A Universidade dos Açores comemora hoje 34 anos de existência. A efeméride é celebrada na Horta com um conjunto de actividades, que tiveram início durante o dia de ontem.Pelas 15h30, de hoje, serão inauguradas as novas instalações do Departamento de Oceanografia e Pescas (DOP), num acto que reforça a tripolaridade da universidade. O pólo da Horta está agora instalado no edifício do antigo Hospital Walter Bensaúde. Para Ricardo Serrão Santo, responsável do DOP, o departamento é um dos locais de investigação que “orgulha a Europa”. “Estamos com as pessoas que fazem investigação de ponta na Europa”, assegurou o biólogo em declarações à agência Lusa, numa referência aos inúmeros projectos de investigação em curso.O departamento integra cerca de uma centena de pessoas, das quais 28 são doutorandos, estando envolvido em inúmeros projectos de investigação ligados ao mar.Ricardo Serrão Santos espera que a situação possa ainda melhorar com a mudança para as novas instalações. “Há mais de 20 anos que estamos a trabalhar em instalações provisórias, com laboratórios que funcionam em pré-fabricados e não podem ser certificados”, salientou. “É um salto qualitativo muito importante, temos uma grande expectativa”, frisou Ricardo Serrão Santos, acrescentando que as novas instalações permitirão uma “aposta maior no ensino e na pós-graduação”.O DOP é o maior centro de investigação registado na Fundação para a Ciência e Tecnologia, dedicando-se à investigação relacionada com a conservação da vida marinha e o uso sustentável do oceano, especialmente na região dos Açores.Com créditos firmados internacionalmente, o DOP orgulha-se de ter uma “taxa de sucesso de 80 por cento” nas candidaturas que apresenta para financiamento pela União Europeia. “Este é um dos locais de investigação que orgulha a Europa”, salientou Ricardo Serrão Santos, destacando o projecto HERMIONE (Hotspot Ecosystem Research and Man’s Impacto n European Seas), que abrange todo o Nordeste do Oceano Atlântico e o Mediterrâneo.O HERMIONE visa o estudo dos efeitos das mudanças climáticas na exploração do mar profundo, sendo o DOP responsável pelo estudo dos montes submarinos.Os investigadores da Universidade dos Açores estão também envolvidos, entre muitos outros, no projecto ESONET (European Seas Observatory Network), que tem como objectivo a criação de uma rede europeia de observatórios dos fundos marinhos.“O objectivo é criar cinco observatórios nos mares europeus e uma das zonas mais importantes é nos Açores”, salientou o responsável do DOP.O DOP é o 14.º departamento universitário a nível mundial na investigação dos ecossistemas hidrotermais quimossintéticos de grande profundidade, contribuindo de forma decisiva para que Portugal seja o oitavo país do mundo nesta difícil área de investigação.Ainda hoje, por volta das 17h30, o Reitor da Universidade dos Açores, preside a uma Sessão Solene no Teatro Faialense, em que a Oração de Sapiência, sobre o tema “A influência da Oscilação do Atlântico Norte (OAN) na variabilidade climática inter-anual do Oceano Atlântico Nordeste” , a cargo da investigadora do DOP, Ana Martins.Pelas 16h30, no mesmo local, as Universidades dos Açores e de Coimbra procederão à assinatura de uma adenda ao protocolo do Ciclo Básico de Medicina, que acresce a duração do curso para três anos na universidade açoriana.
