quinta-feira, setembro 06, 2007

Influência da temperatura da água do mar na trajectória dos ciclones

Os Açores, a manter-se a tendência de aquecimento global, terão maior probabilidade de serem atingidos por tempestades tropicais. A possibilidade é avançada pelo professor universitário Eduardo Brito de Azevedo do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores.
Explica o académico que, a curto prazo, com o aumento previsível da força destrutiva dos furacões no Atlântico, as tempestades tropicais poderão durar mais tempo e manterem a sua intensidade até chegarem ao Arquipélago. Este é um fenómeno que tem vindo a ser debatido na comunidade científica e não só. Já era previsível que, com o aquecimento da superfície da água do mar (que alimenta os furacões), estes ganhassem maior força destrutiva. Ora, ao subirem a Norte pelas correntes do Golfo, estes fenómenos, já classificados como tempestades tropicais, podem chegar com maior intensidade aos Açores, que ficam no seu caminho. O arquipélago está “no limite do arco de acção dos furacões no Atlântico”, argumenta o investigador, responsável pelo projecto CLIMAAT, afecto ao Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores.
Adianta Brito de Azevedo que, nas últimas décadas, a água fria do Atlântico Norte faz com que os furacões percam força quando abandonam o Golfo do México e rumam, por exemplo, aos Açores. “Mas a água do mar tem vindo a subir de temperatura. Isso terá efeitos, aliás, é por isso que, hoje, vemos furacões com maior força destrutiva na zona do Golfo do México, caso do Félix, agora em actividade junto à Nicarágua, e do recente Dean, que também chegou à força 5.

Era previsível no meio científico não o aumento do número de furacões, mas a maior frequência de fenómenos desta natureza com capacidades destrutivas elevadas”, explica Brito de Azevedo.
“Curiosamente, poucos dias antes do furacão Katrina, que afectou Nova Orleães, nos Estados Unidos, um artigo na revista Science noticiava a previsibilidade de os furacões, por causa do aquecimento global, virem a aumentar a sua força destruidora”, alega o professor universitário reconhecendo também que, num prazo de 100 anos, confirmando-se a previsível subida de temperatura da água do mar nos Açores em um grau, a probabilidade do arquipélago “sofrer com estes fenómenos” climáticos aumenta. Os furacões nascem, maioritariamente, junto à costa africana como depressões tropicais, alimentando-se da água quente da Corrente do Golfo. Depois, viajam para Oeste, ganhando maior intensidade e formando tempestades tropicais que, nas quentes águas do Golfo do México, atingem a categoria de furacões, por esta altura do ano. Depois, alguns deles, sobem a Norte, aproveitando braços da Corrente do Golfo, rumando aos Açores. Mas, com a água fria, vão perdendo intensidade, regressando ao estado de tempestades tropicais e, na maioria dos casos, desvanecendo-se.

(In Diário Insular)

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