Dia Mundial das Zonas Húmidas
Cândida Mendes, Eduardo Dias e Cecília Melo
Acumulação de carbono sob a forma de turfa, Terceira.
Estes habitats, particularmente as turfeiras, têm capacidade de reter grandes quantidades de carbono sob a forma de turfa (as plantas não decompostas são formadas predominantemente por carbono), um facto que contribui, quando estas formações estão activas e no seu estado natural para minimizar este problema.Estes habitats cobrem cerca de 6% da superfície terrestre mas contém cerca de 14% do total de carbono. No entanto, a sua destruição progressiva, principalmente devido à conversão em áreas agrícolas, tem vindo a contribuir para o agravamento deste problema. Isto porque, quando ocorre a sua destruição, inicia-se um processo de decomposição e de transferência do carbono para a atmosfera. As zonas húmidas são importantes na estabilização das linhas de costa e protecção contra tempestades. As formações costeiras estabilizam as linhas da costa e fortalecem os solos, reduzindo a energia da ondulação e das correntes, enquanto os sistemas radiculares ajudam a fixar os sedimentos. A sua vegetação faz diminuir, por impacto, a velocidade da escorrência de água após grandes chuvadas, funcionando como meio de controlo à erosão. As zonas húmidas de altitude das ilhas açorianas, nomeadamente turfeiras, têm um papel fundamental no controle dos caudais ribeiras e linhas de água. A alteração progressiva da ocupação do solo, transformando zonas de vegetação natural em área agrícola (com uma menor capacidade de retenção de água), tem contribuído para a ocorrência de acidentes com perdas de vidas humanas tais como derrocadas de terra e caudais torrenciais (com transbordo) de ribeiras. As zonas húmidas proporcionam habitat a um amplo conjunto de espécies vegetais e animais aquáticos e muitos outros são dependentes destes habitats. As formações de água doce em termos mundiais, embora ocupem apenas 1% da superfície terrestre, são habitat para mais de 40% das espécies mundiais e 12% de todas as espécies animais. Estas promovem também a colonização de novos habitats e o intercâmbio genético, garantindo a viabilidade das populações de peixes e de aves aquáticas, pois constituem corredores de dispersão e migração, assim como "pontes de ligação" para muitas espécies. Da flora açoriana pode-se referir, de acordo com estudos efectuados no GEVA que cerca de 50% das espécies protegidas dos Açores desenvolvem-se em zonas húmidas ou estão dependentes destas (em termos de água e nutrientes). Como exemplos temos a Marsilea azorica (trevo muito raro que existe apenas na ilha Terceira) e o Chaerophyllum azoricum, entre outras. Da fauna destacam-se as aves aquáticas incluindo espécies terrestres e marinhas, residentes e visitantes. O papel das aves aquáticas é muito importante para o equilíbrio dos ecossistemas húmidos açorianos. O baixo número de espécies residentes nestes sistemas faz com que várias funções ecológicas dependam da interacção com as aves aquáticas visitantes. A importância destas aves tem vindo a ser reconhecido nos últimos anos, nem só pela sua função ecológica mas também pela importância turística para actividades como a observação de aves.O processo alteração da naturalidade destes ecossistemas, coloca em risco todo o mundo vivo associado às mesmas. Embora exista ainda grande quantidade de zonas húmidas nos Açores, uma parte considerável destas (senão) desapareceu, encontram-se bastante alteradas, pelo que urge a tomada de atitudes como o seu reconhecimento por todos e a compreensão da sua importância da qual depende a nossa própria qualidade de vida. Urge também a acção directa sobre estas formações. Não é possível desfazer actos, mas é possível refazer (recuperar e restaurar) zonas húmidas. Não queremos deixar de chamar à atenção que as zonas húmidas dos Açores possuem atributos particulares os quais não se resumem à sua diversidade biológica, valor hidrológico ou paisagístico, atributos esses que não se destinam, a serem consumidos de forma directa, mas antes a serem considerados um valor em si mesmos….o prazer de uma pescaria, um passeio à beira-mar e a vista sobre uma lagoa são apenas alguns exemplos.
