Ainda a questão da água no Concelho de Angra do Heroísmo
João Lopo Mendonça - Hidrogeólogo
Fui convidado pelos Serviços Municipalizados de Angra do Heroísmo para elaborar um relatório onde “tentasse esclarecer eventuais impactes sobre os recursos hídricos subterrâneos da zona do Cabrito provocados por algumas alterações físicas no território para além da diminuição da pluviometria desde o final da Primavera”.Não estranhei o facto, uma vez que já vim mais de duas dezenas de vezes aos Açores resolver questões de recursos hídricos subterrâneos. Fiz o meu trabalho o mais rápido, o melhor que sabia e com a maior das isenções científicas e técnicas, tendo por limites apenas os meus conhecimentos e a minha consciência.Desta vez, porém, parece que a minha vinda foi completamente desnecessária e aparentemente não muito apreciada por alguns. Ou será que os comentários vêm camuflados como técnicos e têm razões políticas? Se assim for, este esclarecimento é desnecessário, o tempo gasto a escrevê-lo considero-o como perdido e os comentários não dignificam os eminentes técnicos e cientistas que os emitiram.O professor Félix Rodrigues (que não tenho o prazer de conhecer) afirmou: as “causas avançadas pelo professor (Lopo Mendonça) já foram referidas quer por mim, quer pelo professor Brito de Azevedo ou pelo professor Cota Rodrigues”. A verdade é que, apesar de tão douto conhecimento, Angra do Heroísmo continuou com cortes de água durante muitos meses. Tivessem-me dito, pelo menos o professor Cota Rodrigues sabia da minha presença e até trocámos impressões sobre o tema, e teria abandonado imediatamente o espaço que, pelos vistos, já pertencia a outros. Por outro lado, é altamente reconfortante ver o meu trabalho escrutinado por tanta gente e num encontro científico que, de acordo com os relatos, teve entre outros objectivos contrariar as minhas opiniões ou aprofundá-las por professores da Universidade dos Açores. Os dados climáticos utilizados no meu estudo foram fornecidos pelo Prof. Brito de Azevedo a quem agradeci no texto do estudo e publicamente quando da apresentação: foram valores das normais (valores médios correspondente a um número de anos suficiente (30 anos) para se poder admitir que ele representa o valor predominante da pluviometria no local considerado) nos postos udométricos do Cabrito e Pico da Bagacina e valores mensais da presente década. As normais para aqueles postos até Agosto são de 2171,9mm e 2006,8 mm, respectivamente.Vem agora o professor Brito de Azevedo adiantar que em Angra do Heroísmo “o ano climático de 2007/2008 (Janeiro de 2007 a Agosto de 2008) insere-se nos anos normais em termos de precipitação, com 1024 mililitros por metro quadrado, ou seja, 91 por cento da precipitação normal em termos médios”. Isto é, embora não seja comparável a precipitação em Angra com a do Cabrito e do Pico da Bagacina afinal a precipitação em Angra foi só 91% (não foram 100% ou mais!) da precipitação normal em termos médio (professor Brito de Azevedo e caro amigo, os números não enganam, são 91%!). Do mesmo modo, em minha opinião, só ficaria bem ao professor Brito de Azevedo dizer que meter no mesmo saco (passe a expressão) Angra do Heroísmo, onde a normal é de 1126mm, com os cerca de 2000mm em Cabrito e Pico da Bagacina é no mínimo criticável.Repare Professor Brito de Azevedo que o objectivo do estudo não foi comparar séries anuais e variações climáticas, que isso é assunto muito sério e como técnico não me interessa. Quanto ao Cabrito e ao Pico da Bagacina, os dados fornecidos pelo professor Brito de Azevedo foram os seguintes para o ano hidrológico de 2007/2008 (até Agosto de 2008): 1924,4 mm e 1761,8mm. Fazendo as duas contas de subtrair (2171,9mm - 1924,4mm = 247,5 e 2006,8 - 1761,8 mm = 245 mm) conclui-se que os valores de 2007/2008 são 245 mm e 247,5 mm inferiores ao valor da precipitação normal em termos médios (isto está no relatório!). Para quem não tem conhecimentos específicos sobre esta matéria, mas sabe distinguir o maior do menor já pode tirar conclusões sobre quem foi rigoroso. Como acréscimo, direi que para uma área de 4 km2, como é aproximadamente a área da Caldeira de Guilherme Moniz, são cerca de um milhão de metros