domingo, fevereiro 08, 2009

Zonas húmidas distinguem os Açores

O director regional do Ambiente adiantou que é tempo dos planos existentes para a gestão das zonas húmidas serem concretizados. Os documentos que existem, de facto, garantem a protecção destas zonas? Existe um conjunto alargado de instrumentos de gestão de zonas húmidas, quer derivado a compromissos internacionais – Convenção de Ramsaar, Directiva Habitats, etc. – quer a nacionais e regionais, a que haverá que adicionar os Parques naturais de ilha, em implementação. Algumas zonas têm mesmo planos especiais e específicos, como grandes lagoas, ou o plano de gestão da Rede Natura, que tive a honra de coordenar. A implementação desses planos será, sem dúvida, um grande desafio e um enorme passo em frente para a Região, considerando os valores ambientais e os recursos naturais envolvidos. Se os documentos que existem são suficientes ou não, só a sua implementação o dirá. Como em muitas outras áreas, haverá conflitos a resolver, sobreposição de competências e sensibilidades a conquistar. Certamente que um trabalho de gestão adaptativa terá de ser feito, mas ficaremos muito melhor com a sua implementação e novos desafios irão aparecer durante a sua aplicação, no sentido de encontrar o equilíbrio entre os diferentes valores em jogo.
Para os Açores, o que significam as zonas húmidas que o arquipélago comporta?
Os Açores - como dava o mote na recente palestra que proferi nas comemorações do Dia Mundial das Zonas Húmidas, na Câmara da Praia - ficam entre o mar e as nuvens e são muito destes dois mundos de zonas húmidas (porque as zonas costeiras também são consideradas zonas húmidas). Por isso, grande parte dos ambientes são zonas húmidas, com as quais teremos de aprender a lidar e a cuidar. Grande parte dos nossos valores naturais e recursos vem delas e alguns dos cuidados e catástrofes também. Não é por acaso que a maioria dos ícones da paisagem dos Açores incluem estas zonas (lagoas, costas…), mas também alguns dos nossos problemas, como cheias e derrocadas.
E que valor económico e turístico têm, ou podem ter?
Bem, como dizia, grande parte dos nossos ícones turísticos vem de zonas húmidas – Lagoa das Sete Cidades, lagoas das Flores, Caldeirão do Corvo, etc. – e o nosso futuro de ecoturismo passa certamente por elas, desde o mergulho à observação de aves. A sua extensão, nas ilhas, é tão grande que se as excluirmos ficamos com quase nada. Elas envolvem-nos e sustentam-nos, tornam os Açores no que eles são de distintos. Quanto ao valor económico noutras áreas, as recentes discussões sobre o valor das turfeiras na regulação da água é bem exemplificativo. Mas podíamos juntar o controle da erosão, o suporte para a biodiversidade, etc.
Acha que a população açoriana está desperta, ou reconhece, a importância dessas zonas? Porquê?
Creio que existe um longo percurso para entendermos a natureza dos Açores, as suas particularidades e valores, para aprendermos a viver com ela num equilíbrio sustentado e percebermos que existem forças que modelam estas ilhas e geram recursos que nos são caros. Compreender o valor que tem para nós e ajustar os nossos padrões de vida e de desenvolvimento às condicionantes do meio são atitudes inteligentes e revelam identidade cultural.
(In Diário Insular)

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