segunda-feira, setembro 07, 2009

A Vinha, o Vinho dos Biscoitos e o Turismo - I

Gaspar Frutuoso, o grande cronista do século XVI, descreve assim esta freguesia “ Este Biscoito de Pedreanes do Canto se chama de Biscoito Gordo, por ser por uma das partes terra alta e por outro nome se chama de Má Terramenta, porque foi um homem desta alcunha o primeiro possuidor dela e despois a vendeu a Pedreanes do Canto, uma légua de largo do mar à serra, tudo prantado de vinhas e grandes pomares, a mais fresca neste género que há em toda a ilha, onde se dá uma infinidade de vinhas e frutas”.
As castas introduzidas terão sido provenientes do continente português e da ilha da Madeira. O Verdelho aparece desde o início, Gaspar Frutuoso reportando-se à Terceira refere “parreiras e uvas de todo o vidonho, muscatel, verdelho, mourisco açarias e outras”.
No século XVI a cultura da vinha encontrava-se solidamente implantada nos Açores, mas, é a crise económica verificada em meados do século XVII que reanima a produção de vinho essencialmente nas ilhas do grupo central. Na era de setecentos, persiste o desenvolvimento da viticultura nos Açores, que transforma o vinho e a aguardente em produtos de inegável valor comercial. Em meados do século XIX, o oídio invade os vinhedos dos Açores e dos Biscoitos causando grande destruição e prejuízo. Pela necessidade de utilização de algumas castas resistentes à praga, foi introduzida a variedade americana “Isabela” que produz o vinho de cheiro, tão popular e hoje associado às touradas à corda e às festas do Espírito Santo, quem não se lembra dos carros de bois enfeitado com faias que vinha aos Biscoitos buscar o vinho do Bodo. Os anos setenta e oitenta trouxeram uma nova praga, desta vez a filoxera. Apesar da introdução da variedade “Isabela”, na ilha Terceira subsistiram retalhos de castas europeias (Verdelho). Hoje, na ilha e sobretudo nos Biscoitos, está por enquanto assegurada uma produção de boa qualidade. E digo por enquanto, porque se não se incentivar os jovens para a importância da vinha e se se continuar a assistir à construção desenfreada de casas na zona de produção, não só acabaremos com a vinha, como estaremos a contribuir para a descaracterização de uma freguesia que desde o início do povoamento sempre esteve ligada à vinha e ao vinho.

(in Bagos D'Uva)

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