Universidade e Desenvolvimento
O Reitor da Universidade dos Açores, Avelino Meneses defende uma diferente aproximação Universidade -Empresas para garantir o desenvolvimento do País.
No passado, a riqueza das nações dependia de capacidades de acesso a recursos naturais e de acréscimo de níveis de produção. Por isso, ao longo dos séculos, a construção dos impérios se baseou na conquista de fontes de matérias-primas, as mais das vezes pela força das armas, e na existência de mão-de-obra abundante e barata, muita dela de condição escrava.
Na actualidade, a situação é bem diversa. A chave do progresso é o conhecimento. Por isso se diz que estamos na sociedade do conhecimento, pois é nele que assenta a prosperidade dos povos neste advento do século XXI. A riqueza das nações deriva agora de capacidades humanas de inovação e de empreendimento. O relativo atraso de Portugal, e consequentemente dos Açores, em comparação com o Mundo mais evoluído das margens do Atlântico Norte, reside em défice de conhecimento, que importa superar. No entanto, convém dizê-lo, os últimos índices já são mais encorajadores. Nos derradeiros anos, particularmente na passada década, Portugal evidencia um acréscimo de financiamento e de produtividade em Ciência e em Tecnologia superior ao dos nossos parceiros europeus, facto que contribuirá para a atenuação do declínio estrutural. O relativo atraso de Portugal, e consequentemente dos Açores, ainda se deve ao défice de desenvolvimento científico e tecnológico, talvez fruto da interiorização de um sentimento muito antigo, que origina o desprezo pelas artes mecânicas, estimulantes do dinamismo da economia, e a valorização das ocupações políticas, académicas e guerreiras, propícias à letargia da sociedade. Assim, alastra a minimização do estatuto social do ensino técnico, que conduziu à sua dramática extinção no Portugal revolucionário dos anos 70. Assim, alastra a minimização do estatuto social do ensino politécnico, comparativamente ao universitário, cujo resultado se traduz na tendência perversa de conversão dos institutos politécnicos em universidades pequenas e inúteis, em prejuízo da difusão da cultura tecnológica. Por isso, a nossa legislação de trabalho e a nossa administração pública promovem, sobretudo, o endeusamento dos diplomas, que às vezes na prática significam tão pouco, por não corresponderem à posse de competências úteis. O atraso científico e tecnológico é também a consequência de uma atitude política. No século XX, por exemplo, de um regime anacrónico, que levantava dificuldades ao empreendedorismo, à abertura e à inovação. O atraso científico e tecnológico é também consequência da inacção dos agentes económicos, que quase sempre preferem o culto do negócio, isto é, a compra e a venda, em prejuízo da produtividade, que é o alicerce da criação da melhor riqueza. O atraso científico e tecnológico é também a consequência da falta de uma estratégia de desenvolvimento, insuficientemente procurada pelas universidades, nem sempre admitida como indispensável pelos governos, nem sequer requerida pela própria sociedade. O esboço de uma tal estratégia de desenvolvimento exige, entretanto, maior investimento. Com efeito, o desenvolvimento científico e tecnológico não será uma realidade, nem sequer um projecto, enquanto o financiamento médio por investigador em Portugal for de cerca de 1/3 da média da Europa, que por sua vez é de cerca de ½ da média dos Estados Unidos, e enquanto a percentagem de licenciados em Portugal for de apenas ½ da OCDE. A insuficiência de inovação, resultante da falta de formação científica e tecnológica, repercute-se numa produtividade muito baixa, de cerca de 60% da média da União Europeia. Daí a necessidade do acréscimo de horas de trabalho para se alcançarem resultados menos comprometedores. Porém, a inovação é um imperativo económico, mas igualmente um predicado político e social. É a inovação que acresce a produtividade do trabalho e a competitividade das empresas. É a inovação que pode libertar mais mão-de-obra, suscitando o alargamento dos benefícios sociais sustentáveis, próprios das sociedades mais desenvolvidas. O conhecimento e a inovação são, hoje, as molas do desenvolvimento. A Universidade é a casa do conhecimento. A Empresa é o albergue da inovação. No entanto a produção de conhecimento exige uma boa dose de inovação, enquanto que o estímulo da inovação deriva da utilização do conhecimento. Tudo isto quer significar que deve haver uma grande inter-relação entre a Universidade e as Empresas. De facto, só com grande cooperação entre a Universidade e as Empresas é possível que o conhecimento produzido pelo sistema nacional de inovação tenha impacto significativo na economia e que a divulgação de uma cultura inovadora contribua para o aumento, com sustentabilidade, da competitividade empresarial. A situação é ainda bem diversa. Por vezes, impera a separação e o conflito nas relações entre a Universidade e as Empresas. Não é verdade que os empresários atribuem, por vezes, a falta de inovação e a baixa competitividade às universidades e aos assalariados? Não é verdade que os empresários atribuem, por vezes, o