terça-feira, janeiro 06, 2009

Leite precisa de concorrência

Para o presidente da AAIT, a Pronicol (que transforma o leite produzido na Terceira) é “o parente pobre do grupo Lactogal”. Daí que as mais-valias reconhecidas ao leite terceirense não estejam a ser rentabilizadas. Paulo Simões diz que é tempo deste modelo ser repensado. E que são necessárias alternativas. No leite. Mas também na carne.
Os lavradores terceirenses não têm qualquer influência na comercialização do leite que produzem. Há, em sua opinião, alguma forma de garantir aos produtores mais alguns ganhos, que, hoje, se perdem entre a transformação e a comercialização?
Existem várias formas. Penso, aliás, que é tempo de se começar a pensar noutras soluções para o leite da ilha Terceira, que não a que temos actualmente. Temos duas queijarias privadas na ilha, que, pelo que sabemos, têm a sua produção vendida. Mas o grosso da produção é absorvido pela Pronicol, através de uma parceria de venda com a Unicol. Essa produção resulta em produtos sem marca que poucas valias trazem. Penso que a própria Unicol terá de repensar a sua posição junto da Pronicol e começar a avançar para uma produção com a marca Açores, uma marca que vende lá fora. Sabemos que os produtos produzidos na Região e com a marca Açores são alvo de apoios importantes, sobretudo ao nível do transporte. Sendo tudo isto mais-valias que não estão a ser aproveitadas.
O que falta para isso acontecer?
Falta aparecer outra empresa que queira transformar leite da Terceira da mesma forma que o faz a Lactaçores, que absorve leite produzido em São Miguel, em São Jorge e no Faial.
Houve algum episódio de quem tenha manifestado intenção de explorar uma unidade de produção na Terceira, para lá da Pronicol?
Há uns anos, tivemos cá empresários que manifestaram a intenção de construir na Terceira uma unidade de transformação de leite. Mas, na altura, o que travou o processo foi a inexistência de produtores que abastecessem essa fábrica. Pelo que sei, terá sido dito por alguém com ligações à Unicol que quem deixasse de vender o seu leite à cooperativa que se as coisas corressem mal não havia regresso. A experiência ficou por aí, porque nenhum produtor quis arriscar.
Seria viável uma solução em que um grupo de produtores se associasse e, através de uma parceria público-privada, um conjunto de gestores profissionais orientasse a transformação e, sobretudo, a comercialização?
A ideia poderia vingar. Mas duvido da eficácia de uma parceria público-privada num projecto dessa natureza. Acredito mais na possibilidade de uma solução cooperativa ou privada.
Falta concorrência na transformação e na comercialização dos produtos agrícolas da ilha?
Pode-se dizer que sim. Mas também não nos podemos esquecer que a Unicol é uma cooperativa…


E funciona como tal?
Mais ou menos. Penso que a Unicol tem feito um bom trabalho junto dos agricultores, garantindo-lhes factores de produção a preços razoáveis. Não nos podemos esquecer desse seu papel. Relativamente ao leite, a Unicol, em boa verdade, faz o que pode. Percebo a sua direcção, que se encontra numa posição ingrata: fazem parte da empresa que lhes compra o leite e não têm a maioria nela, sujeitando-se à vontade de outros…
Voltando à falta de concorrência…
É o que lhe dizia: pode dizer-se que a falta de concorrência da transformação causa problemas ao sector. Mas a situação é complexa…
A Associação Agrícola da Terceira poderia ter uma palavra a dizer na transformação e comercialização?
Por que não? A Associação tem vindo a firmar-se como uma prestadora de serviços. E já foi contactada diversas vezes para servir como fornecedora de produtos agrícolas. Daí que já tenhamos pensado em avançar por esse trilho…
Mas a AAIT teria capacidade de se colocar no mercado como uma alternativa comercial?
Acho que poderia ter um papel nesse circuito. Poderia começar-se de baixo, com um pequeno projecto produtivo, aproveitando as estruturas que existem na ilha. Quer para a carne quer para o leite. Estas infra-estruturas existem, mas não estão a dar a resposta esperada pelos produtores. E a AAIT pode inverter essa situação.
Como?
