João Miguel Ferreira, docente na Universidade dos Açores, NA especialidade de Astrofísica : “Olhar o céu “pode dar lucro aos Açores
É o único açoriano a fazer parte do comité organizador do Ano Internacional de Astronomia e considera que os Açores devem potenciar as suas características únicas, por exemplo através da radioastronomia que poderia contribuir de forma decisiva para a astronomia mundial. É o único açoriano a fazer parte do comité organizador do Ano Internacional de Astronomia, numa panóplia de diversos investigadores nacionais da área.
Que importância acrescida este cargo lhe traz, bem como aos Açores?
O nosso objectivo é levar as celebrações do AIA a todo o país e nesse sentido é uma grande honra e responsabilidade. Ao mesmo tempo, é importante os Açores participarem activamente neste acontecimento mundial.
Como é que vamos de Astronomia na nossa Região? Tem ou não sido uma ciência mais ou menos desprezada?
No passado, a comunidade de astrónomos amadores dos Açores desenvolveu um trabalho notável na divulgação da astronomia, que é importante realçar. Não creio que seja uma ciência menosprezada, mas é possível e necessário fazer mais e melhor. Julgo que esta é uma grande oportunidade para o desenvolvimento da astronomia na comunidade e nas escolas em particular. Junto dos mais novos, tem reconhecido alguma "atracção" pelo tema?
A minha experiência é que a astronomia fascina as pessoas de todas as idades. Junto dos mais novos, a astronomia pode ser um instrumento importante para despertar o interesse pelas ciências exactas e a matemática.
Quais as iniciativas previstas realizar na Região no âmbito este Ano Internacional?
Há diversas iniciativas, algumas delas organizadas pelo AIA e outras organizadas por diversas entidades com o apoio do AIA. Destaco a exposição Da Terra para o Universo, organizada em colaboração com o Centro de Ciência de Angra do Heroísmo, cursos de formação para professores, palestras e o Congresso de Astronomia organizado pela Escola Secundária Domingos Rebelo. O projecto Da Terra ao Universo" é único e pretende, durante o ano de 2009, fazer chegar imagens de Astronomia ao maior número possível de pessoas e em locais inesperados. A participação do arquipélago neste evento mundial reveste-se de particular importância, nomeadamente para projectar o arquipélago a nível internacional como dinamizador de eventos de divulgação científica; contribuir para uma participação da região nas actividades comemorativas do Ano Internacional de Astronomia; despertar o interesse do público Açoriano para a Ciência, e a Astronomia em particular, através de fotografias em grande formato com cores e formas impressionantes e de rara beleza; fomentar a cultura científica do público Açoriano de uma forma acessível para todos, original e inesperada; contribuir, em conjunto com outras iniciativas, para mostrar que as ilhas dos Açores são um bom local de observação astronómica e incentivar o público Açoriano a participar em observações regulares.
Em que consistirá a realização do Congresso na Região?
No âmbito do Ano Internacional da Astronomia é nosso propósito promover o I Congresso Internacional de Astronomia Azores O Universo Nos Açores. Temas como a exploração do Sistema Solar, nomeadamente de Marte, levada a cabo pela parceria entre a ESA, NASA, JAXA e Agência Espacial Russa, as descobertas levadas a cabo quase diariamente pelo ESO, o aparecimento de cada vez mais planetas extra Sistema Solar, a moderna Cosmologia, entre outros, estão na ordem do dia dos vários serviços de notícias e fascinam todos nós, principalmente os mais jovens. Este Encontro pretende, assim, ser um espaço onde professores e alunos dos vários níveis e graus de ensino e instituições escolares e científicas mostram o que se tem feito neste domínio. Os objectivos desta realização passam por envolver a escola e a comunidade nas comemorações do Ano Internacional da Astronomia; promover o contacto entre astrónomos profissionais e amadores, professores, alunos e restante comunidade interessada em Astronomia; divulgar projectos realizados nas Universidades e Escolas no âmbito da Astronomia e exploração do Universo; promover a troca de experiências entre professores de diferentes Instituições; possibilitar a troca de saberes entre os vários participantes; promover a Região Autónoma dos Açores como uma região dinâmica e empreendedora; dar a conhecer à comunidade o que está neste momento a fazer-se em investigação científica; promover o intercâmbio entre os profissionais do sector, nomeadamente a troca de experiências no âmbito da elaboração de estudos e projectos de Astronomia e a criação de trabalhos realizados por estudantes, no âmbito da Astronomia, bem como o convívio, a troca de experiências e confronto de ideias, estimulando assim o sentimento de camaradagem necessário para uma saudável convivência com a comunidade científica. O encontro decorrerá nos dias 2, 3 e 4 de Abril de 2009 em Ponta Delgada, na Universidade dos Açores.
