quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Briófitos dos Açores

Rosalina Gabriel começou a estudar aquilo que vulgarmente designamos de musgos – os briófitos, que incluem os musgos, as hepáticas e as antocerotas – em 1990. Sentada no seu pequeno gabinete, forrado de livros e imagens da natureza, do Departamento de Ciências
Agrárias da Universidade dos Açores, a investigadora fala com paixão de um mundo ainda bastante desconhecido para a maioria dos açorianos.


“Na altura, comecei a interessar-me pelas florestas naturais dos Açores que são sítios muito interessantes e importantes por muitas razões”, diz, para início de conversa. “As florestas naturais dos Açores têm um regime de precipitação que se assemelha ao das florestas tropicais, mas as temperaturas não são tão elevadas, o que as torna florestas temperadas, onde há uma grande abundância de briófitos”. Ao todo são mais de 400 espécies nos Açores na sua maioria musgos – 282 na Região, contra 1292 na Europa e 12 mil em todo o mundo. Seguem-se as hepáticas folhosas – 151 nos Açores, 453 no continente europeu e oito mil à escala planetária – e as antocerotas – cinco na Região, oito na Europa e 200 em todo o mundo. Segundo Rosalina Gabriel, os musgos servem para muito mais do que apenas para o presépio de Natal. “Os briófitos desempenham funções tão importantes como a retenção de água e nutrientes, a intersecção de nevoeiros, interacção com outros organismos, formação de solo e minimização da erosão”. Outro dos mitos associados aos musgos é o de que são todos iguais. Mas como se distinguem afinal os musgos das hepáticas e das antocerotas? “Os musgos quando olhados de cima parecem o raio de uma roda de bicicleta, enquanto as hepáticas têm um eixo a partir da qual são simétricas e as antocerotas são cápsulas de crescimento indeterminado e assemelham-se a vagens de feijão verde”, explica a investigadora. Uma ideia errónea igualmente enraizada é a de que os musgos são parasitas das plantas ou a de que a sua presença numa árvore indica que ela não está bem de saúde. “Os musgos fazem parte do reino vegetal”, sublinha Rosalina Gabriel, referindo que “libertam oxigénio e consomem dióxido de carbono tal como as plantas grandes”. Os musgos são também um “indicador de bom ar”. “A sua presença nas árvores não faz mal, ao contrário do que muita gente pensa, mas é sim um indício de que não há poluição atmosférica naquele local”, adianta a investigadora, salientando que “a sua presença abundante nos não só nas florestas, como nos telhados e nos pátios, é, por conseguinte, um bom sinal”.
Outro mito sobre os musgos é o de que quando estão castanhos é porque estão mortos. Tal como as sementes, os musgos conseguem suspender a vida. “Os musgos têm uma relação muito importante com a água, de que necessitam para a sua sobrevivência”, explica Rosalina Gabriel. “No entanto, se não há humidade, deixam de crescer mas não morrem”, continua, destacando que “conseguem ficar mais de 50 anos secos e depois retomar a actividade metabólica”, “uma característica notável, que pode ser útil, por exemplo, em viagens espaciais”, realça, com orgulho, enquanto nos mostra uma apresentação em power­point sobre a biodiversidade e o valor patrimonial dos musgos dos Açores.


A investigadora refuta também a tese segundo a qual os musgos são perigosos porque fazem escorregar. “As pessoas gostam de os ver no interior das cavida­des vulcânicas, mas depois dizem que fazem escorre­gar se estiver húmido”.
No entender de Rosalina Gabriel, “os musgos têm tão mau nome porque muitas vezes são confundidos com as algas, que têm paredes mais gelatinosas”. Apesar de não terem vantagens económicas imedia­tas e dos golfistas não gostarem de os ver nos seus “greens”, a presença de musgos em pastagens ou ou­tros terrenos não significa que estes tenham imper­meabilizado ou que precisem de ser cavados. Outra ideia errada é a de que o gado não come musgos, acrescenta.

