quinta-feira, maio 15, 2008

Educação on-line

As plataformas digitais revelam-se uma ferramenta importante para o Ensino. A Escola deixa de estar confinada a quatro paredes. Os alunos passam a aceder à aprendizagem 24 horas por dia. Os argumentos a favor desta realidade são de Javier Barquín Ruiz, docente universitário espanhol, que passou pela Terceira no âmbito do VII Encontro Internacional de Inovação Educacional organizado pelDelegação do Departamento de Ciências da Educação do Campus de Abgra do Heroísmo da Universidade dos Açores.


As novas tecnologias podem dar um grande contributo nas aulas. É possível especificar como um professor pode utilizar esses recursos e, com isso, melhorar a forma como ensina?

Com as novas tecnologias, o professor pode prescindir do livro, já que a informação está mais acessível. É muito mais rápida, instantânea e diversa. Por exemplo, antes um professor de Matemática tinha o seu livro e os seus conteúdos. Hoje, através da Internet, este professor pode aceder aos seus conteúdos, disponibilizá-los aos alunos e, ainda por cima, pode encontrar outros conhecimentos, que vêm complementar o que ensina. Depois, se os alunos têm acesso em casa aos conteúdos que vão aprender na escola, poderão facilitar a sua aprendizagem, porque têm a possibilidade de organizar o seu tempo e, de certa forma, aceder à escola 24 horas por dia. O conhecimento e a aprendizagem estariam acessíveis 24 horas e não apenas no período em que estão, fisicamente, na escola. Em Espanha, por exemplo, cada vez mais os jovens e as crianças estão a abandonar a televisão e a direccionar a sua atenção para a Internet. Portanto, é importante aproveitarmos esse facto. Ou seja, as crianças poderiam jogar, navegar e divertir-se e, ao mesmo tempo, adquirir conhecimentos. Se lhes disponibilizarmos conteúdos que, de forma divertida, os levem à aprendizagem, aí conseguiríamos aproveitar a sua disponibilidade para esta realidade.Assume que com o uso da Internet, os alunos poderiam ligar-se à aprendizagem 24 horas por dia.

Mas como pode o professor orientar essa aprendizagem nas horas em que o aluno não está na sala de aula?

Através de plataformas educativas. Eu, por exemplo, dou aulas na universidade, mas, em paralelo, tenho disponível uma plataforma educativa que me permite disponibilizar e orientar a aprendizagem dos meus alunos. Os meus alunos, aí, têm acesso a muito mais material do que aquele que disponibilizo nas aulas presenciais. Em Espanha, esta estratégia educativa está a ser alargada ao ensino primário e ao ensino secundário e também aos centros de formação de professores. E se analisarmos este fenómeno a nível mundial, vemos que, em muitos países, as plataformas educativas estão difundidas em todos os níveis educativos. Nessa realidade, o aluno pode aceder à plataforma educativa da sua escola e realizar actividades em qualquer momento do dia ou da semana. Essa tendência está a aumentar. E cada vez mais será uma realidade no ensino. Cada vez mais, o ensino não se resumirá às quatro paredes da escola. Passará também pela Internet e pelo recurso a meios tecnológicos que extravasam a escola, enquanto infra-estrutura.

Defender um maior uso da Internet, implica também uma actualização constante aos professores ao nível das competências de utilização dos meios electrónicos. Isto a par da actualização permanente ao nível dos conteúdos, que disponibilizam nas salas de aula. Não é pedir-lhes demais?

Bom, admito que o uso das novas tecnologias na perspectiva que aqui falamos aumenta a carga de trabalho dos professores. Não a diminui. Desde que utilizo uma plataforma educativa, trabalho mais, dedico mais tempo ao ensino. Mas, creio que o nível de aprendizagem será muito maior. E isso dá-nos mais satisfação. Acho que aqui a solução será uma alteração da perspectiva para os professores. Esta terá de ser mais alargada e total. Os conteúdos que ensina na aula estão disponíveis de outras formas. E existem outras maneiras de ensinar, para lá das quatro paredes da escola. Assim, o papel do professor terá de ser alterado. Claro que não há ainda uma resposta concreta quanto à forma como será alterado o seu papel. O debate que temos em Espanha neste momento é saber como podemos mudar a perspectiva do docente para que modifique substancialmente as suas formas de ensino, para que aproveite as plataformas educativas e conceba o acto de ensinar – e os próprios conteúdos – de outra forma. É fundamental que os professores percebam que os alunos que hoje têm não são os mesmos que tinham há dez ou 15 anos atrás. As crianças e os jovens mudaram os seus hábitos de contacto com a informação. Portanto, é importante que os professores e a escola evoluam nesse sentido, para manterem atractivo o acto de aprender.

Como será possível convencer o aluno a usar o tempo que tem para lá da sala de aula a manter-se em contacto com a aprendizagem?

A resposta a essa pergunta passa obrigatoriamente pelo envolvimento da família. Os estudos que temos realizado em Espanha concluem que os pais e as mães estão afastados desta realidade. Sabem o que se faz na escola, sabem o aproveitamento dos seus filhos, mas pouco mais. Portanto, é importante conseguir-se envolver os pais e a família na aprendizagem. É fundamental, neste processo, estabelecer-se uma comunidade de aprendizagem. Ou seja, conseguir-se uma envolvência que garanta que os pais se preocupem pela educação dos filhos para lá da sala de aulas. As plataformas educativas têm um sistema de controlo muito bom. Sabe-se, a cada momento, quem está a trabalhar e quem não está. Na plataforma que uso com os meus alunos, há um sistema que regista a entrada e a saída de cada aluno, além dos conteúdos e das actividades que está a usar. Do meu computador, posso controlar isso. As plataformas educativas que têm por base as novas tecnologias permitem-nos um controlo maior da produtividade de cada aluno do que dentro de uma sala de aulas. Aqui, um aluno pode estar sentado à nossa frente, fazendo de conta que nos ouve, mas nada apreende. Ora, numa plataforma educativa, o aluno terá de trabalhar numa qualquer actividade, terá de realizar uma qualquer tarefa. E a sua acção é registada. Se os pais se derem conta dessa possibilidade, poderão também contribuir para ela.

Os seus argumentos, em boa verdade, implicam que a Escola, nos termos em que a hoje a conhecemos, perca a sua força, caminhando para uma entidade mais abrangente e mais aberta, onde todos intervêm no processo educativo. Como será possível combater eventuais resistências a essas alterações?

Não creio que haja aqui qualquer problema. Muito menos razões para resistências. Apenas falo na evolução normal e expectável da aprendizagem. É apenas um adaptação aos tempos actuais e, sobretudo, um aproveitamento das modificações sociais nestas faixas etárias. Tenho cerca de 200 alunos que se encontram sobretudo na Internet, mas também fora dela. E não só na escola. Ou seja, cria-se aqui um maior efeito de comunidade. A aprendizagem presencial não é a única resposta para a aquisição de conhecimentos. Aliás, usando estas plataformas educativas e as capacidades de intercâmbio e diálogo que permitem, incentiva-se a uma maior sociabilização. Portanto, não há qualquer problema no recurso a estas tecnologias. Muito pelo contrário. Além disso, ao defender o uso destas tecnologias, isso não implica o fim da escola como hoje a conhecemos. O desenvolvimento de cada um implica o contacto com os outros. O que defendo é apenas o aproveitamento das oportunidades pedagógicas que a Internet e as novas tecnologias nos colocam.

(In Rui Messias DI-Revista)

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