sexta-feira, janeiro 02, 2009

Preço do leite vai ter “fórmula indexante”

Associações agrícolas, industriais, e Governo Regional vão arrancar, “em breve”, com negociações para a criação de uma fórmula indexante ao preço do leite pago ao produtor na Região. A informação foi tornada pública em nota publicada pelo Gabinete de Apoio à Comunicação Social do Governo Regional, onde se avança que o objectivo é que os preços pagos aos produtores de leite evoluam em conformidade com o mercado do Continente e Europeu. A notícia foi bem acolhida no seio da lavoura terceirense. O presidente da Associação Agrícola da Ilha Terceira, Paulo Simões Ferreira, avança que esta medida pode ser o princípio do fim da desconfiança da lavoura em relação à indústria.“O Governo Regional tem de intervir para dar alguma moralidade ao mercado do leite. Esta medida pode vir a fazer com que os agricultores não se sintam enganados. Existem sempre dúvidas em relação ao facto de os industriais poderem ou não praticar determinado preço ao produtor. Com uma fórmula matemática, acabam-se as dúvidas. Perceber-se-ão os contornos reais que levam o preço do leite a subir ou a baixar”, adianta, em declarações prestadas ontem ao Rádio Clube de Angra. Opinião semelhante tem o professor do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores, José Estevam de Matos, que tem vindo a defender a criação desta fórmula indexante. “Finalmente acordou-se para o facto desta medida ser muito positiva para o sector”, disse, em declarações ao DI, considerando que pode ser o fim “ da guerra a que se assiste todos os anos em torno do preço do leite”.
A fórmula
Na opinião do professor da UA, são vários os indicadores que podem ser utilizados para indexar o preço do leite ao produtor praticado no arquipélago. “O preço do leite nos Açores poderá entrar em linha de conta com os preços médios praticados na Europa. Por exemplo, a LTO, uma organização holandesa, disponibiliza todos os meses, inclusive na Internet, os preços pagos pelas principais empresas aos produtores”, explica. Outros indicadores, adianta José Matos, podem ser os preços praticados no mercado em relação a produtos como o queijo ou leite em pó ou de venda ao público de produtos que são produzidos em quantidade considerável “como o queijo de bola- o flamengo- ou a manteiga”. Para José Matos importa também encontrar uma “margem de manobra” que tenha em conta o factor do custo de transporte e mantenha o leite açoriano competitivo, sobretudo num cenário em que se aproxima cada vez mais o fim das quotas leiteiras no espaço comunitário. Paulo Simões Ferreira concorda, mas afirma não querer voltar a assistir a “absurdos, como no ano passado em que o leite no Continente era pago ao produtor 30 escudos acima do de cá”. “Isso tem um nome que prefiro nem dizer”, lança. Já o líder da Federação Agrícola dos Açores, Jorge Rita, que falava à RDP, acredita na adopção desta fórmula indexante, mas desconfia que a indústria a aceite de “braços abertos”.
Os industriais
A suspeita do líder da Federação Agrícola dos Açores pode vir a confirmar-se. Por agora, Mancebo Soares, da UNICOL, recusa-se a prestar declarações aprofundadas até conhecer a proposta que irá às negociações entre lavoura, Governo e indústria, mas adianta que, “a este respeito, a UNICOL tem uma posição de princípio”. “Não acreditamos em preços administrativos, pensamos que são coisas do passado. A economia actual não se compadece com preços fixados de forma administrativa, que se revelam depois prejudiciais para os utilizadores”, afirma. Já Costa Leite, da Insular, em declarações à RDP/Açores, afirma que esta fórmula dificilmente se poderia aplicar a todas as empresas das várias ilhas, visto que estas diferem muito no tipo de produtos que fabricam.
(In Diário Insular)

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