Por exemplo, a associação poderia formar uma pequena cooperativa que comprasse leite e, recorrendo à aquisição de um tanque de frio, uma máquina de pasteurização e outra de empacotamento, poderia colocar no mercado um produto com uma marca diferenciada, que reflectisse as mais valias do leite produzido na ilha. Há apoios governamentais para estas estruturas. E poderíamos avançar para uma comercialização num trajecto de dentro para fora. E esse fora deveria ser para lá da Europa, nomeadamente para África, que procura leite e carne. É uma ideia. Temos conversado na AAIT sobre ela. Claro que falamos aqui numa ajuda, um complemento, e não numa alternativa ao que existe.
Porque a Terceira perdeu as suas marcas?
Perdeu-as a partir do dia em que a Unicol fez a parceria com o grupo Lactogal, através da empresa Pronicol. A Unicol detém 49 por cento da Pronicol, não tendo, por isso, poder dentro da estrutura decisiva. Esta solução apareceu numa altura em que a Unicol atravessava graves problemas financeiros, com muitos lavradores a esperarem seis e sete meses pelos pagamentos do leite. Reconheço que, daí para cá, nunca mais se assistiu a um atraso no pagamento. Mas a permanência num grupo muito mais vasto, que leva à produção de produtos sem marca, não está, actualmente, a garantir mais rendimentos aos produtores da ilha. Somos o parente pobre da Lactogal, porque a Pronicol é a empresa mais pequena do grupo. A empresa todos os anos dá prejuízo, e sabemos porque assim é.
Seria possível a Pronicol manter-se associada ao grupo Lactogal, mas produzir marcas diferenciadas?
Penso que esse seria o caminho mais adequado. Acho que a Unicol tem condições para tal. Não conheço ao pormenor o acordo entre a Pronicol e a Unicol, sobretudo se esta é obrigado a vender todo o leite à Pronicol. Mas parece-me que a Unicol, com algum do leite que compra na ilha, poderia enveredar por produtos de marca e colocá-los no mercado. Aliás, essa colocação poderia até ser feita internacionalmente para evitar concorrência com os produtos da Lactogal.
Isso obrigaria a uma nova fábrica?
Não. As fábricas existem. É uma questão de se acertar a utilização das infra-estruturas já existentes. Porque nãos e pode produzir leite UHT, leite biológico, queijo de marca da ilha e todo um conjunto de produtos que seriam colocados no mercado, garantindo mais algum rendimento. Parece-me ser uma opção mais sensata do que insistir-se na produção de leite em pó, que poucos ganhos significam para os produtores locais.
Tem falado, nos últimos tempos, do leite biológico. Há condições para tal na Terceira?
Sim. Acredito que sim. Aliás, parece-me que, neste momento, há lavradores na ilha a produzir leite biológico sem o saberem. Este leite é produzido à base de erva e silagens de milho e erva e com pouca ração. Ora, isso é a prática comum cá. Estes lavradores podem é não ter cuidado com os fertilizantes que colocam nas pastagens. Mas seria possível regular esta situação e, a partir daí, enveredar por este tipo de produção, que é muito bem aceite nos mercados mundiais…
E há outros produtos?
Exacto. Temos o queijo e a manteiga, produtos reconhecidos pelos consumidores. Tínhamos, por exemplo, o queijo Castelinho, que quase não se vê no mercado. Assim, há derivados que podemos produzir cá que, quase de certeza, terão aceitação no mercado nacional e internacional.
As explorações agrícolas da Terceira estão organizadas como empresas? Ou ainda se aplica aquela ideia de que o agricultor arruma as facturas e demais papelada num saco de plástico…
A grande maioria das explorações na ilha funciona como empresas. Temos uma geração de agricultores nova – até aos 40/50 anos – que evoluiu muito e que vê a Agricultura como um sector produtivo que deve ser gerido num formato de empresas. Aliás, hoje em dia, as pessoas deixaram de ser agricultores e passaram a ser empresários agrícolas. Portanto, essa mentalidade está a enraizar-se cada vez mais. Claro que ainda há uma pequena franja de produtores que não faz contas: paga o que deve e o que sobrar é seu. Mas, como lhe disse, trata-se de um número muito diminuto, porque a maioria conta ao cêntimo os seus custos e os seus ganhos, e sabem onde ganham e perdem dinheiro na sua exploração.
