quarta-feira, setembro 12, 2007

Encontro com a Resistência Iraniana em Paris

O Prof. Tomaz Dentinho, do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores esteve recentemente em Paris, onde se encontrou com a resistência Iraniana.
Neste post é relatada essa experiência:
"Quando visitei Ashraf no Iraque, os iranianos aí residentes não se cansaram de me pedir para dar cumprimentos a Madame Rajavi, líder da resistência iraniana, que reside a cerca de uma hora do centro de Paris. Por intermédio do Deputado Europeu Paulo Casaca consegui marcar um encontro e, conforme combinado, às 9H45m de sábado, dois elementos da resistência iraniana levaram-me num bom carro desde a Gare de Lyon até as terras do Oise.
A conversa à ida foi muito afável intercortada com algumas chamadas de telemóvel. No entanto, no retorno, a conversa acabou por ser mais pessoal denotando a confiança acrescida de gente que, sendo diferente, se conhece melhor porque fala directo e com verdade. Foi, de facto, um encontro muito interessante, não só porque conheci melhor a resistência iraniana mas também porque me foi dada a possibilidade para transmitir aquilo que penso do pouco contacto que tive com o movimento em Ashraf e por alguns livros e artigos que li sobre o médio oriente. A segurança do local é feita naturalmente pela polícia francesa. Há chegada recebem-me numa tenda tão bem arranjada que, de dentro, parece uma sala de um hotel de luxo. Dou um aperto de mão aos homens e retribuo uma ligeira vénia às senhoras, como é costume nos países muçulmanos. Conversamos primeiro sentados numas cadeira do tipo “senhorinhas”, acompanhados de um sumo de laranja magnífico e, depois de uma meia hora de conversa, num almoço tradicional iraniano esplêndido. Foram duas horas de diálogo muito civilizado onde me apercebi da diferença entre os quatro mil anos de civilização iraniana e os dois mil anos de civilização lusitana. Pena é que, quem tem duzentos anos de civilização não se aperceba das civilizações que quer destruir porque não as entende ou não as respeita.

Disse que era monáquico e católico. Disse-me que, depois da ditadura monárquica do Xá e da ditadura teocrática dos Mullahs, a resistência iraniana era democrática e moderna, que aceitaria num futuro parlamento iraniano todos as tendências políticas com excepção dos monárquicos e dos teocráticos. Perguntei como seria possível estabelecer uma democracia moderna num país muçulmano e chiita sem ou contra a estrutura clerical dos mullahs. Respondeu, com sabedoria, que tudo isso ficaria clarificado com simplicidade uma vez que se aceitasse a separação entre as religiões e o Estado. Questionei se não haveria o risco de que, depois da queda do regime dos mullahs, se seguisse um outro qualquer regime também ditatorial, da mesma forma como à queda da ditadura monárquica do Xá se seguiu a ditadura teocrática dos mullahs. Respondeu que a resistência iraniana não pretende condenar ninguém depois da queda do regime dos mullahs e que pedirá aos tribunais internacionais para julgar os crimes que têm sido feitos contra a humanidade e que têm sido reportados pela comunicação social. Expressei o meu profundo desconforto e indignação face às imolações de resistentes iranianos de que temos notícia. Com cuidado Madame Maryam Rajavi explicou que o suicídio é considerado pecado mortal pelo religião islâmica e que as imolações que ocorreram se deveram ao pavor das torturas, ao medo da pressão exercida sobre os familiares ou ao receio de deportação de França para o Irão, via um qualquer país terceiro, aquando do ataque autorizado por Jacques Chirac às residências dos resistentes iranianos em França, por pressão económica do regime iraniano. Falei-lhe das bombas colocadas contra o Governo Iraniano, reportadas por Robert Fisk no livro “A conquista do Médio Oriente”. Disseram-me que esses atentados e outros feitos contra cidadãos americanos não foram feitos pela resistência mas que marxistas se apropriaram do nome dos Mujahedim em meados dos anos setenta quando Massoud Rajavi esteve preso e o movimento estava praticamente dizimado. Terminámos dizendo que iriamos rezar pelo povo iraniano.".

(In A União)

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