São as iniciativas possíveis ou as suficientes?
São as possíveis mas também creio que são suficientes.
A astronomia que se faz nestas nove ilhas é, simplesmente, amadora ou já há bastantes profissionais na matéria?
A astronomia profissional faz-se em universidades e centros de investigação. É por isso natural que não haja mais profissionais de astronomia. Ao contrário do que se possa pensar, a astronomia amadora é muito importante para o desenvolvimento desta ciência, sendo muito frequente a descoberta de cometas e supernovas por astrónomos amadores.
São as possíveis mas também creio que são suficientes.
A astronomia que se faz nestas nove ilhas é, simplesmente, amadora ou já há bastantes profissionais na matéria?
A astronomia profissional faz-se em universidades e centros de investigação. É por isso natural que não haja mais profissionais de astronomia. Ao contrário do que se possa pensar, a astronomia amadora é muito importante para o desenvolvimento desta ciência, sendo muito frequente a descoberta de cometas e supernovas por astrónomos amadores.
Que opinião tem acerca do Observatório de Astronomia de Santana? Tem ou não sido uma infra-estrutura subvalorizada?
Que mais poderá ser feito para dinamizar e abrir a todos os públicos aquele espaço único na região? Apesar de o Observatório ter tido um início conturbado, o importante é que actualmente está em funcionamento. É certamente uma mais-valia para a região e vai ter um papel cada vez mais importante na sociedade açoriana. "A localização geográfica única do arquipélago açoriano torna-o um local estratégico para a rede internacional de radiotelescópios, permitindo cobrir as longitudes do Atlântico".
Considera, portanto que, esta deve ser uma oportunidade a não perder para os Açores e para a astronomia portuguesa? Em que aspectos e de que forma?
Os Açores devem potenciar as suas características únicas. Já o fazem em algumas áreas como a biologia marinha e geofísica. De forma ainda pouco continuada fazem-no também noutras áreas como, por exemplo, a monitorização da atmosfera. A radioastronomia nos Açores poderia contribuir de forma decisiva para a astronomia mundial. Há uns meses foi anunciado pelo governo regional um protocolo com o Instituto Geográfico Nacional da Espanha para a instalação de estações geodésicas destinadas também a estudos de radioastronomia. A colaboração com instituições estrangeiras é sempre bem vinda, mas o facto de todo este processo estar a ser feito à margem dos astrónomos portugueses leva-me a questionar sobre os benefícios que esta iniciativa terá para a ciência e astronomia em Portugal.
O que é que os Açores poderão ter de potencial para a Astronomia nacional e mesmo mundial?
A astronomia é também um grande motor de desenvolvimento tecnológico em áreas diversas da física, química, engenharia e informática. Assim, para além de apostas concretas em astronomia, como o caso da radioastronomia, os Açores podem contribuir e lucrar com a astronomia apostando nestas outras áreas afins. Há não muito tempo, um grupo de instituições de investigação portuguesas, liderado por António Amorim, construiu uma Câmara de Observação Astronómica no Infravermelho (CAMCAO) para o telescópio VLT existente no observatório astronómico do ESO, no Chile. No futuro, é possível que oportunidades semelhantes possam ser aproveitadas por instituições de investigação e empresas sedeadas nos Açores.
(In Ana Coelho -Correio dos Açores)
(In Ana Coelho -Correio dos Açores)
Etiquetas: Ano Internacional da Astronomia, astronomia, Congresso, Exposição, Exposição fotográfica, Miguel Ferreira
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