Lista vermelha

Ninguém estuda musgos é outro dos mitos. Nos Aço­res são, aliás, muitos os investigadores que se dedi­cam a esta área, designadamente Eva Sousa, Sandra Câmara, Nídia Homem, Cecília Sérgio, René Schuma­cker, Erik Sjögren, Jan-Peter Frahm, Berta Martins, Kjell Flatberg, Elisabete Maciel e Jeffrey W. Bates, para além de Rosalina Gabriel. Para além disso, Nídia homem e Rosalina Gabriel pre­param-se para lançar, no início de Fevereiro, o livro “Briófitos Raros dos Açores”. A obra pretende divulgar
as 60 espécies existentes nos Açores que se encontram na lista vermelha da Europa, ou seja, que estão classificadas como raras ou vulneráveis. O Grupo da Biodiversidade dos Açores do Centro de Investigação de Tecnologias Agrárias dos Açores (CITA-A), instalado no Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores terá também, até Março, disponível na Internet um site onde será possível pesquisar a distribuição por freguesia de todas as espécies vegetais e animais terrestres das nove ilhas dos Açores. “O objectivo é fomentar o gosto pelo que as pessoas têm na sua freguesia e ajudar a ligar as pessoas ao local”, destaca Rosalina Gabriel. “Esta iniciativa visa também perceber padrões e motivarmo-nos a melhorar os nossos dados, que são baseados em toda a bibliografia disponível sobre espécies do arquipélago” . Entre mãos, o Grupo da Biodiversidade dos Açores tem também, actualmente, o projecto Top 100 das 100 espécies mais fáceis de gerir da Macaronésia. “Trata-se de um Livro Verde das espécies que pragmaticamente conseguimos proteger, porque com um mínimo de custos podemos fazer qualquer coisa por inúmeras espécies, enquanto se realizam estudos sobre as outras”, sustenta a investigadora. “Claro que é importante proteger o Priôlo, por exemplo, mas se nos preocuparmos apenas com esta ave podemos perder outras 40 espécies”, alerta, sublinhando que o intuito da iniciativa é “tentar não deixar essas outras espécies que são mais fáceis de proteger para trás”. Um outro projecto relacionado com os musgos que está a ser desenvolvido pela equipa de Rosalina Gabriel visa avaliar a quantidade de materiais pesados nas turfeiras do interior da ilha Terceira. “Os musgos são muito resistentes a várias coisas, como a herbivoria, porque poucos animais os comem, mas são muito sensíveis à poluição aquática e atmosférica”, refere, adiantando que “como não têm raízes dependem das correntes aéreas e acabam por acumular alguma quantidade de metais”. Até agora, os dados analisados não são reveladores de uma grande concentração de metais no interior da ilha, mas o grupo pretende estender o estudo à zona litoral da ilha, onde a situação poderá ser diferente. Rosalina Gabriel destaca ainda a publicação recente, pela Secretaria Regional do Ambiente, de blocos de notas com briófitos, que considera “importante para divulgar estas espécies junto das pessoas”.


O Grupo da Biodiversidade dos Açores foi igualmente distinguido recentemente com um dos prémios BES-Biodiversidade, pelo seu estudo dos processos envolvidos na extinção potencial de insectos, aranhas e musgos nas florestas nativas da Região. Intitulado “ Predicting extinctions on oceanic islands: The Azorean paradigm”, o trabalho proposto por Paulo Borges, docente do Departamento de Ciências Agrárias da universidade açoriana, mereceu uma Menção Honrosa, ex-aequo com outros dois projectos, num total de quatro premiados de entre os 34 projectos concorrentes ao nível do país. A cerimónia de entrega dos prémios teve lugar na sede do BES, em Lisboa, com a presença de Ricardo Salgado, presidente do banco, Francisco Nunes Correia, Ministro do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional, Lígia Amâncio, vice-presidente da FCT, Teresa Andresen, do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade do Porto, e João Meneses, presidente do ICN. A distinção veio, assim, valorizar o importante trabalho na área da biodiversidade que a equipa liderada por Paulo Borges tem vindo a desenvolver, ao longo dos últimos 10 anos. “Desde 1998, temos vindo a editar uma série de publicações científicas sobre a biodiversidade açoriana e a emitir pareceres para o Governo Regional sobre as zonas do arquipélago que necessitam de ser protegidas, contribuindo, assim, para a já anunciada criação de vários parques naturais”, referiu Paulo Borges, em declarações ao DI. Para o investigador, este prémio é o “reconhecimento de toda a informação científica produzida pelo grupo e publicada em revistas internacionais e da sua aplicação prática na conservação da natureza nos Açores, através da ajuda à tomada de decisão pelo Governo Regional”. “É um prémio que muito honra não só a Universidade dos Açores como todos aqueles que trabalham na área da biodiversidade e que connosco têm colaborado”, afirmou. A distinção irá permitir ainda a publicação de um livro sobre a biodiversidade dos artrópodes baseado em fotos de grande qualidade. O projecto conta com o apoio da Secretaria Regional do Ambiente.
(In DI-Revista)

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6 Comments:

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