sexta-feira, agosto 07, 2009

O trigo

Joaquim Leça

Uma semana depois da 25.ª edição do festival de folclore "48 Horas a Bailar", realizado em Santana e dedicado ao trigo, o "Agricultando" de hoje versa sobre esta gramínea. É proveniente da região do Crescente Fértil no Médio Oriente, na zona actualmente constituída pela Síria, Jordânia, Turquia e Iraque. Em 2007, de acordo com a FAO, organismo das Nações Unidas para a agricultura e alimentação, este cereal é a terceira cultura agrícola mundial liderada pelo milho e seguida pelo arroz. A China, a Índia, os EUA, a Rússia, a França, o Paquistão e a Alemanha são os principais produtores. Na Madeira, esta cultura foi instalada de imediato aquando do seu povoamento, como alimento base dos nossos antepassados. O "Elucidário Madeirense" do Pe. Fernando Augusto da Silva e Carlos Azevedo de Meneses, confirma essa importância de outrora, dizendo que “o trigo existe em todas as freguesias do arquipélago, (...)”. No presente, a área e a produção deste cereal são muito reduzidas, devido aos custos de produção elevados, optando-se pela importação da totalidade da farinha aqui utilizada. Mesmo assim, segundo o "Recenseamento Geral de Agricultura" de 1999, destacam-se os concelhos da Calheta (freguesias dos Prazeres, Fajã da Ovelha, Ponta do Pargo), Santana, Porto Moniz e Porto Santo, com alguma produção e vestígios nos restantes municípios. Como curiosidade, refira-se que um agricultor, Eleutério Gonçalves Martins da Nóbrega, da freguesia de Santa Maria Maior, concelho do Funchal, dedica-se ao cultivo do trigo há 28 anos, sendo o último a fazê-lo nesta cidade. É por isso, motivo de uma exposição organizada pelo Grupo de Folclore e Etnográfico da Boa Nova, no Centro Cívico de Santa Maria Maior. Em termos culturais, a sementeira realiza-se de Dezembro a Março, conforme a localização geográfica, a altitude e as condições climatéricas locais e, a ceifa decorre em Junho e Julho. É rústica quanto às pragas e doenças, podendo ocorrer no armazenamento dos grãos, ataques do gorgulho e da traça dos cereais, bem como dos ratos e murganhos. Atendendo à diversidade de tipos de trigo existentes na Região e no âmbito do Germobanco Agrícola da Macaronésia da responsabilidade da Associação de Agricultores da Madeira e da Universidade da Madeira e, demais congéneres açorianas e canarianas, procedeu-se ao levantamento, recuperação, conservação, caracterização e aperfeiçoamento dessas espécies e variedades regionais, pela qualidade e produtividade únicas que possuem. Neste momento, o interesse no seu cultivo local serve sobretudo, para garantir a genuinidade dos derivados típicos, como o pão caseiro, o bolo do caco, o bolo de noiva, a sopa de trigo, o cuscuz, o "frangolho" (papas de trigo), entre outros. E, por outro lado, assegurar palha para a cobertura das casas de colmo, características do concelho de Santana. É pois, uma parte do património agrícola regional que deve ser acautelada, através da certificação dos produtos tradicionais atrás mencionados, onde o nosso trigo deve constar como ingrediente obrigatório.

(In Agricultando)

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