domingo, setembro 02, 2007

Azorina como símbolo dos Açores

As suas campânulas ondulam ao vento. As cores rosáceas, brancas ou em tons violeta fazem-se ver. Mas encontrá-la é descobrir uma planta rara na ilha Terceira. Só no Porto Martins, nas Quatro Ribeiras e, recentemente, no Monte Brasil, em Angra, é possível observar a Azorina vidalli, a espécie do único género endémico dos Açores.

A planta é rara nos Açores, e mais rara na Terceira. Recentemento, elementos da equipa do Gabinete de Ecologia Vegetal Aplicada (GEVA), afecto ao Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores, descobriu exemplares da espécie no Monte Brasil. O último encontro com aquela planta naquelas paragens datava do início do século XX.
No entanto, mesmo tratando-se de uma espécie rara, o director do GEVA, Professor Eduardo Dias, defende a sua utilização como símbolo da região, em vez das tradicionais hortênsias, uma espécie que não é endémica do arquipélago, mas sim oriunda do Japão e da Coreia.
"Estamos a falar de uma espécie que pertence ao único género endémico dos Açores. É a única planta que tem o nome da região, é um fóssil vivo (tem mais de 300 milhões de anos), e é uma espécie que se encontra na raiz de muitas espécies no mundo", explica Eduardo Dias.
O biólogo assume que a espécie é originária do actual Cabo, na África do Sul, mas que acabou por se fixar na região, depois de séculos de evolução. "Os endemismos açorianos são fósseis das espécies perdidas no mundo", explica.
"Nesta terra, onde a natureza é tão rica e tem vindo a ser defendida como mais valia para o turismo, fazia sentido apostar num símbolo que recorresse a uma espécie única nas ilhas. Tem mais sentido essa opção do que usar as hortênsias, que são uma espécie invasora e não uma espécie endémica" argumenta o responsável do GEVA.
"A Azorina é uma planta muito bonita", sublinha Eduardo Dias, assumindo que a sua estilização (para fins gráficos) é fácil.
A Azorina vidalli, anteriormente conhecida como Campanula vidalli é - segundo a Wikipédia- a "única espécie do género Azorina, um género endémico dos Açores. Trata-se de uma planta pertencente à família das Campanulaceae, localmente chamada por Vidália. Pode atingir cerca de um metro de altura e produz flores em forma de sino de cor esbranquiçada".
Muitas vezes é comercializada como planta ornamental. No entanto, tendo em conta tratar-se de uma espécie protegida por lei (Convenção de Berna e Directiva Habitats, da União Europeia), não é possível recolher exemplares do seu local de origem, só podendo ser comercializadas as plantas domésticas.
A Azorina vidalli vive "normalmente em reentrâncias rochosas de falésias costeiras".
O seu nome foi atribuído pelo botânico Hewet Cottrell Watson em honra do capitão Alexander Thomas Emeric Vidal, responsável pelo levantamento hidrográfico das ilhas entre 1841 e 1845.


Não é a primeira vez que o Professor Eduardo Dias sugere o uso de determinadas características da Flora Açoriana para fins turísticos.
Em 2006, ao Diário Insular, o académico defendia o uso da "segunda Primavera" insular como cartaz turístico, num sector que as autoridades locais querem desenvolver cada vez mais.
"A falta de conhecimento tem gerado uma percepção errada da ecologia açoriana. Assumimos que no Outono açoriano caem as folhas e tudo fica amarelo e castanho. Mas o que, de facto, acontece é uma segunda Primavera. Devido ao clima subtropical, o interior das nossas ilhas apresenta-se florido, já que a Natureza responde ao Sol e ao calor", explicava Eduardo Dias na altura.
A imagem típica do Outono (árvores despidas, folhas caídas, paisagem triste) não se aplica, assim, aos Açores. O arquipélago, fruto do clima subtropical, vive uma excepção da natureza: duas Primaveras num ano, florindo a vegetação de Setembro a Novembro. O especialista em botânica da Universidade dos Açores garante que este erro tem provocado algumas situações que não deviam acontecer. "Ao assumir-se que o nosso Outono é id~entico ao Outono de Portugal continental ou da Europa do Norte, os nossos responsáveis entendem que nas zonas a embelezardevem ali ser colocadas árvores e plantas que, no Outono, ficam sem folhas. Quando o que deveriam era ali plantar organismos vegetais endémicos, que ficam floridos nesses três meses" explica o responsável do GEVA.
Segundo Eduardo Dias, o facto da Natureza florescer uma segunda vez no arquipélago, deveria ser explorado turísticamente. "Não faz sentido mantermos uma promoção com hortênsias ou álamos, castanhos, amarelos e sem folhas. Faz sim sentido promover uma natureza verdejante, florescida pela segunda vez ao ano. Ou seja, temos cá a oportunidade de assistir a duas Primaveras. Isso sim é uma característica única da paisagem açoriana, garante Eduardo Dias. Por isso, o especialista apela ao uso desta realidade, uma mais valia para o turismo insular que, actualmente, procura diferenças do turismo mundial para se colocar no mercado mundial.
Esta nova concepção de natureza açoriana surge na sequência dos estudos que têm vindo a ser realizados sobre a flora dos Açores. Este trabalho, a cargo do GEVA prepara-se para. dentrode alguns anos, colocar nas bancas uma "Flor dos Açores", uma versão completa e revista das plantas endémicas do Arquipélago.
Em paralelo, e nos próximos anos, os investigadores esperam colocar no exterior uma série de registos com pormenores deste trabalho, material que, segundo eles, será útil para quem promove o arquipélago.
"Este novo conhecimento vai permitir corrigir alguns erros e algumas falhas da informação actual sobre a flora açoriana, um trabalho indespensável até para questões que se prendem com o ordenamento do território e a protecção de espécies, assim como para o turismo", explica Eduardo Dias.
O professor do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores garante, com esta informação, os mais novos poderão começar a ter contacto directo com a verdadeira imagem da natureza açoriana.

(In Diário Insular)

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