atraso do desenvolvimento científico e tecnológico às universidades, que não fazem da utilidade do saber um objectivo crucial do ensino e da investigação? Até admitimos que os empresários possam ter razão! Não é verdade que os universitários consideram, por vezes, as empresas portuguesas aquelas que na Europa menos investem em investigação e tecnologia? Não é verdade que os universitários explicam, por vezes, o atraso pela deficiente formação técnica e cultural dos empresários, muitas vezes inferior às dos próprios trabalhadores? Até admitimos que os universitários possam ter razão! As divergências de pontos de vista entre a Universidade e a Sociedade aconselharam recentemente, e sobretudo no estrangeiro, à experimentação de novas modalidades de gestão universitária. Primeiro, verificou-se um relativo afastamento dos académicos, responsabilizados por um certo imobilismo das instituições. Depois, verificou-se um relativo falhanço dos gestores, mais propensos ao imediatismo das aplicações, mas que tolhem muito a criatividade, que é a base da inovação. Quer tudo isto significar que o futuro da relação entre a Universidade e a Sociedade, particularmente o universo das empresas, tem de assentar numa partilha de responsabilidades, o mesmo é dizer, na cooperação. Só assim ficarão as universidades melhor preparadas para responder às carências dos empresários. Só assim ficarão os empresários melhor preparados para responder às necessidades da sociedade.A relação entre a Universidade e a Empresa clama por uma inversão de procedimentos que se traduza no aprofundamento do diálogo e na concretização de medidas. Às empresas exige-se maior abertura, que facilite a transferência de tecnologia e a admissão de diplomados e de estudantes. Às universidades exige-se uma mudança de atitude, para que os diplomados sejam mais promotores de empreendimento do que mendigos de empregos. Se este encontro de posições efectivamente se verificar, ganha naturalmente a Universidade, que evidencia cada vez mais a sua inequívoca utilidade pública, mas ganha igualmente a Sociedade, por exemplo, as empresas, que ficarão mais capazes de enfrentar os desafios da sociedade do conhecimento. Este encontro de posições é, aliás, inadiável, porque depois de um largo período de predomínio, talvez que também de liderança, da administração pública, o sector privado assume-se agora como a força essencial da dinamização e da modernização das comunidades. A cooperação entre as universidades e as empresas já possui, entretanto, resultados encorajadores. Muitas empresas de sucesso, em diversos serviços e tecnologias, foram fundadas por licenciados, mestres e doutores, que já trazem da Universidade o fermento do empreendedorismo, uma prova da alteração das mentalidades.
Na actualidade, a situação é bem diversa. A chave do progresso é o conhecimento. Por isso se diz que estamos na sociedade do conhecimento, pois é nele que assenta a prosperidade dos povos neste advento do século XXI. A riqueza das nações deriva agora de capacidades humanas de inovação e de empreendimento. O relativo atraso de Portugal, e consequentemente dos Açores, em comparação com o Mundo mais evoluído das margens do Atlântico Norte, reside em défice de conhecimento, que importa superar. No entanto, convém dizê-lo, os últimos índices já são mais encorajadores. Nos derradeiros anos, particularmente na passada década, Portugal evidencia um acréscimo de financiamento e de produtividade em Ciência e em Tecnologia superior ao dos nossos parceiros europeus, facto que contribuirá para a atenuação do declínio estrutural. O relativo atraso de Portugal, e consequentemente dos Açores, ainda se deve ao défice de desenvolvimento científico e tecnológico, talvez fruto da interiorização de um sentimento muito antigo, que origina o desprezo pelas artes mecânicas, estimulantes do dinamismo da economia, e a valorização das ocupações políticas, académicas e guerreiras, propícias à letargia da sociedade. Assim, alastra a minimização do estatuto social do ensino técnico, que conduziu à sua dramática extinção no Portugal revolucionário dos anos 70. Assim, alastra a minimização do estatuto social do ensino politécnico, comparativamente ao universitário, cujo resultado se traduz na tendência perversa de conversão dos institutos politécnicos em universidades pequenas e inúteis, em prejuízo da difusão da cultura tecnológica. Por isso, a nossa legislação de trabalho e a nossa administração pública promovem, sobretudo, o endeusamento dos diplomas, que às vezes na prática significam tão pouco, por não corresponderem à posse de competências úteis. O atraso científico e tecnológico é também a consequência de uma atitude política. No século XX, por exemplo, de um regime anacrónico, que levantava dificuldades ao empreendedorismo, à abertura e à inovação. O atraso científico e tecnológico é também consequência da inacção dos agentes económicos, que quase sempre preferem o culto do negócio, isto é, a compra e a venda, em prejuízo da produtividade, que é o alicerce da criação da melhor riqueza. O atraso científico e tecnológico é também a consequência da falta de uma estratégia de