terça-feira, março 15, 2011

UMA DAS 100 MAIS PERIGOSAS Tartaruga invasora detectada na Terceira


Foi detectada, na ilha Terceira, uma tartaruga que está identificada como uma das 100 espécies invasores mais perigosas do mundo.A tartaruga-de-faces-rosadas é um dos répteis mais comercializados como animal de estimação e, segundo os especialistas da Universidade dos Açores, suspeita-se que foi abandonado. O Grupo de Biodiversidade da Universidade dos Açores alerta para o perigo dos desequilíbrios nos habitats açorianos de situações como esta e que esta espécie exótica poderá ter um impacto negativo na biodiversidade local.

O Grupo de Biodiversidade dos Açores da Universidade dos Açores/ Centro de Investigação de Tecnologias Agrárias dos Açores (CITA-A) detectou, no passado dia 22 de Fevereiro, numa ribeira junto ao Pólo Universitário do Pico da Urze, em Angra do Heroísmo, um cágado (tartaruga de água doce) da espécie Trachemys scripta elegans, vulgarmente conhecida no país como tartaruga-de-faces-rosadas, considerada como altamente perigosa em termos de desequilíbrios na biodiversidade.
“A tartaruga-de-faces-rosadas está no TOP 100 das espécies invasoras mais perigosas do mundo (http://www.issg.org/worst100_species.html), possuindo uma incrível capacidade de adaptação a novos meios, podendo por isso ter um impacto muito negativo nos ecossistemas naturais”, refere nota informativa do Portal da Biodiversidade dos Açores.
Esta espécie, informam, é originária dos Estados Unidos da América, mas actualmente “encontra-se distribuída em estado selvagem um pouco por todo o mundo, fruto de introduções humanas. Os seus habitats de eleição são lagos, zonas ribeirinhas, cursos de água, etc”.
No documento descritivo da ocorrência, assinado pelos professores Filomena Ferreira, Rodney Soares e Paulo A. V. Borges, é dado o seguinte alerta: “qualquer espécie exótica quando invade um ambiente natural pode constituir um risco para a biodiversidade local, e esta espécie não é excepção”.

De estimado
a abandonado

Segundo os universitários, o animal aparentava estar bem “apesar de não ter água disponível por perto (estes animais são aquáticos, passando a maior parte do tempo dentro de água). Não se sabe há quanto tempo estava na ribeira, nem como foi lá parar. No entanto, e sendo um animal que veio para a ilha porque alguém o trouxe, as hipóteses são escassas: ou fugiu ou foi abandonado. Partindo-se desta segunda hipótese, é mais uma vez revelada a inconsciência de algumas pessoas em relação aos animais e ao meio ambiente em geral”.
O cágado em questão mede cerca de 24 cm, mas, explicam “na altura em que foi adquirido como animal de estimação não deveria medir mais do 5/6 cm. Isto, aliado ao facto de estes animais poderem viver até aos 40 anos em cativeiro, pode ter causado o desinteresse dos antigos donos”.
“Abandonar um animal é só por si uma crueldade, independentemente de todas as justificações (e por vezes sentimentos conflituosos) que se possam encontrar para minimizar este facto. Neste caso, e se se tratar efectivamente de abandono, deixar o cágado na ribeira deve ter ocorrido na altura como uma «ideia brilhante» já que o animal estava a ser devolvido à natureza, num local onde até por vezes existe água. Mas a nossa natureza (dos Açores) não é a natureza desta espécie!”, reforçam o alerta, até porque, adiantam tratar-se “provavelmente do réptil mais comercializado no mundo como animal de estimação”.

30 ovos
num ano

Este espécie “facilmente identificável por possuir faixas vermelhas nos dois lados da cara”, no caso do exemplar, em concreto, identificado na ilha Terceira, refere-se a um animal com alguma idade, “dado que apresenta a carapaça escurecida, com as manchas esbatidas, o que contrasta com a carapaça luzidia, verde e amarelo vibrante que caracteriza os indivíduos mais jovens”.
Segundo explicam os estudiosos do Departamento de Ciências Agrárias (DCA) da UA, as tartarugas-de-faces-rosadas “atingem a maturidade sexual com 3/4 anos. Os ninhos são escavados no solo e podem ser colocados até 30 ovos por ano”.
“À semelhança de outros cágados, esta espécie hiberna no Inverno. No entanto, o nosso amigo resgatado (baptizado de Betinha Clementina) encontra-se de olhos bem abertos, não tendo condições para hibernar. É um animal curioso e simpático e neste momento está a ser cuidado, na medida do possível, pelo nosso grupo, até que lhe seja encontrado um novo lar, onde terá todas as condições para viver o resto da sua longa vida – mas em
cativeiro”.
“O facto de não existir cágados nativos nos Açores, com os quais esta espécie possa competir, não invalida que a sua presença possa ter um impacto negativo nos ecossistemas naturais, pois sendo uma espécie omnívora pode causar desequilíbrios ecológicos através da predação (de insectos) e herbívora”, adiantam.

(In Humberta Augusto - haugusto@auniao.com)