quinta-feira, março 17, 2011

Catástrofes no Japão não nos batem à porta

Especialistas em sismologia, vulcanologia e ambiente analisam as consequências para os Açores das catástrofes ocorridas no Japão e dizem não haver riscos elevados.



O sismo que ocorreu no Japão na passada sexta-feira, dia 11 de março, pode ter consequências em Portugal e também nos Açores, quer no que respeita à interação entre sismos como no nível de radiação libertada para a atmosfera pelas explosões ocorridas nas centrais nucleares. Segundo uma sismóloga do Laboratório de Sismologia do Instituto Geofísico da Universidade de Coimbra, Susana Custódio, existe "um fenómeno de interação entre sismos e vulcões, e quando há um sismo muito grande aumenta a sismicidade e a interação pode ter um alcance muito longo". Contudo, defende a sismóloga, "é difícil saber se pode vir a haver consequências em Portugal, porque não se conhecem os mecanismos de triggering, ou seja, o que despoleta o sismo". João Luís Gaspar, especialista em Vulcanologia, diz que não há razão para alaridos. "Todos fazemos parte do mesmo planeta e tudo o que se passa num determinado ponto dele pode sempre trazer consequências a todo o mundo", diz. No entanto, o especialista assume que não há razão para grande especulação no que toca à atividade sísmica que pode ocorrer daí. "A sismicidade acontece todos os dias em todas as zonas, especialmente nas ilhas como as nossas, isso não quer dizer que teremos mais ou menos sismos derivado à intensidade do sismo ocorrido no Japão", afirma. João Luís Gaspar considera que os açorianos deveriam retirar desta infeliz experiência apenas a forma de reagir às catástrofes como o Japão tem reagido, considerando ser preciso repensar o modelo de planeamento de emergência para os Açores, "porque isso é que poderá salvar vidas, tudo o resto é especulação ", diz.

NUVEM RADIOATIVA

Numa análise feita por Félix Rodrigues, Professor da Universidade dos Açores, sobre a radiação que foi libertada para a atmosfera como consequência das explosões da central nuclear de Fukushima, o especialista explica o que pode acontecer a essa nuvem radioativa.De acordo com o mesmo, "os Açores são sempre pouco afetados", uma vez que a nuvem poderá até nem chegar ao arquipélago; tudo depende se o movimento da nuvem for na alta atmosfera", diz. Félix Rodrigues explica ainda o decaimento da dose de radiação com o tempo. Num gráfico denominado "decaimento da dose", ilustra-se como a dose a que os seres humanos ficariam sujeitos decresceria com o tempo. "Pensa-se que 1000 seja o máximo da dose a que estaria sujeito um indivíduo na proximidade da central nuclear (ver imagem abaixo). "Passadas 48 horas do incidente, a dose decresce rapidamente para valores aceitáveis", diz Félix Rodrigues. "Isto quer dizer que se a nuvem radioativa chegar aos Açores, estaremos livres do máximo da radioatividade porque passadas 48 horas a dose baixa drasticamente", diz. "Se eventualmente a nuvem chegar aos Açores irá afetar-nos em grau muito baixo comparando com outros lugares do planeta", assumiu ainda. Prevê-se assim que a radioatividade a que está sujeita a região seja mínima, embora outras regiões do mundo ainda tenham um nível de risco de contaminação elevado.
(in Diário Insular)