quarta-feira, dezembro 26, 2007

Escola Inclusiva nos Açores

Os educadores de infância e professores do 1.º Ciclo do ensino básico regular açorianos continuam a manifestar grande cepticismo em relação ao modelo da “Escola Inclusiva”. Esta é uma das principais conclusões de uma tese de doutoramento em Educação, especialidade de Necessidades Educativas Especiais, defendida recentemente por Maria Letícia Henriques Leitão, no pólo de Angra do Heroísmo da Universidade dos Açores. Intitulado “Inclusão de alunos com necessidades educativas especiais - atitudes dos educadores de infância e dos professores do 1.º ciclo do ensino básico da Região Autónoma dos Açores”, o estudo teve como base um inquérito realizado a 804 educadores de infância e professores do 1.º ciclo do ensino básico, regular, especial e de apoio educativo, que representam 47 por cento dos docentes do arquipélago. O trabalho resulta de um investigação num contexto de mudança dos sistemas educativos nacional e regional, em que o modelo da “Escola Inclusiva” surge como um movimento inovador, subjacente a uma nova concepção de escola, que impõe o reconhecimento geral da educabilidade de todas as crianças. Neste contexto, Maria Letícia Henriques Leitão pretendeu inquirir as atitudes dos educadores de infância e dos professores do 1º ciclo do ensino básico das nove ilhas do arquipélago face à prática da inclusão dos alunos com necessidades educativas especiais. Complementarmente, procurou saber se os educadores de infância e os professores do 1.º Ciclo do ensino básico apoiam a inclusão enquanto princípio filosófico e estão dispostos a implementar práticas educativas inclusivas, se existem diferenças entre as atitudes dos docentes do ensino regular, de educação especial e de apoio educativo, se a formação académica destes agentes educativos condiciona a implementação da educação inclusiva e ainda se a sua experiência docente surge associada a atitudes distintas face à inclusão. Os resultados sugerem, na linha de pesquisas anteriores, que os docentes de ensino regular continuam a apresentar maiores resistências do que os docentes de educação especial face à inclusão. De acordo com o trabalho, somente os docentes de educação especial apresentam atitudes clara e marcadamente pró-inclusivas; os restantes mostram-se cépticos em relação à sua implementação no contexto actual. A precariedade dos recursos, dos apoios educativos, a escassez de equipas multidisciplinares, a falta de formação na área e o tamanho da classe foram os principais condicionantes da implementação de uma escola inclusiva apontados pelos inquiridos.

Os resultados revelam, por outro lado, que se verificam efeitos nas atitudes dos docentes perante este modelo em função da formação inicial e, particularmente, da formação complementar em necessidades educativas especiais. Também de acordo com pesquisas anteriores, as conclusões sugerem ainda que a experiência lectiva reforça as atitudes positivas face à inclusão. A pesquisa vem, assim, sinalizar a necessidade de concepção e implementação de dispositivos formativos, no sentido de promover, junto de toda a comunidade educativa, atitudes e práticas mais positivas face à inclusão.

O MODELO

A “Escola Inclusiva” prevê a inclusão dos alunos com necessidades educativas especiais no sistema comum de ensino, em todos os seus graus. Na opinião de Maria Letícia Henriques Leitão, este era “um tema que se impunha”. “A ‘Escola Inclusiva’ é um movimento internacional que se tem alargado a todo o mundo e ao qual Portugal e os Açores, no caso concreto, também já aderiram”, refere, sublinhando, no entanto, que “havia algumas dúvidas de que o sistema estivesse a ser implementado na prática”. A psicóloga não tem, no entanto, dúvidas de que este seja o melhor modelo de ensino. “Todas as crianças têm direito a estar na escola”, refere, sublinhando que “uma criança com surdez ou paralisia cerebral poderá ter necessidades educativas especiais, tal como as poderão ter alunos provenientes de um bairro social carenciado ou filhos de imigrantes do Leste da Europa, por exemplo”. “Está provado que este é o melhor método de ensino, mas são precisas estratégias específicas para a sua implementação e, nesse sentido, a formação dos professores”, defende. Quanto às vantagens para as crianças ditas normais da inclusão na sala de aula de alunos portadores de deficiências ou com dificuldades de aprendizagem, Maria Letícia Henriques Leitão destaca a aprendizagem de “valores como a solidariedade e a diferença”. Realça, no entanto, que “é preciso cuidado para que os alunos com necessidades educativas especiais não perturbem o ritmo escolar dos restantes”. “Para isso, são necessárias equipas multidisciplinares, pois a principal lacuna sente-se não ao nível material, mas humano, assim como professores e educadores especializados em Necessidades Educativas Especiais”, conclui.

(In DI Revista)

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1 Comments:

Blogger Unknown said...

Obrigada, Doutora Leticia Leitao.
Pela sua investigaçao,pois sera para mim muito util.

11:16 da tarde  

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