As quotas leiteiras na Europa podem ser abolidas em 2012
Na página 3 da mesma Folha refere-se que o aumento do preço dos produtos lácteos nos mercados internacionais é impressionante. Desde o ano passado a manteiga subiu de 2500 Euros por tonelada para 3800 Euros por tonelada num aumento de mais de 50%. No mesmo período o Leite em Pó aumentou 100%, passando de 2000 Euros por tonelada em 2006 para 4000 Euros por tonelada em 2007. O soro lácteo, no mesmo período subiu de 700 Euros por tonelada para 1100 euros indicando um crescimento de cerca de 60%. As razões desde aumento generalizado no preço do leite já foram explicadas: um aumento impressionante da procura por parte da Índia e da China e a incapacidade de aumentar a oferta com o mesmo ritmo, também porque o aumento do preço dos cereais condicionou as produções mais artificializadas.
A ANIL também dá a sua explicação para os aumentos do preço do leite ao produtor, que se espera venham a aumentar ainda mais. Primeiro registou-se um recuo da produção no Continente Europeu motivado pelo aumento do preço dos factores produtivos não compensado imediatamente por um aumento do preço do leite. Segundo verifica-se uma falta de matéria-prima ao nível global havendo anúncios de mais aumentos do preço na Alemanha e na Espanha. Em terceiro lugar não tem sido possível transferir animais das zonas menos competitivas para as zonas mais competitivas devido a restrições de ordem sanitária e, finalmente, a indefinição da política comunitária está a condicionar os investimentos na produção nas zonas com mais aptidão produtiva.
Estas notícias são muito boas para os Açores. Por um lado porque é uma das regiões com mais aptidão para a produção de leite no mundo e ainda existe muita capacidade para aumentar a produção em qualidade e em quantidade. Por outro lado porque havendo falta de matéria prima na Índia e na China, e sendo o meio de transporte para esses destinos o marítimo, então os Açores passam a ser mais acessíveis do que muitas zonas do interior europeu ou americano, isto se houver sabedoria para modificar a política marítima. Finalmente porque o peso da produção de leite dos Açores face ao país passa de 25% há uns anos para 40% ou 50% dentro de pouco tempo, o que pode fazer transferir para a Região grande parte do poder da Cadeia de Valor do Leite. Isto se houver capacidade empresarial e política para o fazer.
No entanto há-de também haver aqueles que perdem poder e que se apressarão a restringir os benefícios que se podem vislumbrar para todos. Com a abolição da quota o Governo Regional perde a possibilidade da redistribuir com proveitos políticos para além de ficar com a culpa de não ter implementado o mercado da quota que facilitaria agora a transição para o fim da quota. Porque não existe mercado institucional da quota há lavradores que compraram a quota a um preço elevado e outros que a obtiveram das mãos do Governo. O que vão pensar os primeiros quando, depois de a comprarem por um preço elevado, verificarem que a sua quota não vale nada? Se tivesse havido um mercado organizado o Governo saberia quanto é que teria de compensar quando viesse o anúncio oficial da abolição da quota e esse seria uma compensação justa. Também me dá uma certa satisfação o fim da quota leiteira com o aumento do preço. Por um lado porque sempre disse que a quota era uma aberração embora estivesse muitas vezes sozinho. Mas sobretudo porque vai ser muito melhor para o desenvolvimento dos Açores.
Etiquetas: Açores, Economia, Europa, Leite, Produtos Açorianos, Quota leiteira, Tomaz Dentinho
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