A astronomia na obra de Camões (III)
Realizou-se no passado dia 23 deste mês, na Escola Secundária Padre Jerónimo Emiliano de Andrade, uma conferência comemorativa do Ano Internacional da Astronomia, proferida pelo Professor Félix Rodrigues da Universidade dos Açores, com o título “A astronomia na obra de Camões”. Essas conferências foram organizadas pelo grupo de Físico-química da mesma escola.
Félix Rodrigues referiu que o Professor de Matemática da Universidade de Coimbra, Luciano Pereira da Silva, publicou entre 1913 e 1915, na Revista da Universidade de Coimbra, um estudo intitulado “A Astronomia de Os Lusíadas”, que rapidamente esgotou. Mais tarde, em 1972, houve uma reedição desse trabalho que também esgotou. Na “Astronomia de Os Lusíadas”, o Professor Luciano Pereira da Silva foi o primeiro a analisar de modo sistemático as referências astronómicas do Poema e a esclarecer os seus aspectos astronómicos, mostrando que ‘Camões tinha um conhecimento claro e seguro dos princípios da astronomia, como ela se professava no seu tempo’ e deduz que as ideias astronómicas de poeta são as do texto de Johannes de Sacrobosco, com as modificações contidas nas notas de Pedro Nunes no Tratado da Sphera de 1537.
Em 1998, o astrónomo brasileiro Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, publica um livro intitulado “A astronomia em Camões”, onde descreve a visão do universo no momento da composição da grande epopeia lusitana e questiona as fontes bibliográficas e outras de que se serviu o poeta para a elaboração do monumento máximo da língua portuguesa.
Entende Félix Rodrigues que as referências astronómicas de “Os Lusíados”, escritos em 1572, reflectem uma visão aprofundada da astronomia da época, com elementos astrológicos característicos dos interesses das cortes europeias renascentistas. Assim, Camões tem uma visão medieval Cosmogónica do mundo, que ainda não incorporou os elementos da revolução Coperniana, que colocava o Sol no centro do Universo. Essa visão Cosmogónica de Camões abrange as diversas lendas e teorias sobre as origens do universo de acordo com as religiões, mitologias e ciências, através da história. Camões é sem sombra de dúvida, na sua época e fora dela, um homem culto, possuidor de conhecimentos vastos em diversas áreas do saber.
Refere ainda Félix Rodrigues que Nuno Crato, do Instituto Superior de Economia e Gestão de Lisboa, num trabalho publicado em 2004 no Instituto Camões, afirma que: “...Camões não pode, contudo, ter-se baseado apenas na sua experiência nem em leituras secundárias. «Nem me falta na vida honesto estudo», diz quase no fim de Os Lusíadas, «com longa esperiencia misturado» (X, 154). A precisão com que fala da «grande máquina do Mundo» (X, 80) e se refere repetidamente a difíceis conceitos astronómicos indica ter-se baseado no «honesto estudo» da cosmologia da época.”.
É especialmente no último Canto de Os Lusíadas, quando a ninfa Tétis mostra a Vasco da Gama a Máquina do Mundo, que a visão medieval Ptolomaica do Universo transparece lúcida e claramente na obra de Camões.Félix Rodrigues referiu que o Professor de Matemática da Universidade de Coimbra, Luciano Pereira da Silva, publicou entre 1913 e 1915, na Revista da Universidade de Coimbra, um estudo intitulado “A Astronomia de Os Lusíadas”, que rapidamente esgotou. Mais tarde, em 1972, houve uma reedição desse trabalho que também esgotou. Na “Astronomia de Os Lusíadas”, o Professor Luciano Pereira da Silva foi o primeiro a analisar de modo sistemático as referências astronómicas do Poema e a esclarecer os seus aspectos astronómicos, mostrando que ‘Camões tinha um conhecimento claro e seguro dos princípios da astronomia, como ela se professava no seu tempo’ e deduz que as ideias astronómicas de poeta são as do texto de Johannes de Sacrobosco, com as modificações contidas nas notas de Pedro Nunes no Tratado da Sphera de 1537.
