paulo Alexandre Vieira Borges e Rosalina Maria de Almeida Gabriel do Departamento de Ciências Agrárias e Suzana Nunes Caldeira, Ana Margarida Moura de Oliveira Arroz, Ana Cristina Pires Palos e Isabel Maria Gogumbreiro Estrela Rego do Departamento de Ciências da Educação da Universidade dos Açores.
Desde a Declaração do Rio, em 1992, que foi reconhecida a indissociabilidade da protecção ambiental e do processo de desenvolvimento social, ao mesmo tempo que a participação social – enquanto “acesso adequado (e efectivo) à informação relativa ao ambiente” e oportunidade de todos se implicarem nos processos de decisão – surge priorizada. Apesar destas intenções e da sua reafirmação, nas declarações mundiais e europeias posteriores, “as práticas – políticas, económicas, sociais – de escala internacional ao longo da última década e, mais ainda, na viragem para o novo século têm demonstrado contradições, dificuldades, bloqueios e mesmo retrocessos graves em todas estas boas intenções” (Schmidt & Valente, 2004, p. 28). A responsabilidade pela persistência, e eventual agravamento, dos problemas ambientais não pode, contudo, ser imputada exclusivamente aos decisores. O academismo da produção científica e a erudição dos seus enunciados, por um lado, e o alheamento dos cidadãos, por outro lado, têm dificultado a implicação de todos os intervenientes numa acção eficaz. Incidindo no estudo dos riscos associados a um conjunto diversificado de problemas ambientais, naturais e manufacturados, e reunindo um grupo multidisciplinar de especialistas, este projecto visa promover a aproximação entre a comunidade científica, os decisores e as populações, através da concepção de dispositivos de comunicação que suportem processos de tomada de decisão mais informados e responsabilizem os implicados na mitigação de fontes de risco e/ou das suas consequências. Focando a realidade açoriana, elegem-se como contextos de risco: a utilização de recursos hídricos e energéticos, a aviação civil, as alterações climáticas e o aquecimento global, as pragas animais e vegetais e a manipulação de substâncias tóxicas em meio hospitalar. Assume-se que a estruturação e mediação de um processo de comunicação de risco –necessariamente ajustado às particularidades de cada situação concreta – implica a conjugação do risco percebido por populações, peritos e decisores, a apreensão das representações recíprocas sobre os papéis a desempenhar e a qualidade da resposta actual ao risco, bem como a identificação dos factores de credibilização e de desacreditação associados à mensagem, ao interlocutor, ao meio de comunicação e ao tipo de audiência. Em termos operativos, este projecto contempla três vertentes ou tarefas. A primeira incide sobre as percepções de risco, tornando salientes as suas condicionantes sócio-culturais. Na sequência das diversas significações que as populações atribuem a um conjunto de riscos ambientais terem sido identificadas em estudos exploratórios prévios, mediante abordagens extensivas, foram seleccionados os grupos-alvo cujas percepções revelavam maior alheamento e/ou deficit de informação. Um estudo empírico mais aprofundado e intensivo dessas comunidades interpretativas corporiza o objecto de estudo nesta componente. Paralelamente, proceder-se-á a avaliações periciais e a análises documentais dos normativos, programas e políticas, com vista a discriminar as modalidades científicas e institucionais de interpretar o risco. Considerando que os mass media constituem um importante fórum na produção de opinião, influenciando as agendas públicas e políticas (Schmidt & Ferreira, 2004), importa ainda identificar o modo como estes riscos são abordados na comunicação social. A informação produzida a este nível orientará a discriminação dos objectivos de acção que, relativamente a cada risco e no âmbito comunicacional, conduzirão intervenções posteriores. Adoptando uma idêntica abordagem metodológica, a segunda tarefa direcciona-se para a caracterização das condicionantes relativas aos processos de influência social e de responsabilização pública na comunicação do risco, junto dos grupos-alvo anteriormente definidos. Informar a concepção de dispositivos de intervenção específicos e a delineação de estratégias de comunicação ajustadas às características desses públicos constituem a informação de saída desta fase. A última componente deste projecto corresponde à implementação e avaliação de tais dispositivos de comunicação. Prosseguindo um modelo de participação interactiva na governance dos riscos ambientais, pretende-se produzir conhecimento acerca das dinâmicas e mecanismos da participação pública e derivar heurísticas passíveis de serem implicadas contextualmente em processos similares.
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