E é esse o caminho?
Sem qualquer dúvida. Quem não funciona como empresário agrícola acabará por sair do sector a médio prazo. Porque não vão conseguir sobreviver sem o rigor contabilístico que se exige actualmente na gestão de uma exploração agrícola, tal como em qualquer negócio.
Fala-me de uma geração nova a singrar hoje na Agricultura terceirense. Mas diz tratar-se de gente até na casa dos 40/50 anos. A lavoura interessa aos jovens? Ou é um negócio de gerações?
Há gente nova interessada, mas são sempre filhos de lavradores a continuarem o negócio dos pais. Aliás, duvido que possa ser de outra forma, porque sem o apoio dos pais e sem a transferência de terras, máquinas agrícolas e gado, é muito difícil começar uma exploração do zero. É quase impossível.
A maior parte das explorações agrícolas no mundo reflecte o cuidado de dimensionamento das infra-estruturas e do parque de máquinas à produção que ela desenvolve. Nota que esse cuidado também existe cá?
Ainda há alguns exageros, sobretudo ao nível da potência das máquinas agrícolas. Aliás, penso que, actualmente, temos máquinas agrícolas a mais na ilha Terceira. Há quem tenha estes recursos, mas os utilize em períodos muitos curtos no ano. No entanto, como a maior parte dos empresários agrícolas está a fazer contas à vida, é natural que comecem a perceber que, muitas vezes, é preferível pagar a uma empresa de prestação de serviços – e, felizmente, já existem várias na ilha e trabalham a preços razoáveis – do que possuir máquinas que são pouco rentabilizadas. Acredito também que esta é a tendência adequada para o sector.
A extensão rural seria uma mais-valia para a Terceira?
Penso que seria uma grande valia…
O que falta para ela ser implementada?
Não sei se vontade política.
O relacionamento entre os lavradores e a Universidade dos Açores acontece? É regular? Ou ainda se encontram muito de costas voltadas?
Não diria que estão totalmente de costas voltadas. Mas, por vezes, caminham sem sentido contrário. Por isso, entendo que há mais a fazer para que as partes gerem sinergias entre elas. De qualquer modo, posso garantir-lhe que, no que diz respeito á Associação Agrícola da Terceira, o Departamento de Ciências Agrárias tem demonstrado grande abertura para cooperar connosco. Acho que, algumas vezes, os produtores não procuram os universitários. Assim, a investigação acaba por não estar tão próxima da produção como deveria estar. Aliás, acho que neste sector a investigação, a produção e o Governo Regional deviam manter uma permanente cooperação. O que não acontece. O que é mau, na minha perspectiva. Tem que haver um maior aprofundamento nesta relação entre produção, investigação e decisores políticos.
A médio prazo, qual é a grande necessidade do lavrador terceirense?
O abastecimento de água e de electricidade nas explorações. Há anos que esta situação se arrasta. Muito tem sido feito, mas ainda há muito por fazer. Estamos bem servidos em termos de estradas, mas esta infra-estruturação é fundamental para que cada empresário agrícola possa melhorar a sua produção.
O emparcelamento é uma solução importante?
Sim. Tem-se feito algum, mas a um ritmo muito pequeno. Só em aquisições de terrenos é que temos verificado essa prática. As trocas são quase inexistentes. Esta é uma solução que devia ter uma concretização mais célere.
O Centro de Leite e de Lacticínios, anunciado pelo Governo Regional, traz alguma valia ao sector?
Interesse tem e muito. Na última reunião em que se abordou o assunto, assistimos a um impasse – e não sei se é ele que trava o processo: na formação dos corpos sociais, a indústria pretendia 50 por cento e os produtores os restantes 50 por cento. A Associação Agrícola da Terceira propôs que deve existir uma terceira entidade no processo, a investigação. Mas nunca mais houve contactos connosco sobre este assunto. Penso que são politiquices o que está a suster esse projecto. O Governo Regional diz que o projecto não anda porque os industriais e os produtores não querem. Mas não sei se é bem assim. Se a ideia partiu do executivo, ele devia levá-la até ao fim.
E o parque de exposições da Terceira…
É uma necessidade urgente. Não só pela feira anual, mas sobretudo pelo mercado agrícola semanal. São muitas centenas de pessoas que frequentam esse mercado e este parque de exposições daria melhores condições a essa realidade.
