domingo, fevereiro 01, 2009

Árvores na Caldeira Guilherme Moniz

A reflorestação das zonas mais altas da Caldeira Guilherme Moniz é essencial para a eficácia do plano de recuperação do seu papel na recarga dos aquíferos ali existentes. Quem o diz é Eduardo Dias, professor da Universidade dos Açores e director do Gabinete de Ecologia Aplicada dos Açores (GEVA). Em declarações à Antena 1-Açores, o investigador (uma das autoridades regionais na matéria) explica que a devolução da Caldeira Guilherme Moniz à natureza para o restauro do sistema de turfeiras pode não ser suficiente para evitar que a água não chegue aos aquíferos e ás nascentes daquela zona. Além da recuperação das turfeiras, é necessária a reintrodução das florestas de altitude, que desapareceram daquele local. “São zonas chave, por vezes de pequena dimensão. Normalmente as cumeadas, as partes mais altas, onde o processo adquire funções fundamentais. Verifica-se que a maioria das ribeiras da ilha vão, exactamente, nascer nesses sítios”, explica o académico.
Eduardo Dias esclarece que esses arvoredos têm um papel fundamental na precipitação oculta, responsável por uma parte significativa da recarga dos lençóis de água na zona central da ilha, os quais asseguram três quartos da água disponibilizada pelas nascentes da Terceira. “A precipitação retirada das nuvens pelos arvoredos chega a ser quatro vezes mais do que aquela que a chuva normal debita sobre estes sistemas. Portanto, a altura do ano em que estes processos são mais importantes para a recarga do aquífero é, exactamente, no início do Verão, com os nevoeiros de São João, e de meados de Agosto para a frente”, esclarece Eduardo Dias. Segundo o académico, o restauro das turfeiras no maciço central da ilha (Guilherme Moniz/Pico Alto) e a reflorestação de algumas zonas altas desse complexo contribuirão, garantidamente, para a recuperação do ciclo da água na ilha Terceira. A Universidade dos Açores, segundo académico, desenvolveu um modelo que permite perceber quais as zonas em que é fundamental a reflorestação.
Medidas importantes
Na quinta-feira passada, o secretário regional do Ambiente anunciou um conjunto de medidas para a recuperação do ciclo da água na Terceira. Esse plano, além de comportar a abertura de quatro furos de captação de água até ao Verão e, nos próximos anos, prever a construção de duas lagoas artificiais, impõe a reserva de terrenos no maciço central da ilha (Guilherme Moniz/Pico Alto) para a produção de água. Neste caso, o plano define como fundamental a recuperação das turfeiras (vegetação que absorve a água e a vai libertando lentamente para infiltração nos aquíferos) na Caldeira Guilherme Moniz.
No final da semana, Eduardo Dias, em declarações ao DI, assegurava tratar-se de um projecto importante, embora ressalva-se que a sua concretização demorará, no mínimo, uma década.Também Félix Rodrigues, docente da Universidade dos Açores e especialista em questões ambientais, classifica de “razoável” o plano governamental.“Apresenta soluções a longo prazo. Nomeadamente a reserva de áreas da Caldeira Guilherme Moniz para o restauro do sistema de turfeiras. E apresenta medidas mais imediatas, no caso, furos de captação de água. Claro que, neste caso, falamos de investimentos que implicam alguma incerteza, já que quando se fura nunca se sabe, concretamente, quais os caudais que se vão conseguir”, argumenta.
Legislação inovadora
O plano apresentado pelo secretário regional do Ambiente visa garantir água para a ilha nos próximos anos. O projecto impõe a protecção das nascentes e zonas circundantes aos aquíferos mais importantes da ilha. Curiosamente, já em 1977, a Região era pioneira nessa matéria, ao produzir um decreto regional que estabelecia perímetros de protecção de nascentes e as consequentes coimas pelo seu desrespeito. O decreto regional nº12/1977 de 20 de Agosto estabelece, entre outras medidas, que os terrenos onde existam nascentes ficam protegidos num raio de 50 metros, podendo, em casos especiais, esse perímetro ser alargado aos 500 metros. “Essa legislação, em boa verdade, foi inovadora. Mas pecou por ser muito genérica. Querer proteger, num limite de 50 metros, uma nascente que proporciona poucos litros de água e aplicar a mesma medida a uma nascente que garante milhares de litros não é razoável”, comenta Félix Rodrigues.
Proteger a água
Quinta-feira, o secretário regional do Ambiente anunciou que terrenos entre a Serra do Morião e o Pico Alto poderiam ser adquiridos pelo executivo para serem reservados ao restauro de turfeiras. A medida, incluída no plano governamental para a sustentabilidade dos recursos hídricos da ilha, visa a diminuição da actividade agrícola naquela zona. Ao mesmo tempo, segundo o secretário do Ambiente, vão ser monitorizadas as actividades industriais em curso no Cabrito, nomeadamente a extracção de pedra. O plano para a sustentabilidade do abastecimento de água na Terceira inclui ainda a interligação das redes do IROA e das Câmaras Municipais de Angra e da Praia. Prevê ainda medidas imediatas: abertura de quatro furos de captação de água (um na zona da Terra-Chã/Fonte Faneca e três nos Cinco Picos) e pela construção de pelo menos duas lagoas artificiais, uma no Cabrito e outra a Sul do Pico da Bagacina. A abertura do furo na Terra-Chã/Fonte Faneca deverá começar dentro de duas a três semanas, segundo os Serviços Municipalizados de Angra. “Estas serão direccionadas, sobretudo, para a Agricultura, libertando a captação de água para o abastecimento público. Os novos furos também terão esse objectivo, embora se pretenda investir no tratamento de água que possibilite o seu uso doméstico”, explicou Álamo Meneses. Segundo Álamo Meneses, o IROA irá comparticipar nos custos dos ramais aos agricultores, para evitar o seu recurso às fontes públicas.

(In Diário Insular)

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