terça-feira, junho 02, 2009

Essência da Tecnologia e da Natureza – Um estudo de caso

Autor: Félix Rodrigues
Instituição: Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores

Heidegger defende que em qualquer lugar que nos encontramos, estamos acorrentados à tecnologia, quando a defendemos ou quando a negamos (Heidegger, 1997). A tecnologia não é equivalente à sua essência. A essência de um corpo está relacionada com aquilo que o corpo é. Nesse contexto há que questionar o que é tecnologia e o que não o é, o que é natural e o que é artificial, ou então, quão natural é um objecto que saiu das mãos do homem? A tecnologia pode ser vista como uma estratégia capaz de resolver um problema prático ou, só e apenas, resultado da actividade humana. Na actualidade o mundo vive num endeusamento da tecnologia de tal forma que é comum confundir-se um produto natural de um trabalhado pelo homem. Pierre Lévy (1996) afirma que nos guiamos por múltiplos saberes, habilidades e crenças. Entre esses, está "a dimensão social da inteligência" intimamente ligada às linguagens, às técnicas e às instituições, significativamente diferentes de lugar para lugar e de época para época. Nesse mesmo contexto, Bartolomé (2000) aconselha: "Cambia el modo como nos comunicamos y, como
consecuencia, está cambiando el modo como conocemos. La tecnologia influye en estos cambios". Com uma turma do terceiro ano da licenciatura em Engenharia e Gestão do Ambiente, do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores desenvolveu-se uma estratégia, em contexto de sala de aula, que permitisse identificar crenças dos alunos, múltiplos saberes e perspectivar consequências de decisões erróneas na conservação de património cultural e artístico, aquando da liderança de estudos de impacto ambiental.
O processo de decisão numa situação de avaliação de impacto ambiental, especialmente no que se refere ao património cultural e artístico, requer habilidades indispensáveis, dada a sua complexidade. A cultura científica na área da engenharia do ambiente não promove devidamente as competências que permitam julgar e decidir sobre essa temática. É importante que os profissionais que avaliam impactos ambientais saibam evitar os erros de avaliação, reconheçam as atitudes que podem influenciar a sua decisão e, principalmente, que sigam uma metodologia correcta no processo decisório.
Na turma em estudo, os alunos foram confrontados com vinte objectos naturais ou trabalhados pelo homem e foi-lhes solicitado que os classificassem em naturais ou artificiais (no sentido de terem sido trabalhados pelo homem), recente ou antigo e deverá ou não conservar-se.
Todos os alunos, num total de vinte, cometeram enormes erros de avaliação entre o que é natural ou artificial com enormes repercussões na decisão de conservar ou não conservar um objecto. Uma escolha aleatória teria surtido maior efeito do que um julgamento prévio. Após se fornecer informação sobre cada objecto, se era ou não natural, as decisões dos alunos sobre a conservação dos objectos não foram grandemente alteradas, uma vez que continuavam a conservar apenas os objectos naturais que incorporavam alguma beleza. Quando lhes foi fornecida informação sobre a idade dos objectos houve tendência (maioria dos alunos, 15 em 20) para conservar os mais antigos, sobrevalorizando a idade. Quando lhes foram explicadas as funções dos objectos trabalhados pelo homem, todos os objectos passaram a ter estatuto de conservação, todavia, os objectos relativamente aos quais não havia informação a esse nível, capaz de ajudar à decisão, nunca foi aplicado o princípio da precaução, revelando-se na maioria dos casos, uma elevada crença nos valores da tecnologia e do conhecimento.

(In Encontro de Inovação Educacional)

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