sábado, setembro 01, 2007

Transportes ineficazes nos Açores são opção legítma do Governo

O Professor Tomaz Dentinho do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores, especialista em Desenvolvimento Regional, afirma ao Diário Insular que "os açorianos e o seu governo têm a liberdade de escolha para não serem desenvolvidos".
Diário Insular (DI)- O acidente com o "Ilha Azul" na Graciosa reabriu a discussão sobre o modelo de transportes marítimos nos Açores. Há quem defenda que os portos devem ter dois pontos de atracagem, para precaver a paralisação de uma embarcação, e que só deve haver duas portas de entrada/saída, sendo a carga distribuída por pequenas embarcações de tráfego inter-Ilhas. Tem opinião neste debate?
Tomaz Dentinho (TD)- Não sei das questões técnicas de embarque e desembarque. Nem creio que os responsáveis pela política marítima consigam defini-la para todos os portos dos Açores. Essa decisão cabe aos armadores que operam no mercado e que escolhem as melhores embarcações tendo em atenção os benefícios líquidos e os riscos. O que deveria ser feito era um concurso aberto para todas as rotas; certamente que as empresas já estabelecidas poderiam concorrer com responsabilidade e seria mais fácil entrarem novas empresas.
DI- Querer que a carga chegue a todas as ilhas em contentor é uma necessidade, uma teimosia, Um luxo....ou haverá por detrás disso qualquer intenção inconfessável?
TD- A política de igualdade entre ilhas responde ao objectivo da equidade e de alguma estabilidade, mas minaos objectivos da eficiência e do desenvolvimento. A opção entre equidade e eficiência ou entre a estabilidade e o desenvolvimento é dos açorianos e do seu governo. Não é possível ter tudo. Com a actual solução de igualdade, os preços são mais caros e as empresas açorianas perdem face às de fora. Com a liberalização as ilhas pequenas teriam preços semelhantes ou um pouco mais altos, mas as empresas como a Graciosense, o Augusto das Flores, a Transmaçor de São Jorge ou a Pareceres de Santa Maria começariam a pensar em rotas externas e intergrupos.
DI- Os custos do transporte marítimo de mercadorias entre os Açores e o continente são um escândalo ou uma inevitabilidade?
TD- Os preços em si são um escândalo e só são uma inevitabilidade porque o governo e os açorianos que o apoiam, se recusam a estudar políticas que promovam a eficiência e o desenvolvimento sem pôr em causa, necessáriamente, a equidade existente e a estabilidade.
DI- Justifica-se a liberalização de todo o transporte marítimo quer de passageiros ou cargas, entre as ilhas e nas ligações com o exterior?
TD-Em teoria e na prática, a liberalização dos transportes marítimos e aéreos é um bem. Mas os açorianos e o seu governo têm a liberdade de escolha para não serem desenvolvidos e eficientes. O que não podem querer é ser eficientes e desenvolvidos com políticas que o impedem manifestamente.
(In Diário Insular)

Etiquetas: , , ,