quarta-feira, setembro 19, 2007

As quotas leiteiras na Europa podem ser abolidas em 2012

O Professor Tomaz Dentinho, do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores, explica porque razão em 2012, as quotas leiteiras na Europa podem ser abolidas.
“As quotas leiteiras podem ser abolidas em 2012”. É esta a frase da página 13 do Folha nº 7/2007 da Associação Nacional de Industriais de Lacticínios (ANIL). A informação terá sido impressa no Jornal de Notícias e faz todo o sentido. Na verdade se há um aumento generalizado da procura de leite a nível mundial, a que se associa um aumento acentuado do preço do leite, então não faz qualquer sentido limitar a produção para assegurar o nível de preços ao produtor.
Na página 3 da mesma Folha refere-se que o aumento do preço dos produtos lácteos nos mercados internacionais é impressionante. Desde o ano passado a manteiga subiu de 2500 Euros por tonelada para 3800 Euros por tonelada num aumento de mais de 50%. No mesmo período o Leite em Pó aumentou 100%, passando de 2000 Euros por tonelada em 2006 para 4000 Euros por tonelada em 2007. O soro lácteo, no mesmo período subiu de 700 Euros por tonelada para 1100 euros indicando um crescimento de cerca de 60%. As razões desde aumento generalizado no preço do leite já foram explicadas: um aumento impressionante da procura por parte da Índia e da China e a incapacidade de aumentar a oferta com o mesmo ritmo, também porque o aumento do preço dos cereais condicionou as produções mais artificializadas.
A ANIL também dá a sua explicação para os aumentos do preço do leite ao produtor, que se espera venham a aumentar ainda mais. Primeiro registou-se um recuo da produção no Continente Europeu motivado pelo aumento do preço dos factores produtivos não compensado imediatamente por um aumento do preço do leite. Segundo verifica-se uma falta de matéria-prima ao nível global havendo anúncios de mais aumentos do preço na Alemanha e na Espanha. Em terceiro lugar não tem sido possível transferir animais das zonas menos competitivas para as zonas mais competitivas devido a restrições de ordem sanitária e, finalmente, a indefinição da política comunitária está a condicionar os investimentos na produção nas zonas com mais aptidão produtiva.

Estas notícias são muito boas para os Açores. Por um lado porque é uma das regiões com mais aptidão para a produção de leite no mundo e ainda existe muita capacidade para aumentar a produção em qualidade e em quantidade. Por outro lado porque havendo falta de matéria prima na Índia e na China, e sendo o meio de transporte para esses destinos o marítimo, então os Açores passam a ser mais acessíveis do que muitas zonas do interior europeu ou americano, isto se houver sabedoria para modificar a política marítima. Finalmente porque o peso da produção de leite dos Açores face ao país passa de 25% há uns anos para 40% ou 50% dentro de pouco tempo, o que pode fazer transferir para a Região grande parte do poder da Cadeia de Valor do Leite. Isto se houver capacidade empresarial e política para o fazer.
No entanto há-de também haver aqueles que perdem poder e que se apressarão a restringir os benefícios que se podem vislumbrar para todos. Com a abolição da quota o Governo Regional perde a possibilidade da redistribuir com proveitos políticos para além de ficar com a culpa de não ter implementado o mercado da quota que facilitaria agora a transição para o fim da quota. Porque não existe mercado institucional da quota há lavradores que compraram a quota a um preço elevado e outros que a obtiveram das mãos do Governo. O que vão pensar os primeiros quando, depois de a comprarem por um preço elevado, verificarem que a sua quota não vale nada? Se tivesse havido um mercado organizado o Governo saberia quanto é que teria de compensar quando viesse o anúncio oficial da abolição da quota e esse seria uma compensação justa. Também me dá uma certa satisfação o fim da quota leiteira com o aumento do preço. Por um lado porque sempre disse que a quota era uma aberração embora estivesse muitas vezes sozinho. Mas sobretudo porque vai ser muito melhor para o desenvolvimento dos Açores.

(In A União)

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