O Relatório Hidrogeológico
Félix Rodrigues
Na passada terça-feira, o Doutor João Lopo Mendonça, Hidrogeólogo, escreve um artigo de opinião neste jornal, intitulado “Ainda a questão da água no Concelho de Angra do Heroísmo”. Nele tece um conjunto de críticas, directas e indirectas, à minha pessoa e aos meus colegas Francisco Cota Rodrigues e Eduardo Brito de Azevedo. Não me compete defender os colegas do Departamento de Ciências Agrárias anteriormente mencionados, pois eles sabem-no fazer muito bem, nem tão pouco a Doutora Emília Novo, do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, também visada e escarnecida nesse artigo, apesar de nunca se ter pronunciado sobre o relatório produzido pelo Doutor Lopo Mendonça.Pensei numa primeira fase em não responder à provocação, todavia, não me pareceu adequado virar as costas a comentários e opiniões que beliscam a minha integridade, apesar da época natalícia, de fraternidade e de perdão.O Doutor Lopo Mendonça afirma, referindo-se à sua última passagem pela ilha Terceira que: “Desta vez, porém, parece que a minha vinda foi completamente desnecessária e aparentemente não muito apreciada por alguns. Ou será que os comentários vêm camuflados como técnicos e têm razões políticas? Se assim for, este esclarecimento é desnecessário, o tempo gasto a escrevê-lo considero-o como perdido e os comentários não dignificam os eminentes técnicos e cientistas que os emitiram.”.Pelo que me diz respeito, a sua vinda não foi depreciada, nem tão pouco o seu trabalho. Não me competia recebê-lo de forma entusiástica, nem tão pouco, pelo facto de o não ter recebido, ter que omitir qualquer opinião sobre um documento tornado público numa conferência de imprensa, na qual esteve presente. Há dois aspectos que gostaria de tornar claros:1- Sou docente universitário e investigador;2- Sou membro da Assembleia Municipal de Angra do Heroísmo.Nesse contexto, não consigo distinguir, como o fazia a Ivone Silva na Olívia Empregada e Olívia Patroa, os dois aspectos. Sempre tive o cuidado de, consoante o contexto, me posicionar numa posição mais política ou numa posição mais técnica. Não vem mal nenhum ao mundo por se assumir ter uma postura política, onde se assume também que há um conjunto de deveres ao qual um indivíduo, seja investigador ou não, está sujeito em relação à sociedade em que vive. A minha cidadania é um direito e um dever.Quanto aos comentários proferidos que não dignificam os eminentes técnicos e cientistas, acho estranho que seja o primeiro citado nesse artigo quando produzo a seguinte opinião, também ela tornada pública: “…. as causas avançadas pelo professor Lopo Mendonça já foram referidas quer por mim, quer pelo professor Brito de Azevedo ou pelo professor Cota Rodrigues”. O senhor Doutor Lopo Mendonça entra muito tardiamente nessa discussão. Ela começa muito antes da sua vinda à Terceira. É exactamente na sequência dessas discussões públicas que ele acaba por entrar em palco. Não quererá ele, certamente, que paremos de discutir as questões da água no nosso Concelho só porque não está presente ou vive em Lisboa. Antes da sua vinda, já se tinham discutido as questões climáticas, as questões da precipitação oculta e arroteamento, a possível ruptura do imperme dos aquíferos e as questões da gestão integrada da água na ilha Terceira, entre outras. Assim sendo, não percebo a razão pela qual teria que afirmar que o relatório que produzido e tornado público, era inovador. No relatório, aparecem as mesmíssimas hipóteses explicativas que tinham anteriormente sido apresentadas em público. Nada tenho contra a pessoa ou técnico, que diz não me conhecer pessoalmente, apesar de eu o conhecer pessoalmente de discussões semelhantes, há anos atrás, aqui mesmo na ilha Terceira, e em encontros científicos da área noutros locais. Faz algum tempo, é verdade, e todos nós lembramo-nos melhor de umas pessoas do que de outras.O Doutor Lopo Mendonça afirma, ainda, referindo-se à minha pessoa, que “a verdade é que, apesar de tão douto conhecimento, Angra do Heroísmo continuou com cortes de água durante muitos meses”. Essa observação ou essa acusação é, no mínimo, estranha. Teria que ser eu, no exercício da minha cidadania, a resolver o problema de falta de água no Concelho de Angra do Heroísmo? E o Doutor resolveu-o com o seu estudo pago pelo erário público?O Doutor Lopo Mendonça afirma ainda outras coisas estranhas, que só se compreendem pelo facto de ter sido mal informado: “Por outro lado, é altamente reconfortante ver o meu trabalho escrutinado por tanta gente e num encontro científico que, de acordo com os relatos, teve entre outros objectivos contrariar as minhas opiniões ou aprofundá-las por professores da Universidade dos Açores”.O Doutor Lopo Mendonça está-se a referir a um evento realizado durante a Semana da Ciência e Tecnologia”, organizada pelo Departamento de Ciências Agrárias, cujo temática era “Teorizar as crises”. Nessa semana abordaram-se questões sobre alterações climáticas globais, crise da biodiversidade, e entre outros aspectos, também os recursos hídricos na Terceira.No evento que menciona, onde estive presente, não ouvi uma única vez ser proferido o seu nome. Também não foram feitas menções, nem uma única vez, ao relatório que o Doutor Lopo Mendonça produziu para a Câmara Municipal de Angra do Heroísmo.Quando no artigo de opinião a que me refiro, o Doutor Lopo Mendonça afirma “Tivessem-me dito, pelo menos o professor Cota Rodrigues sabia da minha presença e até trocámos impressões sobre o tema, e teria abandonado imediatamente o espaço que, pelos vistos, já pertencia a outros”, até parece que alguém tem algo contra ele ou que havia negócios escuros com a encomenda desse estudo. Se os há ou houve, desconheço. Se alguém sabe de algo que se pronuncie.Todos os comentários que ouvi, sobre a escolha da Câmara Municipal, de ser o Professor Lopo Mendonça a realizar o estudo, foram abonatórios, o que não quer dizer que esse estudo tivesse trazido algo de novo em termos de hipóteses interpretativas, pois todas elas já tinham sido levantadas. Nada acrescentei sobre a qualidade científica do trabalho, para merecer tal ataque desconcertado.Também da minha parte, este assunto fica encerrado.
(In Diário Insular)
Etiquetas: aquífero, Cota Rodrigues, Eduardo Brito de Azevedo, Falta de água, Lopo Mendonça, opinião
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