cúbicos de água a menos do que a precipitação normal em termos médios. Um milhão de metros cúbicos de água potável é pouco e desprezível? Para mim não é, mas o leitor ajuizará! Eu sei que haverá sempre quem diga que o copo está meio cheio ou que está meio vazio!Estranha-se também a frase atribuída ao Professor Eduardo Brito Azevedo que sublinhou: “apesar de, na primeira metade de 2008, a temperatura ter estado ligeiramente acima da média, a evapotranspiração real caiu logo a seguir ao início do défice hídrico”. Só pode ser um lapso! A evapotranspiração real depende da temperatura até ao esgotamento da capacidade de água disponível para as plantas no solo. Portanto, a evapotranspiração real aumentou e diminuiu a água que se infiltrou e/ou foi para o mar pelo escoamento superficial.Para justificar este facto ainda houve quem fosse buscar uma pseudo-explicação ainda mais rebuscada (citação atribuída à doutora Emília Novo): “a evapotranspiração real, de facto não foi incrementada até porque as plantas optimizam a “gestão das águas” abrindo e fechando os estomas para regular a perda de água”. Caro leitor, a partir desta nova teoria (não falo da real função dos estomas) porque que é que rega as suas culturas no Verão, gasta tempo, dinheiro e paciência? As plantas têm um sistema regulador que não precisa de água da rega nem da chuva! Já alguma vez viu uma planta seca no Verão? Finalmente, gostaria de referir um dos comentários que o professor Brito Azevedo enfatizou após a minha apresentação do relatório. De acordo com os estudos que vem desenvolvendo estaria a chegar à conclusão que, com um período de retorno de cerca de 5 a 6 anos, estão a ocorrer anos com precipitações abaixo da normal. Na altura, chamou a atenção para os responsáveis e para a assembleia participante e advertiu que se não fossem tomadas medidas os acontecimentos desagradáveis de 2008 se repetiriam. Afinal, caro amigo Eduardo, ainda existe este risco ou desapareceu em duas semanas? Pela minha parte, este assunto está encerrado e, de novo, obrigado pelos dados.
Fui convidado pelos Serviços Municipalizados de Angra do Heroísmo para elaborar um relatório onde “tentasse esclarecer eventuais impactes sobre os recursos hídricos subterrâneos da zona do Cabrito provocados por algumas alterações físicas no território para além da diminuição da pluviometria desde o final da Primavera”.Não estranhei o facto, uma vez que já vim mais de duas dezenas de vezes aos Açores resolver questões de recursos hídricos subterrâneos. Fiz o meu trabalho o mais rápido, o melhor que sabia e com a maior das isenções científicas e técnicas, tendo por limites apenas os meus conhecimentos e a minha consciência.Desta vez, porém, parece que a minha vinda foi completamente desnecessária e aparentemente não muito apreciada por alguns. Ou será que os comentários vêm camuflados como técnicos e têm razões políticas? Se assim for, este esclarecimento é desnecessário, o tempo gasto a escrevê-lo considero-o como perdido e os comentários não dignificam os eminentes técnicos e cientistas que os emitiram.O professor Félix Rodrigues (que não tenho o prazer de conhecer) afirmou: as “causas avançadas pelo professor (Lopo Mendonça) já foram referidas quer por mim, quer pelo professor Brito de Azevedo ou pelo professor Cota Rodrigues”. A verdade é que, apesar de tão douto conhecimento, Angra do Heroísmo continuou com cortes de água durante muitos meses. Tivessem-me dito, pelo menos o professor Cota Rodrigues sabia da minha presença e até trocámos impressões sobre o tema, e teria abandonado imediatamente o espaço que, pelos vistos, já pertencia a outros. Por outro lado, é altamente reconfortante ver o meu trabalho escrutinado por tanta gente e num encontro científico que, de acordo com os relatos, teve entre outros objectivos contrariar as minhas opiniões ou aprofundá-las por professores da Universidade dos Açores. Os dados climáticos utilizados no meu estudo foram fornecidos pelo Prof. Brito de Azevedo a quem agradeci no texto do estudo e publicamente quando da apresentação: foram valores das normais (valores médios correspondente a um número de anos suficiente (30 anos) para se poder admitir que ele representa o valor