Este dia comemora-se internacionalmente desde 1997, 16 anos depois de ter sido assinada a convenção de RAMSAR que tem como grande objectivo a conservação de zonas húmidas. Em Portugal desde 1998, as iniciativas para assinalar este dia passam pela organização de campanhas de sensibilização e divulgação sobre a importância destes ecossistemas incidindo em temáticas diversificadas como avifauna, flora e recursos hídricos. Numa fase em que tanto se fala e escreve sobre a falta de água e as inúmeras causas para a mesma, e aproveitando este dia internacional, pretende-se contribuir para o re(conhecimento) destes ecossistemas nas nossas ilhas descrevendo genericamente a sua importância. O que são zonas húmidas?
Existem de facto muitas definições para o termo «Zonas Húmidas», algumas baseadas em critérios principalmente ecológicos e outras orientadas para questões associadas à sua gestão. A Convenção RAMSAR adoptou uma definição extremamente ampla: «áreas de sapal, paúl, turfeira ou água, sejam naturais ou artificiais, permanentes ou temporários, com água que está estagnada ou corrente, doce, salobra ou salgada, incluindo águas marinhas cuja profundidade na maré baixa não exceda os seis metros», à qual se acrescenta, com a última revisão, que as zonas húmidas «podem incluir zonas ribeirinhas ou costeiras a elas adjacentes, assim como ilhéus ou massas de água marinha com uma profundidade superior a seis metros em maré baixa, integradas dentro dos limites da zona húmida». Esta definição inclui, assim, todos os ambientes aquáticos do interior e a zona costeira marinha.
Porque há tantas zonas húmidas nos Açores?A primeira razão pela qual existe grande quantidade de zonas húmidas nos Açores começa pelo facto de serem ilhas, ou seja rodeadas por mar, em que as zonas de transição entre o mar e a terra, correspondem a ecossistemas de natureza húmida (neste caso costeiras), correspondendo a uma imensa área, considerando as 9 ilhas e os seus ilhéus. Além das zonas húmidas associadas ao mar, existe grande quantidade de outras, designadas de terrestres. De facto, as zonas altas da grande maioria das ilhas apresentam elevados níveis de precipitação (directa e oculta - esta última é a correspondente à que as plantas retém por intercepção dos nevoeiros, os dois tipos de precipitação podem atingir valores de 13.000 mm em zonas como a Serra de Sta. Barbara). Associado à entrada de grandes volumes de água surge a formação de um horizonte (camada de solo) de ferro e magnésio (formação típica em solos de ilhas vulcânicas com elevados níveis de precipitação) que dificulta a drenagem das águas dando origem a uma quantidade considerável de água à superfície, condição base para o desenvolvimento de formações “encharcadas”.
Que tipos de zonas húmidas naturais existem nos Açores? Porque há tantas zonas húmidas nos Açores?A primeira razão pela qual existe grande quantidade de zonas húmidas nos Açores começa pelo facto de serem ilhas, ou seja rodeadas por mar, em que as zonas de transição entre o mar e a terra, correspondem a ecossistemas de natureza húmida (neste caso costeiras), correspondendo a uma imensa área, considerando as 9 ilhas e os seus ilhéus. Além das zonas húmidas associadas ao mar, existe grande quantidade de outras, designadas de terrestres. De facto, as zonas altas da grande maioria das ilhas apresentam elevados níveis de precipitação (directa e oculta - esta última é a correspondente à que as plantas retém por intercepção dos nevoeiros, os dois tipos de precipitação podem atingir valores de 13.000 mm em zonas como a Serra de Sta. Barbara). Associado à entrada de grandes volumes de água surge a formação de um horizonte (camada de solo) de ferro e magnésio (formação típica em solos de ilhas vulcânicas com elevados níveis de precipitação) que dificulta a drenagem das águas dando origem a uma quantidade considerável de água à superfície, condição base para o desenvolvimento de formações “encharcadas”.