desenvolvimento, insuficientemente procurada pelas universidades, nem sempre admitida como indispensável pelos governos, nem sequer requerida pela própria sociedade. O esboço de uma tal estratégia de desenvolvimento exige, entretanto, maior investimento. Com efeito, o desenvolvimento científico e tecnológico não será uma realidade, nem sequer um projecto, enquanto o financiamento médio por investigador em Portugal for de cerca de 1/3 da média da Europa, que por sua vez é de cerca de ½ da média dos Estados Unidos, e enquanto a percentagem de licenciados em Portugal for de apenas ½ da OCDE. A insuficiência de inovação, resultante da falta de formação científica e tecnológica, repercute-se numa produtividade muito baixa, de cerca de 60% da média da União Europeia. Daí a necessidade do acréscimo de horas de trabalho para se alcançarem resultados menos comprometedores. Porém, a inovação é um imperativo económico, mas igualmente um predicado político e social. É a inovação que acresce a produtividade do trabalho e a competitividade das empresas. É a inovação que pode libertar mais mão-de-obra, suscitando o alargamento dos benefícios sociais sustentáveis, próprios das sociedades mais desenvolvidas. O conhecimento e a inovação são, hoje, as molas do desenvolvimento. A Universidade é a casa do conhecimento. A Empresa é o albergue da inovação. No entanto a produção de conhecimento exige uma boa dose de inovação, enquanto que o estímulo da inovação deriva da utilização do conhecimento. Tudo isto quer significar que deve haver uma grande inter-relação entre a Universidade e as Empresas. De facto, só com grande cooperação entre a Universidade e as Empresas é possível que o conhecimento produzido pelo sistema nacional de inovação tenha impacto significativo na economia e que a divulgação de uma cultura inovadora contribua para o aumento, com sustentabilidade, da competitividade empresarial. A situação é ainda bem diversa. Por vezes, impera a separação e o conflito nas relações entre a Universidade e as Empresas. Não é verdade que os empresários atribuem, por vezes, a falta de inovação e a baixa competitividade às universidades e aos assalariados? Não é verdade que os empresários atribuem, por vezes, o atraso do desenvolvimento científico e tecnológico às universidades, que não fazem da utilidade do saber um objectivo crucial do ensino e da investigação? Até admitimos que os empresários possam ter razão! Não é verdade que os universitários consideram, por vezes, as empresas portuguesas aquelas que na Europa menos investem em investigação e tecnologia? Não é verdade que os universitários explicam, por vezes, o atraso pela deficiente formação técnica e cultural dos empresários, muitas vezes inferior às dos próprios trabalhadores? Até admitimos que os universitários possam ter razão! As divergências de pontos de vista entre a Universidade e a Sociedade aconselharam recentemente, e sobretudo no estrangeiro, à experimentação de novas modalidades de gestão universitária. Primeiro, verificou-se um relativo afastamento dos académicos, responsabilizados por um certo imobilismo das instituições. Depois, verificou-se um relativo falhanço dos gestores, mais propensos ao imediatismo das aplicações, mas que tolhem muito a criatividade, que é a base da inovação. Quer tudo isto significar que o futuro da relação entre a Universidade e a Sociedade, particularmente o universo das empresas, tem de assentar numa partilha de responsabilidades, o mesmo é dizer, na cooperação. Só assim ficarão as universidades melhor preparadas para responder às carências dos empresários. Só assim ficarão os empresários melhor preparados para responder às necessidades da sociedade.A relação entre a Universidade e a Empresa clama por uma inversão de procedimentos que se traduza no aprofundamento do diálogo e na concretização de medidas. Às empresas exige-se maior abertura, que facilite a transferência de tecnologia e a admissão de diplomados e de estudantes. Às universidades exige-se uma mudança de atitude, para que os diplomados sejam mais promotores de empreendimento do que mendigos de empregos. Se este encontro de posições efectivamente se verificar, ganha naturalmente a Universidade, que evidencia cada vez mais a sua inequívoca utilidade pública, mas ganha igualmente a Sociedade, por exemplo, as empresas, que ficarão mais capazes de enfrentar os desafios da sociedade do conhecimento. Este encontro de posições é, aliás, inadiável, porque depois de um largo período de predomínio, talvez que também de liderança, da administração pública, o sector privado assume-se agora como a força essencial da dinamização e da modernização das comunidades. A cooperação entre as universidades e as empresas já possui, entretanto, resultados encorajadores. Muitas empresas de sucesso, em diversos serviços e tecnologias, foram fundadas por licenciados, mestres e doutores, que já trazem da Universidade o fermento do empreendedorismo, uma prova da alteração das mentalidades.
(In Açoriano Oriental)
Etiquetas: Avelino Meneses, Economia, Emprego, Ensino superior, Reitor, Universidade dos Açores
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