terça-feira, fevereiro 10, 2009

Cabo Verde

Tomaz Dentinho

No passado fim-de-semana estive na Ilha de Santiago, em Cabo Verde, para preparar o 1º Congresso de Ciência Regional daquele país lusófono que se realiza de 6 a 11 de Julho próximo. O evento será também o 2º Congresso Lusófono de Ciência Regional porque o primeiro se realizou em Angra do Heroísmo há dois anos. Será ainda o 15º Congresso da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Regional e o 3º de Gestão e Conservação da Natureza. Há toda a vantagem em juntar encontros científicos compatibilizáveis de forma a possibilitar economias de escala na marcação de viagens e de hotéis, no convite de cientistas de renome internacional e na eficiência dos trabalhos de secretariado. Até ao momento já temos 250 comunicações propostas e esperam-se mais 30 de Cabo Verde e, assim gostaríamos, mais 20 de Angola.
O encontro é importante não só pelo conteúdo dos trabalhos que serão apresentados nesta altura de crise global e de localidades mas também pelo passo que pode constituir para o lançamento da ciência dedicada ao desenvolvimento regional nos países lusófonos e em toda a África. Para o ano de 2010 estamos a programar um grande encontro internacional de Ciência Regional no Huambo em Angola onde esperamos que possa ser lançada a Associação Africana de Ciência Regional a acrescentar àquelas que existem na Europa, na América e no Pacífico congregando cerca de 15000 cientistas. E para 2011 já sonhamos com Ouagadugu no Burkina Fasso aproveitando a rede de cientistas cabo-verdianos que trabalham nas instituições internacionais por toda África. Basta sonhar e, incrivelmente, o projecto acontece.
Terá sido assim que fizeram os cabo-verdianos com o seu país. Há vinte anos visitei-os a convite do então aluno João Pedro Barreiros na viagem de fim de curso da sua turma. O aeroporto do Sal estava então cheio de batalhões cubanos que regressavam de Angola e ainda se notava aqui e além alguma reacção aos portugueses. Lembro-me de nessa altura ter feito um pequeno estudo comparativo entre os Açores e Cabo Verde demonstrando que poderiam convergir para o mesmo nível de desenvolvimento. Por cá ficaram escandalizados mas hoje já têm menos problemas em aceitar os bons efeitos de políticas traçadas com recursos escassos. Há dez anos organizámos lá o primeiro curso de pós graduação em gestão e conservação da natureza e notámos o enorme avanço conseguido em apenas dez anos. Hoje, passados vinte anos do primeiro encontro, o crescimento é marcante com grande parte das barracas de bloco transformados em prédios e moradias e, sobretudo, com um forte desígnio por parte dos dirigentes do Governo e da Oposição.
Se olharmos para o conjunto do Arquipélago de Cabo Verde temos dificuldade em perspectivar o desenvolvimento daquele país. No entanto, conversando com os responsáveis de cada município percebemos a força das estratégias de desenvolvimento que decidiram implementar. A Assomada, no interior de Santiago está a dar passos marcantes para ser a capital de serviços da Ilha ficando a Praia apenas como capital administrativa do país. É como se Vila Franca quisesse ser a capital de São Miguel ficando Ponta Delgada ou Angra como capital dos Açores.
Demos o mesmo passeio de há dez e vinte anos atrás pelo Tarrafal mas, como desta vez era inverno, foi simpático ver os campos de feijão com elevadas produções também mais verdes e com mais socalcos fruto da estratégia de conservação dos solos. Sobretudo foi marcante ver as Igrejas cheias, a transbordar para a rua, com a missa entremeando entre a saudade do português e a musicalidade do criolo.
(In A União)

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