O mercado agrícola devia ser alargado e potenciado?
Sem dúvida. De qualquer forma, entendo que o formato de funcionamento deve ser o que existe hoje. São necessárias melhores condições e, eventualmente, um alargamento do horário. Em vez de funcionar um só dia, poderia funcionar dois. Aquele mercado representa uma fonte de rendimento importante para quem lá vende. E uma boa oportunidade para quem compra. Aquele espaço não deve ser visto como uma coisa paralela, mas como um espaço de actividade económica importante para o sector agrícola.
Que expectativas existem para 2009 no sector agrícola? Será um ano de crise?
Pode não ser, porque os gasóleos têm vindo a descer consideravelmente. As rações também, uma vez que houve uma grande descida no preço dos cereais. Espera-se também que, nos próximos tempos, o preço dos adubos tenha uma descida na ordem dos 30 por cento. Daí que as expectativas sejam positivas. Se a descida no adubo se verificar e não ocorrer mais nenhuma descida no preço do leite pago ao produtor, teremos um ano razoável e equilibrado. Se bem que, dificilmente, será tão bom como 2008.
Porque 2008 foi um bom ano agrícola?
O primeiro semestre, é certo, foi mau. Os cereais, o gasóleo e os adubos subiram consideravelmente de preço. Mas o leite também subiu 15 escudos. No último trimestre, verificou-se uma descida das rações e do gasóleo e o leite manteve o seu preço. Ou seja, tivemos três meses a compensar o primeiro semestre. O que resulta num saldo positivo para os lavradores. Embora a notícia do abaixamento do preço do leite a partir de 01 de Janeiro de 2009 tenha vindo estragar este sentimento.
Actualmente, essa profissão compensa? Manter uma exploração com 30 ou 40 cabeças de gado leiteiro garante um rendimento decente?
Se esse agricultor não tiver muitas rendas a pagar, é viável. Mas se o terreno em uso for todo arrendado e se esse agricultor tiver um compromisso financeiro, a sua vida fica em maus lençóis.
Qual o sentimento dos agricultores terceirenses com o futuro?
Há vários que estão optimistas. Mas os mais pessimistas não acreditam que este sector de actividade tenha futuro. Reconheço que as coisas não estão fáceis. Basta haver uma variação negativa no poder de compra de muitos lavradores para que uma parte considerável deles entre em falência.
Há uma noção de quantas explorações agrícolas na Terceira estão, actualmente, no fio da navalha da sobrevivência?
Penso que uma descida do preço do leite para lá da prevista e a manutenção dos preços dos adubos podem atirar para a falência cerca de 100 explorações agrícolas na ilha. E acredito que durante 2009 alguns lavradores sairão do sector.
Hoje em dia, quantas explorações agrícolas funcionam na Terceira?
Na produção de leite, o número não chega às oito centenas. Em 2009, se o preço do leite baixar mais e o preço do adubo não descer, ficaremos com menos de 700 explorações agrícolas a funcionar na ilha, certamente.
Isso é um problema?
Há quem diga que o número aceitável de explorações na ilha, tendo por base critérios de rentabilidade, é de 500 unidades. Continuo a acreditar que quanta mais gente estiver nesta actividade, melhor para ela. Mas é cada vez mais aceite a teoria de que as explorações agrícolas na Terceira, para serem rentáveis, têm de ser redimensionadas. Os defensores desta visão alegam que o mínimo aceitável no efectivo leiteiro é de 30 a 40 animais por exploração, sendo difícil a sobrevivência abaixo desse número. Embora saibamos que, na ilha, existem explorações com 20 vacas em que o agricultor consegue um bom rendimento. Como existem explorações com mais de 60 cabeças de gado onde o proprietário está em sérias dificuldades financeiras. Mas, durante este quadro comunitário de apoio, os objectivos esperados é conseguir explorações com uma produção de 250 mil litros ao ano, ocupando uma área entre os 25 mil e os 150 e os 200 alqueires de terreno.
Estão previstos mais resgates leiteiros na ilha?
No último Conselho Regional da Agricultura, o secretário regional do sector anunciou um resgate leiteiro em 2010. Penso que ele será aproveitado por vários lavradores na ilha.