As ilhas açorianas, frequentemente descritas como ilhas míticas de verde exuberante, se observadas com detalhe por entre as árvores do meio natural ou mesmo por entre meios humanizados, assumem um tom azul inesperado fruto da água que (ainda) existe à superfície do nosso solo “negro”. Em termos de formações de zonas húmidas que esta água faz desenvolver, estas são tão ou mais diversas como são as 9 ilhas. A principal distinção pode ser feita entre zonas húmidas costeiras (com influência marinha) e zonas húmidas terrestres (sem influência marinha directa). Exemplos da tipologia costeira são baías e a costa dos ilhéus. Em relação às terrestres três grandes grupos: (1) os chamados corpos de águas livres, desde grandes lagoas como por exemplo a das Sete Cidades a pequenos charcos que ninguém viu ou conhece; (2) zonas apauladas desde turfeiras de musgão (Sphagnum) a florestas húmidas; (3) o terceiro grande grupo é chamado o de águas correntes, onde as nossas ribeiras estão incluídas.
Genericamente tratam-se de um mundo bastante diverso e amplamente distribuído nas nossas ilhas. Os ecossistemas de zonas húmidas foram durante séculos, e segundo a crença popular, zonas que deviam ser drenadas por serem considerados sem valor, sendo apenas fonte de maus cheiros, mosquitos e doenças. Um maior interesse e conhecimento científico das zonas húmidas tem vindo a identificar valores e funções para a biodiversidade e qualidade de vida das populações aumentando o interesse dos cidadãos por estes habitats.
Importância das zonas húmidas naturais nos Açores:
Em primeiro lugar queremos salientar a importância destas formações em termos de salvaguarda de recursos hídricos. Estas funcionam como reservatórios naturais constituindo “tanques de armazenamento” das águas das chuvas, libertando de modo gradual (para os aquíferos e ribeiras) a água que recebem. Nesta função realçamos as turfeiras (zonas húmidas que se caracterizam pela capacidade de acumular as plantas que morrem, estas não se decompõem devido ao encharcamento e à acidez das suas água e acumulam-se sob a forma de turfa), capazes de reter, na camada superficial destas formações, cerca de 20 vezes o seu peso em água (como exemplo pode-se mencionar que uma só turfeira com cerca de 300 000 m2 pode reter na sua estrutura mais de 180 000 m3 de água). Também a diminuição de formações naturais florestadas (nomeadamente turfeiras florestadas), tem um grande impacte em termos de recursos hídricos pois a quantidade de água interceptada dos nevoeiros diminui de forma acentuada. Estudos efectuados no GEVA demonstram que a componente florestal acresce de 2 a 4 vezes o valor da precipitação de um dado local.As zonas húmidas não favorecem apenas a recarga dos aquíferos mas também contribuem para a limpeza das águas, visto servirem de reservatório onde os sedimentos e substâncias tóxicas se depositam. Pode-se assumir que estas formações “consertam” comportamentos abusivos do homem que resultam na poluição das águas, para que a possamos usar nas necessidades mais básicas como a sede. A alteração progressiva da ocupação do solo, transformando zonas de vegetação natural com uma menor capacidade de retenção de água, tem contribuído para a diminuição da quantidade e qualidade das nossas águas. Este fenómeno de desaparecimento de zonas húmidas favorece também a ocorrência de “acidentes” tais como derrocadas de terra e o aumento torrencial do caudal de ribeiras. O aquecimento global é também um tema bastante actual, que se pensa ter como causa primordial o aumento da emissão dos gases de estufa, nomeadamente dióxido de carbono.Importância das zonas húmidas naturais nos Açores:
Acumulação de carbono sob a forma de turfa, Terceira.