Em 1998, o astrónomo brasileiro Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, publica um livro intitulado “A astronomia em Camões”, onde descreve a visão do universo no momento da composição da grande epopeia lusitana e questiona as fontes bibliográficas e outras de que se serviu o poeta para a elaboração do monumento máximo da língua portuguesa.
Entende Félix Rodrigues que as referências astronómicas de “Os Lusíados”, escritos em 1572, reflectem uma visão aprofundada da astronomia da época, com elementos astrológicos característicos dos interesses das cortes europeias renascentistas. Assim, Camões tem uma visão medieval Cosmogónica do mundo, que ainda não incorporou os elementos da revolução Coperniana, que colocava o Sol no centro do Universo. Essa visão Cosmogónica de Camões abrange as diversas lendas e teorias sobre as origens do universo de acordo com as religiões, mitologias e ciências, através da história. Camões é sem sombra de dúvida, na sua época e fora dela, um homem culto, possuidor de conhecimentos vastos em diversas áreas do saber.
Refere ainda Félix Rodrigues que Nuno Crato, do Instituto Superior de Economia e Gestão de Lisboa, num trabalho publicado em 2004 no Instituto Camões, afirma que: “...Camões não pode, contudo, ter-se baseado apenas na sua experiência nem em leituras secundárias. «Nem me falta na vida honesto estudo», diz quase no fim de Os Lusíadas, «com longa esperiencia misturado» (X, 154). A precisão com que fala da «grande máquina do Mundo» (X, 80) e se refere repetidamente a difíceis conceitos astronómicos indica ter-se baseado no «honesto estudo» da cosmologia da época.”.
Tal como se referiu anteriormente, no tempo de Camões, astronomia e astrologia confundiam-se, acreditando-se que o destino de cada um estava escrito nas estrelas. Essa sina, destino ou fado, ditada pelas estrelas é nítida no Soneto V das Obras Completas de Luís de Camões.
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Mas minha Estrella, que eu ja agora entendo,
A Morte cega, e o Caso duvidoso
Me fizerão de gostos haver medo.
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Mas minha Estrella, que eu ja agora entendo,
A Morte cega, e o Caso duvidoso
Me fizerão de gostos haver medo.
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Em Portugal, a astrologia esteve muito em voga no tempo de Dom João I. Os principais eventos da história eram acompanhados pelos comentários dos astrólogos. Desse modo, a morte da rainha Dona Filipa de Lencastre, precedida de um eclipse do Sol, foi descrita pelos cronistas da época. Por ocasião da coroação de Dom Duarte, em 1433, o médico e astrólogo real Guedelha (Guedalia) solicitou ao jovem rei, que também se ocupava de estudos astronómicos, que adiasse a cerimónia uma vez que a posição dos astros lhe era desfavorável. O rei recusou e, por uma dessas coincidências inexplicáveis, o reino de Dom Duarte foi curto e infeliz. Em 1438, a morte do rei, fez com que o grande regente D. Pedro ordenasse ao mesmo astrólogo de dirigir o coroamento do jovem Afonso V de modo a evitar os eventos desagradáveis como os que haviam ocorrido anteriormente durante o reinado de Dom Duarte.
Será apenas uma figura de estilo de Camões quando afirma que a coroação de D. João I estava “marcada” nas estrelas (Canto IV, Estrofe 3)? Camões é sem dúvida grande conhecedor da astronomia e astrologia do seu tempo. É um homem de letras apaixonado pela ciência e convoca todas as áreas do conhecimento, como é hábito no renascimento, para a escrita da Grande Epopeia Portuguesa.
Será apenas uma figura de estilo de Camões quando afirma que a coroação de D. João I estava “marcada” nas estrelas (Canto IV, Estrofe 3)? Camões é sem dúvida grande conhecedor da astronomia e astrologia do seu tempo. É um homem de letras apaixonado pela ciência e convoca todas as áreas do conhecimento, como é hábito no renascimento, para a escrita da Grande Epopeia Portuguesa.
Etiquetas: Ano Internacional da Astronomia, astronomia, Camões, divulgação científica, Félix Rodrigues, História, Palestras
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