Do Fogo à Floresta
“Açores: do Fogo à Floresta” é uma exposição de fotografia, mas também uma história – a história natural dos Açores, desde os vulcões até à colonização das ilhas por diversos organismos. Em cada imagem, a objectiva do biólogo Pedro Cardoso conta uma parte da evolução num mundo que começa com rocha e mar. Os seres vivos dispersam e chegam às ilhas onde, ao longo de gerações, vão-se adaptando e formando novas espécies. A complexidade aumenta até chegarmos ao que tem sido apelidado de “floresta tropical temperada”, a Laurissilva. A mostra resulta de uma colaboração entre o Centro de Ciência e o Museu de Angra do Heroísmo. Nos dois espaços observa-se a mesma história, num conjunto complementar de 50 fotografias (25 em cada um). Doutorado em Ecologia e Biossistémica pela Universidade de Lisboa, Pedro Cardoso desenvolve investigação há mais de 10 anos nas áreas da Ecologia, Conservação, Biogeografia e Taxonomia de aracnídeos. É actualmente investigador no Museu de História Natural do Smithsonian, nos Estados Unidos da América, e na Universidade dos Açores. Para além de outros interesses, como espeleologia, montanhismo e BTT, tem dedicado muito do seu tempo livre à fotografia de natureza. Está neste momento a preparar um livro maioritariamente de fotografia para o público em geral sobre a paisagem, fauna e flora dos Açores, com o apoio do Centro de Investigação de Tecnologias Agrárias dos Açores, do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores. A exposição agora patente ao público permite uma antevisão da obra, que terá chancela da VerAçor. “Será um retrato natural dos Açores, mais especificamente sobre os seus habitats terrestres - as florestas, as pastagens, as grutas… -, que se encontram muito mal divulgados”, explica o biólogo. As fotografias de Pedro Cardoso serão acompanhadas de textos de investigadores da universidade açoriana, como Clara Gaspar, Paulo Borges, Rosalina Gabriel, Frias Martins e Victor Hugo Forjaz.
Investigador do mundo
Natural de Lisboa, Pedro Cardoso chegou aos Açores em 2008, onde desenvolve investigação no Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores sobre a conservação da fauna e da flora endémicas, no âmbito de um pós-doutoramento apoiado pela direcção regional da Ciência e Tecnologia. Antes, realizou na Universidade de Copenhaga, na Dinamarca, um trabalho de investigação sobre a sua área de especialidade – as aranhas. Em Abril, parte para Washington DC, nos Estados Unidos da América, para estudar as espécies invertebradas em risco de extinção, no Museu de História Natural do Smithsonian. “Tenho-me dedicado sobretudo à conservação e biogeografia, ou seja, à identificação dos locais onde se encontram as espécies e a melhor maneira de as conservar”, sublinha. Na ilha Terceira, debruça-se neste momento sobre as consequências das mudanças no solo para a fauna e flora açorianas. “No início, as ilhas estavam completamente cobertas de floresta natural, cujo melhor exemplo disso é a Caldeira da Serra de Santa Bárbara. Mais tarde, a desflorestação para a realização de pastagens e a introdução da cliptoméria ou do eucalipto trouxeram consequências para as espécies endémicas”, refere o biólogo, para quem é “importante saber quais as que se perderam e as que se ganharam e o que aconteceu à comunidade”. No Smithsonian, o objectivo será a definição de um protocolo sobre as espécies invertebradas prioritárias. “Muita coisa tem sido feita com os vertebrados, mas quanto aos insectos não se sabe quase nada e não há listas de espécies em perigo”, diz, salientando que, com a publicação da obra “As 100 espécies prioritárias da Macaronésia” pela Universidade dos Açores, a Região posicionou-se, nesta área, “muito à frente do continente português e da maior parte dos países europeus, que não tem uma lista tão completa”.
Imagens que falam
Autodidacta, Pedro Cardoso utiliza a fotografia como uma forma de complementar o seu trabalho enquanto investigador. “Comecei a tirar fotografias de aranhas e depois todo o tipo de fotografia da natureza”, conta. Mas, para além de ilustrar o trabalho científico, a fotografia é também, no seu entender, uma forma de dar a conhecer ao público em geral quais são e onde estão as espécies em risco. “Se as pessoas nunca viram por que vão querer conservar”, questiona. É este igualmente o objectivo da sua primeira exposição de fotografia. “Através da imagem, é possível compreender porque se investe dinheiro para conservar determinada espécie ou habitat e a própria investigação”, sustenta. E acrescenta: “A fotografia permite contar uma história de uma maneira que prende mais facilmente a atenção, ao mesmo tempo que passa uma mensagem científica”. Depois da Terceira, a exposição “Açores: do Fogo à Floresta” deverá percorrer as restantes oito ilhas do arquipélago.
(In DI-Revista)
Etiquetas: aranhas, CITA-A, Exposição fotográfica, Paulo Borges, Pedro Cardoso, Rosalina Gabriel
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