Estes habitats, particularmente as turfeiras, têm capacidade de reter grandes quantidades de carbono sob a forma de turfa (as plantas não decompostas são formadas predominantemente por carbono), um facto que contribui, quando estas formações estão activas e no seu estado natural para minimizar este problema.Estes habitats cobrem cerca de 6% da superfície terrestre mas contém cerca de 14% do total de carbono. No entanto, a sua destruição progressiva, principalmente devido à conversão em áreas agrícolas, tem vindo a contribuir para o agravamento deste problema. Isto porque, quando ocorre a sua destruição, inicia-se um processo de decomposição e de transferência do carbono para a atmosfera. As zonas húmidas são importantes na estabilização das linhas de costa e protecção contra tempestades. As formações costeiras estabilizam as linhas da costa e fortalecem os solos, reduzindo a energia da ondulação e das correntes, enquanto os sistemas radiculares ajudam a fixar os sedimentos. A sua vegetação faz diminuir, por impacto, a velocidade da escorrência de água após grandes chuvadas, funcionando como meio de controlo à erosão. As zonas húmidas de altitude das ilhas açorianas, nomeadamente turfeiras, têm um papel fundamental no controle dos caudais ribeiras e linhas de água. A alteração progressiva da ocupação do solo, transformando zonas de vegetação natural em área agrícola (com uma menor capacidade de retenção de água), tem contribuído para a ocorrência de acidentes com perdas de vidas humanas tais como derrocadas de terra e caudais torrenciais (com transbordo) de ribeiras. As zonas húmidas proporcionam habitat a um amplo conjunto de espécies vegetais e animais aquáticos e muitos outros são dependentes destes habitats. As formações de água doce em termos mundiais, embora ocupem apenas 1% da superfície terrestre, são habitat para mais de 40% das espécies mundiais e 12% de todas as espécies animais. Estas promovem também a colonização de novos habitats e o intercâmbio genético, garantindo a viabilidade das populações de peixes e de aves aquáticas, pois constituem corredores de dispersão e migração, assim como "pontes de ligação" para muitas espécies. Da flora açoriana pode-se referir, de acordo com estudos efectuados no GEVA que cerca de 50% das espécies protegidas dos Açores desenvolvem-se em zonas húmidas ou estão dependentes destas (em termos de água e nutrientes). Como exemplos temos a Marsilea azorica (trevo muito raro que existe apenas na ilha Terceira) e o Chaerophyllum azoricum, entre outras. Da fauna destacam-se as aves aquáticas incluindo espécies terrestres e marinhas, residentes e visitantes. O papel das aves aquáticas é muito importante para o equilíbrio dos ecossistemas húmidos açorianos. O baixo número de espécies residentes nestes sistemas faz com que várias funções ecológicas dependam da interacção com as aves aquáticas visitantes. A importância destas aves tem vindo a ser reconhecido nos últimos anos, nem só pela sua função ecológica mas também pela importância turística para actividades como a observação de aves.O processo alteração da naturalidade destes ecossistemas, coloca em risco todo o mundo vivo associado às mesmas. Embora exista ainda grande quantidade de zonas húmidas nos Açores, uma parte considerável destas (senão) desapareceu, encontram-se bastante alteradas, pelo que urge a tomada de atitudes como o seu reconhecimento por todos e a compreensão da sua importância da qual depende a nossa própria qualidade de vida. Urge também a acção directa sobre estas formações. Não é possível desfazer actos, mas é possível refazer (recuperar e restaurar) zonas húmidas. Não queremos deixar de chamar à atenção que as zonas húmidas dos Açores possuem atributos particulares os quais não se resumem à sua diversidade biológica, valor hidrológico ou paisagístico, atributos esses que não se destinam, a serem consumidos de forma directa, mas antes a serem considerados um valor em si mesmos….o prazer de uma pescaria, um passeio à beira-mar e a vista sobre uma lagoa são apenas alguns exemplos.
(In Diário Insular)
Etiquetas: Cândida Mendes, Cecília Melo, comemorações, Eduardo Dias, RAMSAR, Zonas húmidas
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