sábado, maio 09, 2009

Cisternas podem voltar a ser úteis e produção agrícola tem de diversificar-se

A água canalizada tornou obsoletas as cisternas. Mas estas podem ser solução para a falta de água.

As cisternas e os tanques de água nas explorações agrícolas e nas habitações da Terceira podem voltar a ser uma realidade, admite o professor universitário Félix Rodrigues, especialista em alterações climáticas.
Em declarações ao DI, a propósito da escassez de água na ilha, o académico sublinha que o modelo de desenvolvimento assente na água canalizada para as explorações agrícolas, assim como para o abastecimento doméstico, provocou o desaparecimento das cisternas e dos tanques, que garantiam sustentabilidade do abastecimento individual na ilha Terceira.
“Essa mudança – observada hoje – acaba por revelar-se um erro. Obviamente que é fácil dizê-lo agora, quando a água não abunda na ilha e vivemos dois anos consecutivos com pouca chuva. Mas prova que insistimos em substituir modelos de desenvolvimento, assumindo que o novo será infinito”, argumenta Félix Rodrigues.
“Antigamente, os recursos eram geridos de forma mais sustentável. A água era exemplo disso. A chuva era armazenada. E os fios de água eram protegidos. Hoje, com a lógica da água canalizada, assumiu-se que ela era infinita que estaria sempre à distância de uma torneira”, sublinha.

Nova realidade

Félix Rodrigues adianta que a ilha pode ter começado a experimentar o declínio dessa realidade, provocado por alterações climatéricas espelhadas em previsões realizadas.
“Os cenários traçados, de facto, apontam para um clima açoriano com fortes chuvadas no Inverno, a ocorrerem em períodos mais curtos, e Verões secos. A questão que se coloca, actualmente, é se estes dois anos de menor pluviosidade são já reflexo disso, ou se são apenas dois anos atípicos. É cedo para afirmá-lo convictamente, até porque são necessários dados de três décadas para concluirmos uma nova realidade. Mas, para lá disso, o fundamental é usarmos estas novas realidades para nos precavermos, porque podemos estar a aproximarmo-nos da tendência revelada pelos cenários traçados”, explica Félix Rodrigues.
O professor universitário refere que, depois da falta de água em Angra em 2008 e a aparente persistência do problema este ano, muitos terceirenses começaram a procurar soluções, nomeadamente a reactivação de cisternas e tanques.
“É algo que pode continuar, caso o tempo na ilha persista idêntico ao que se registou nestes dois anos”, alega.
“As pessoas tendem a adaptar-se às alterações. Aqui acontecerá o mesmo. O problema será se a chuva regressar nos próximos anos nas quantidades a que nos habituámos, porque isso fará com que se esqueça o que aconteceu nestes anos e regresse tudo ao mesmo”, adverte.

Problema maior

Ontem, no final de mais uma reunião da comissão parlamentar que está a estudar a falta de água em Angra, o presidente da comissão admitiu a existência de “indícios” de que o problema esteja também a atingir outras ilhas do arquipélago.
“Este problema já estará a começar a atingir outras ilhas, como a Graciosa, S. Jorge e Pico”, disse Domingos Cunha, no final da segunda ronda de audições.
Para o responsável, “começa a vislumbrar-se que existem fenómenos que têm ocorrido nos Açores, em particular na ilha Terceira, que são preocupantes e vão requerer uma avaliação e um estudo sério para encontrar soluções”.
Nesse sentido, frisou que “a comissão espera, no relatório final, dar indicações ao parlamento e alertar o governo e as autarquias para implementarem medidas que minimizem ou evitem mesmo o problema da falta de água potável”.

(in Diário Insular)

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