Com o abaixamento anunciado do preço do leite na Terceira, há uma noção do seu impacto no rendimento dos agricultores?
As nossas contas indicam que cada agricultor perderá mais de 15 mil euros no seu rendimento anual. Em alguns casos, essa perda pode ascender aos 50 mil ou 75 mil euros. Falo aqui de explorações agrícolas com as suas contas estabilizadas.
Os lavradores conseguem aguentar essas perdas?
Não têm outro remédio senão aguentar. A expectativa é que as coisas não se agravem mais do que o previsto. A tendência dos mercados é de o preço do leite continuar a descer, nomeadamente na Europa, mas não acreditamos que desça muito mais, senão muita gente na Europa ficará no desemprego.
Durante 2008, os lavradores da Terceira, além dos problemas vindos de fora, viveram a braços com a falta de água…
Exacto. O que trouxe mais custos. Não tenho dados que me permitam dizer qual o impacto real nos custos de cada exploração. Mas é certo que houve impacto. Embora não nos possamos esquecer que o Instituto Regional do Ordenamento Agrícola (IROA) e as câmaras municipais, sobretudo a de Angra do Heroísmo, fizeram um grande esforço para atenuar a falta de água na lavoura. Houve camiões-cisterna a carregar água para alguns postos de abastecimento constantemente. Portanto, houve custos, mas nada se podia fazer outra coisa senão isto. Foi uma despesa que não tínhamos previsto, mas teve de ser.
Com o fim da quota leiteira a partir de 2015, como fica o sector?
O Governo tem estado a procurar minimizar esse impacto. Segundo sabemos, a ideia, actualmente, é tentar transformar a quota em POSEI, ou seja, continuar, após 2015, a vinda dos apoios financeiros das quotas sob outro formato. Se isso for conseguido, parece-me que o desaparecimento da quota leiteira não terá grande impacto nos Açores. Se tal não for possível, assistiremos um impacto enorme, porque não temos condições para competir com as grandes potências produtoras da Europa.
É comum dizer-se que a Agricultura é um dos sectores mais dependentes dos apoios governamentais e comunitários. Há quem garanta que, em algumas explorações, 70 por cento do seu rendimento é administrativo. Este é um sector que não consegue existir sem esses apoios?
A lavoura açoriana consegue sobreviver sem esses dinheiros. Os nossos colegas no Continente têm mais custos de produção do que nós, que conseguimos fazer leite com base na pastagem e nas silagens de milho e erva. E com pouco concentrado. Ao invés, no Continente, tudo é comprado. Fazer leite no Continente é mais caro do que o fazer aqui. Daí conseguirmos sobreviver a qualquer crise…
Mas uma exploração cá consegue sobreviver sem esses fundos?
Penso que sim. Mas tal implica um aumento da produção. O que não é possível actualmente, perante os preços tão baixos no mercado. De qualquer forma, convém explicar que os apoios da União Europeia não existem para sustentar os agricultores. Existem para manter os produtos básicos a preços baixos para toda a população. Esse é que é o objectivo dos subsídios comunitários. A Agricultura é acusada de ser uma “papa-subsídios”, mas a verdade é que o sector nunca pediu esses apoios. É uma política da União Europeia. Apenas isso.
A produção de carne continua a não descolar…
Penso que a carne IGP está no seu primeiro ano de comercialização. Tem mercado, embora junto do agricultor não tenha tido o reflexo esperado em termos financeiros. Ela é paga a três euros ao produtor e é vendida a mais de 12 euros, havendo casos em que o seu preço ronda os 20 euros. Quer isto dizer que há valor que poderia ser redistribuído de outra forma, porque ela surgir no mercado com 600 por cento de acréscimo ao seu preço de aquisição ao produtor é errado. Talvez a carne IGP padeça do mesmo mal que o leite: precise de concorrência, ou, pelo menos, de uma alternativa. Parece-me que elas podem aparecer em breve.
De onde? Do seio dos produtores?
Sim…
Num sistema cooperativo?
Sim. Ou mesmo através de outra empresa existente. Independentemente do modelo, entendo que é saudável existir concorrência. Ninguém deve estar sozinho do mercado.

(In DI - Revista)

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