A sorte de varas
Tomaz Dentinho
O debate sobre a reintrodução da sorte de varas nos Açores tem ocupado uma boa parte das notícias e comentários na comunicação social dos Açores e do Continente. Uns são a favor e outros contra e quase todos apresentam razões respeitáveis que merecem leitura e ponderação por parte de quem decide. O espanto é que, salvo raras excepções, os deputados não manifestam a sua opinião na comunicação social preferindo fazê-lo para Assembleias de Apoiantes; e é assim nunca o saberemos o que votam e porque o fazem. Mais grave é que, para ultrapassar este secretismo medroso, os líderes partidários deram a liberdade de voto invocando eventuais razões de consciência. Como se todas as razões não fossem de consciência e como se pudesse haver algum fundamento racional de uma decisão pública de um representante que não devesse ser clarificada aos representados. E é assim que registamos um conjunto de gente boa que apresenta as suas razões a favor e contra a sorte de varas, e um conjunto de representantes que por medo de explicitarem votos ou por preguiça de buscarem razões que os fundamentem, se limitam a dizer aqui o que escondem ali ou, quem sabe, a dizerem uma coisa aqui e outra acolá, conforme o ouvinte.
A reintrodução da sorte de varas nos Açores tem efeitos privados, que interferem apenas com os que oferecem e procuram o espectáculo, e tem porventura efeitos públicos pois caso contrário não havia grande necessidade de intervenção e debate público.Os que são a favor argumentam que as varas são o primeiro instrumento da lide de gado bravo no campo, não só para a sua selecção mas também para o seu maneio; referem que a transposição dessa lide para os espectáculos de Praça é consistente com todas as outras formas de arte que tentam sublimar aquilo que é a vida quotidiana dos povos; continuam justificando que a sorte de varas melhora a qualidade artística do toureio apeado; e terminam dizendo que a tauromaquia tem um papel fundamental na educação das pessoas não só porque as interliga com o campo mas também porque lhes estimula virtudes de coragem, amizade e frontalidade.É natural que quem não tenha ligação à lide de gado bravo no campo veja as corridas de touros como um espectáculo bárbaro semelhante ao de um circo. Pode também acontecer que certos idealismos possam querer sonhar e querer impor um mundo onde a ligação com o campo e com o meio ambiente é feito de forma asséptica ficando todos os processos de vida e de morte abstraídos num qualquer modelo científico. Não é também improvável que alguns espectadores disfuncionais prefiram ver mais o sofrimento do animal do que entenderem a vida do touro. É finalmente possível existir um ou outro estrangeirado que em vez de perceber a diversidade e riqueza das tauromaquias opte por uma visão redutora da relação do homem com o campo, advogando a superioridade do toureio apeado.Seja como for julgo que, embora não seja possível perceber e respeitar a tauromaquia sem entender a relação do homem com o campo, não creio que seja aceitável que quem não percebe e respeite essa actividade possa negar aos outros aquela ligação nas suas diversidades de espectáculo. Em suma, mesmo os que estão contra devem ponderar se têm o direito de negar aos outros uma actividade que não percebem e, porventura, não respeitam.
A reintrodução da sorte de varas nos Açores tem efeitos privados, que interferem apenas com os que oferecem e procuram o espectáculo, e tem porventura efeitos públicos pois caso contrário não havia grande necessidade de intervenção e debate público.Os que são a favor argumentam que as varas são o primeiro instrumento da lide de gado bravo no campo, não só para a sua selecção mas também para o seu maneio; referem que a transposição dessa lide para os espectáculos de Praça é consistente com todas as outras formas de arte que tentam sublimar aquilo que é a vida quotidiana dos povos; continuam justificando que a sorte de varas melhora a qualidade artística do toureio apeado; e terminam dizendo que a tauromaquia tem um papel fundamental na educação das pessoas não só porque as interliga com o campo mas também porque lhes estimula virtudes de coragem, amizade e frontalidade.É natural que quem não tenha ligação à lide de gado bravo no campo veja as corridas de touros como um espectáculo bárbaro semelhante ao de um circo. Pode também acontecer que certos idealismos possam querer sonhar e querer impor um mundo onde a ligação com o campo e com o meio ambiente é feito de forma asséptica ficando todos os processos de vida e de morte abstraídos num qualquer modelo científico. Não é também improvável que alguns espectadores disfuncionais prefiram ver mais o sofrimento do animal do que entenderem a vida do touro. É finalmente possível existir um ou outro estrangeirado que em vez de perceber a diversidade e riqueza das tauromaquias opte por uma visão redutora da relação do homem com o campo, advogando a superioridade do toureio apeado.Seja como for julgo que, embora não seja possível perceber e respeitar a tauromaquia sem entender a relação do homem com o campo, não creio que seja aceitável que quem não percebe e respeite essa actividade possa negar aos outros aquela ligação nas suas diversidades de espectáculo. Em suma, mesmo os que estão contra devem ponderar se têm o direito de negar aos outros uma actividade que não percebem e, porventura, não respeitam.
(in A União)
Etiquetas: polémica, Política, Tomaz Dentinho, touradas, touros
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