REITOR DA ACADEMIA AÇORIANA DESTACA CONTRIBUTO DA INSTITUIÇÃO NO DESENVOLVIMENTO DA REGIÃO
Avelino Meneses apela à investigaçãoe reafirma tripolaridade da universidade
Criada em 1976, a Universidade dos Açores, é de acordo com o actual reitor, Avelino Meneses, “um dos principais instrumentos indutores de desenvolvimento” dos Açores. “Nas últimas três décadas (a universidade) ajudou muito na transformação das ilhas”, afirmou o reitor, em declarações à agência Lusa, a propósito das comemorações dos 34 anos da instituição. Avelino Menezes salientou o contributo que a universidade tem dado ao nível da qualificação dos recursos humanos, área que considerou “fundamental para a região ganhar competitividade”.Depois de resolvido o problema em Ponta Delgada e de inaugurado o Departamento de Oceanografia e Pescas, resta inaugurar as instalações de Angra do Heroísmo.Para o futuro, “com meios humanos mais qualificados e meios materiais mais adequados”, o reitor garantiu que a universidade “vai continuar a ser um instrumento de desenvolvimento”.A concretização deste objectivo exige, no entanto, meios financeiros adequados. Por isso Avelino Meneses relembrou que “as universidades portuguesas têm passado por uma situação de sub-financiamento, carecendo de meios para cumprir a sua missão”.A Universidade dos Açores tem actualmente cerca de 4000 alunos, distribuídos pelos pólos de Ponta Delgada, Angra do Heroísmo e Horta.“A universidade não pode perder de vista o arquipélago, pelo que a sua oferta de ensino tem em atenção as necessidades e expectativas da sociedade regional”, frisou o reitor.Apesar dessa aposta na região, a Universidade dos Açores não deixa de estar também aberta ao exterior, sendo um quinto dos seus estudantes oriundos de fora do arquipélago. “Somos uma das universidades portuguesas com mais estudantes do exterior”, destacou.Ao longo das últimas três décadas, a Universidade dos Açores tem também vindo a destacar-se na investigação científica, especialmente ao nível das Ciências do Mar e das Ciências Agrárias, duas áreas de grande importância no arquipélago.“A investigação é a actividade basilar de qualquer universidade, até porque a investigação e o ensino estão intimamente relacionados”, afirmou o reitor da instituição.Avelino Meneses reafirmou a opção pela tripolaridade. “Há alguns anos (devido à falta de instalações adequadas) chegou a ser questionado o modelo tripolar, mas as coisas mudaram e hoje está garantida a tripolaridade”, afirmou Avelino Meneses.É certo que a Universidade dos Açores não vai criar infra-estruturas em todas as ilhas, mas o reitor assegurou que, “com recurso às novas tecnologias, será possível levar as suas acções até mais perto dos açorianos”.
MÁRIO RUIVO foi distinguido pela UAç
Mário Ruivo
Doutorhonoris causa
As comemorações dos 34 anos da Universidade dos Açores tiveram início com a cerimónia de atribuição do título de Doutor Honoris Causa ao investigador Mário Ruivo. Com cerca de 50 anos de carreira, o especialista em Ciências do Mar é distinguido pela universidade, pelo trabalho desenvolvido na área. O novo doutor Honoris Causa pela Universidade dos Açores realçou o desenvolvimento que a investigação marinha registou ao longo dos anos, recordando que, quando começou a estudar biologia marinha, “se julgava que não havia vida para além dos 200 metros de profundidade”.Mário Ruivo salientou alguns pormenores da sua longa carreira de investigador marinho, realçando aquele que terá sido o seu projecto mais marcante, a proposta de extensão da plataforma continental marítima, que liga o território nacional à Madeira e aos Açores.A apadrinhar o doutoramento esteve “um velho amigo” do professor universitário, o ex-Presidente da República, Mário Soares. Conheceram-se nos tempos da ditadura. “Estivemos presos em Caxias alguns meses”, lembrou Mário Soares, recordando a luta de ambos, quando eram estudantes universitários, contra o regime salazarista.O ex-Chefe de Estado elogiou Mário Ruivo, que considerou ser “um dos biólogos e oceanógrafos mais reputados científica e internacionalmente”. Durante a cerimónia Soares deixou algumas críticas à atitude dos portugueses.O ex-Presidente da República lamentou o “derrotismo” demonstrado pelos portugueses, que, em tempo de crise, optam por criticar em vez de aproveitarem as potencialidades dos recursos do País.“Quando nos dizem que Portugal é um país pequeno, que Portugal não tem possibilidades de vencer a crise, que Portugal está nas piores situações, isso é completamente desmentido por aquilo que é o nosso espaço marítimo, as nossas potencialidades marítimas e a nossa posição estratégica”, frisou.
(in Diário Insular)