predominante da pluviometria no local considerado) nos postos udométricos do Cabrito e Pico da Bagacina e valores mensais da presente década. As normais para aqueles postos até Agosto são de 2171,9mm e 2006,8 mm, respectivamente.Vem agora o professor Brito de Azevedo adiantar que em Angra do Heroísmo “o ano climático de 2007/2008 (Janeiro de 2007 a Agosto de 2008) insere-se nos anos normais em termos de precipitação, com 1024 mililitros por metro quadrado, ou seja, 91 por cento da precipitação normal em termos médios”. Isto é, embora não seja comparável a precipitação em Angra com a do Cabrito e do Pico da Bagacina afinal a precipitação em Angra foi só 91% (não foram 100% ou mais!) da precipitação normal em termos médio (professor Brito de Azevedo e caro amigo, os números não enganam, são 91%!). Do mesmo modo, em minha opinião, só ficaria bem ao professor Brito de Azevedo dizer que meter no mesmo saco (passe a expressão) Angra do Heroísmo, onde a normal é de 1126mm, com os cerca de 2000mm em Cabrito e Pico da Bagacina é no mínimo criticável.Repare Professor Brito de Azevedo que o objectivo do estudo não foi comparar séries anuais e variações climáticas, que isso é assunto muito sério e como técnico não me interessa. Quanto ao Cabrito e ao Pico da Bagacina, os dados fornecidos pelo professor Brito de Azevedo foram os seguintes para o ano hidrológico de 2007/2008 (até Agosto de 2008): 1924,4 mm e 1761,8mm. Fazendo as duas contas de subtrair (2171,9mm - 1924,4mm = 247,5 e 2006,8 - 1761,8 mm = 245 mm) conclui-se que os valores de 2007/2008 são 245 mm e 247,5 mm inferiores ao valor da precipitação normal em termos médios (isto está no relatório!). Para quem não tem conhecimentos específicos sobre esta matéria, mas sabe distinguir o maior do menor já pode tirar conclusões sobre quem foi rigoroso. Como acréscimo, direi que para uma área de 4 km2, como é aproximadamente a área da Caldeira de Guilherme Moniz, são cerca de um milhão de metros cúbicos de água a menos do que a precipitação normal em termos médios. Um milhão de metros cúbicos de água potável é pouco e desprezível? Para mim não é, mas o leitor ajuizará! Eu sei que haverá sempre quem diga que o copo está meio cheio ou que está meio vazio!Estranha-se também a frase atribuída ao Professor Eduardo Brito Azevedo que sublinhou: “apesar de, na primeira metade de 2008, a temperatura ter estado ligeiramente acima da média, a evapotranspiração real caiu logo a seguir ao início do défice hídrico”. Só pode ser um lapso! A evapotranspiração real depende da temperatura até ao esgotamento da capacidade de água disponível para as plantas no solo. Portanto, a evapotranspiração real aumentou e diminuiu a água que se infiltrou e/ou foi para o mar pelo escoamento superficial.Para justificar este facto ainda houve quem fosse buscar uma pseudo-explicação ainda mais rebuscada (citação atribuída à doutora Emília Novo): “a evapotranspiração real, de facto não foi incrementada até porque as plantas optimizam a “gestão das águas” abrindo e fechando os estomas para regular a perda de água”. Caro leitor, a partir desta nova teoria (não falo da real função dos estomas) porque que é que rega as suas culturas no Verão, gasta tempo, dinheiro e paciência? As plantas têm um sistema regulador que não precisa de água da rega nem da chuva! Já alguma vez viu uma planta seca no Verão? Finalmente, gostaria de referir um dos comentários que o professor Brito Azevedo enfatizou após a minha apresentação do relatório. De acordo com os estudos que vem desenvolvendo estaria a chegar à conclusão que, com um período de retorno de cerca de 5 a 6 anos, estão a ocorrer anos com precipitações abaixo da normal. Na altura, chamou a atenção para os responsáveis e para a assembleia participante e advertiu que se não fossem tomadas medidas os acontecimentos desagradáveis de 2008 se repetiriam. Afinal, caro amigo Eduardo, ainda existe este risco ou desapareceu em duas semanas? Pela minha parte, este assunto está encerrado e, de novo, obrigado pelos dados.
(In Diário Insular)
Etiquetas: Cota Rodrigues, Eduardo Brito de Azevedo, Falta de água, Félix Rodrigues, Hidrogeologia, opinião
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