quinta-feira, setembro 03, 2009

TRABALHOS ARRANCAM EM 2010 Grupo da Biodiversidade promove estudos sobre floresta e especiação

O Grupo da Biodiversidade dos Açores CITA-A (GBA) prepara-se para dar início a dois novos projectos científicos recentemente aprovados pela Fundação ad Ciência e Tecnologia (FCT). Enquanto o primeiro trata da floresta nativa dos Açores, o outro pretende abordar a especiação das ilhas da Macaronésia.

Denominam-se aos temas a “Previsão de extinções em Ilhas: uma avaliação em várias escalas” e “O que é que as ilhas da Macaronésia nos podem ensinar sobre especiação? Estudo de Tarphius (Coleoptera) e Hipparchia (Lepidoptera) de vários arquipélagos da Macaronésia”. Apesar de diferentes, os novos projectos científicos do GBA, cujo estudo de investigação deve arrancar no mês de Março do próximo ano, incidem ambos sobre a conservação da biodiversidade em ilhas oceânicas.
Em declarações ao nosso jornal, o responsável pelo GBA menciona as particularidades dos ecossistemas insulares, sublinhando que a “‘crise da biodiversidade’ em mais nenhum lugar é tão notória” como nas ilhas oceânicas. Paulo Borges revela que este projecto é inovador em dois aspectos. “A avaliação a vários níveis do risco de extinção que é devido à destruição e fragmentação dramática dos habitats; e a avaliação de previsões teóricas de extinções futuras, com avaliações à escala da espécie do tamanho das suas populações e diversidade genética”, explica.
Sobre as razões que fazem do arquipélago dos Açores o “sistema ideal” para levar avante deste projecto, o especialista aponta que essas ilhas perderam mais de 90 por cento da sua floresta original durante cinco séculos de ocupação humana; e sendo um dos arquipélagos mais isolados na Terra suportam um número significativos de espécies endémicas de uma só ilha. Aponta ainda o bom conhecimento da história da ocupação humana e da desflorestação é bem conhecida e os dados biogeográficos de qualidade existentes para muitas espécies de artrópodes. “Estamos particularmente interessados em determinar o efeito da perca extrema de habitats e fragmentação da floresta nativa dos Açores nas espécies de artrópodes endémicos especialistas de floresta”, sustenta.
Em termos de resultados práticos, o projecto a “Previsão de extinções em Ilhas: uma avaliação em várias escalas”, segundo Paulo Borges, “irá estabelecer ligações cruciais entre a teoria ecológica e a prática de conservação avançando na compreensão e protecção de uma parte única da herança Europeia em termos de biodiversidade, as Florestas Nativas dos Açores”.
Açores entre os ‘hot spot’ de especiação

Neste contexto, mas já no que concerne ao trabalho sobre a especiação, o coordenador revela que as ilhas da Macaronésia se revelaram recentemente também um “sistema ideal” para a realização de estudos evolutivos, além das ilhas do Pacífico. “Devido à sua localização geográfica, intervalo de idades geológicas e elevados níveis de endemismo, foram também reconhecidas como um sistema adequado para a investigação de múltiplas de questões evolutivas”, justifica. E acrescenta: “Os insectos estão entre os organismos que mais diversificaram nas ilhas da Macaronésia, contribuindo assim para o reconhecimento deste grupo de arquipélagos como um "hot spot" de especiação. Os escaravelhos do género Tarphius e as borboletas do género Hipparchia são exemplos de insectos com distintas capacidades de dispersão que colonizaram estas ilhas Atlânticas e que posteriormente sofreram extensa especiação”.
Paulo Borges revela que serão utilizadas técnicas moleculares e abordagens filogenéticas e de genética de populações para estudar colonização e diversificação em ilhas oceânicas, e adianta a finalidade dos resultados. “Serão apresentados à comunidade científica via submissão a reconhecidas revistas científicas e apresentações em congressos. De modo a colmatar a recorrente falta de partilha de conclusões de estudos científicos com o público em geral, iremos produzir material educacional atractivo e uma exposição itinerante”. E remata: “Estas iniciativas incidirão sobre a conservação da biodiversidade em ilhas oceânicas e, em particular, de espécies de artrópodes endémicos”. Participam nestes projectos, cujo orçamento ronda 330 mil euros na totalidade, os centros europeus University of Oxford -The Oxford University Centre for the Environment (OUCE) e University Athens, Departament of Ecology and Taxonomy – Faculty of Biology (DET), e University of East Anglia (UEA) - Centre for Ecology, Evolution and Conservation.
(in A União)

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