CLIMAAT Investigação de origem açoriana fundamenta estratégia climática nacional
O projecto CLIMAAT da Universidade dos Açores e o SIAM, em que a academia insular participa, são os únicos dois projectos que integram a Estratégia Nacional de Adaptação às Alterações Climáticas (ENAAC).
Recentemente aprovada em conselho de ministros, a estratégia efectua cenários e projecções climáticas para o período 2080-2100 quer para o país, como para os arquipélagos.
Os projectos do CLIMAAT – Clima e Meteorologia dos Arquipélagos Atlânticos, coordenados pelo Centro de Estudos do Clima, Meteorologia e Mudanças Globais, da Universidade dos Açores (UA) e o SIAM – Scenarios, Impacts, and Adaptation Measures, da Universidade de Lisboa e no qual a UA participa, estão na base da Estratégia Nacional de Adaptação às Alterações Climáticas – ENAAC.
Recentemente aprovada, em Conselho de Ministros, no passado dia 18, a estratégia nacional identificou estes dois projectos para estruturar as políticas a seguir no que diz respeito às mudanças meteorológicas que afectarão o país.
Segundo o coordenador do CLIMAAT, Eduardo Brito de Azevedo, estes projectos “foram os únicos projectos identificados a nível nacional como relevantes para a definição da estratégia nacional”.
O docente universitário explica que, nos Açores, a estratégia regional está a cargo de uma comissão nomeada especificamente para o efeito, a ComCLIMA, criada no âmbito da Secretaria Regional do Ambiente e do Mar, da qual é coordenador científico.
O projecto CLIMAAT, desenvolvido no âmbito da iniciativa comunitária INTERREG_III B, visa a cooperação científica entre os Açores, Madeira e Canárias, para o desenvolvimento de metodologias específicas no estudo da meteorologia e do clima das regiões insulares atlânticas, recolhendo e divulgando informação climática relevante para fins aplicados. Previsão do estado do tempo, climatologia insular, química e física da atmosfera, anuários climatológicos, fisiografia, são algumas das finalidades do CLIMAAT.
Através do portal do CLIMAAT, em www.climaat.angra.uac.pt, podem aceder-se aos valores que as estações meteorológicas e as bóias ondógrafos, instaladas ao longo do arquipélago, actualizam diariamente, referentes à temperatura do mar, velocidade e orientação do vento, precipitação, entre outros. A instalação de doze webcams em todas as ilhas açoreanas são outros dos produtos do projecto.
Aumento significativo da temperatura média
De acordo com o relatório de consulta pública da Estratégia Nacional de Adaptação às Alterações Climáticas, coordenada pela Comissão das Alterações Climáticas (CAC), todos os cenários e projecções climáticas para todo o país, tendo por base os modelos climáticos dos projectos SIAM, SIAM_II e CLIMAAT_II, apontam para um aumento significativo da temperatura média em todas as regiões de Portugal até ao fim do século XXI.
Assim, o ENAAC sugere, para o período 2080-2100, um aumento da temperatura máxima no verão, no continente, entre 3ºC na zona costeira e 7ºC no interior, acompanhados por um incremento da frequência e intensidade de ondas de calor.
Nos Açores e na Madeira, os aumentos da temperatura máxima deverão ser mais moderados, entre os 2°C e os 3°C na Madeira, enquanto para os Açores os aumentos estimados são entre 1 °C e 2 °C;
“Os aumentos são grandes no número de dias quentes (máxima superior a 35ºC) e de noites tropicais (mínimas superiores a 20ºC), enquanto são esperadas reduções em índices relacionados com tempo frio (por ex., dias de geada ou dias com temperaturas mínimas inferiores a 0ºC)”, aponta o relatório.
“Em todo o território nacional são previstos efeitos decorrentes da alteração do clima térmico, designadamente os relacionados com o incremento da frequência e intensidade das ondas de calor, com o aumento do risco de incêndio, com a alteração das capacidades de uso e ocupação do solo e com implicações sobre os recursos hídricos”.
Chuvas normais nos Açores
Se nos Açores são previstas alterações do ciclo anual da precipitação sem grande impacto nos valores totais, em território continental a incerteza do clima futuro é substancialmente maior.
Quase todos os modelos analisados prevêem uma redução da precipitação durante a Primavera, Verão e Outono: “um dos modelos de clima prevê reduções da quantidade de precipitação no Continente que podem atingir valores correspondentes a 20 por cento a 40 por cento da precipitação anual, com as maiores perdas a ocorrerem nas regiões do Sul”.
Na Madeira estima-se igualmente uma importante redução da precipitação anual, até cerca de 30 por cento; bem como alterações significativas na sua variabilidade inter-anual e sazonal, circunstâncias agravadas pela limitada capacidade de retenção hídrica dessa região.
Ainda sobre a precipitação, os estudos efectuados referem que, nas ilhas, sobretudo nos Açores, a precipitação é caracterizada por uma grande variabilidade inter-anual, com diferentes graus de expressão nas diferentes ilhas, verificando-se mais recentemente uma alteração significativa do seu padrão sazonal.
Clima afecta pescas agricultura e florestas
As previsões da ENAAC “antevêem um aumento da produtividade e de sequestro de carbono apenas para algumas regiões do país onde se conjugue um ligeiro aumento da temperatura média e a manutenção de elevados níveis de humidade (Noroeste do continente, Açores e Madeira), enquanto que para as regiões mais secas (interior e o Sul do País) se espera uma diminuição da produtividade e do sequestro de carbono”.
A implementação das estratégias delineadas para os arquipélagos açorianos e madeirense, aponta o documento, “terá necessariamente de passar pelo envolvimento dos respectivos Governos Regionais. Assim, no quadro da Estratégia, será fomentada a articulação com as entidades e os grupos de reflexão estabelecidos a nível das Regiões Autónomas, para que estes possam contribuir para o desenvolvimento da Estratégia, bem como para que incorporem e adaptem os objectivos e metodologia de trabalho desta Estratégia ao contexto regional. Esta vertente será em grande parte conduzida pelo envolvimento dos organismos competentes das Regiões Autónomas”.
A estratégia da Estratégia
A ENAAC encontra-se estruturada sob quatro objectivos: informação e conhecimento, com a necessidade de consolidar e desenvolver uma base científica e técnica sólida; reduzir a vulnerabilidade e aumentar a capacidade de resposta; participar, sensibilizar e divulgar, levando a todos os agentes sociais o conhecimento sobre alterações climáticas e a transmitir a necessidade de acção; e a cooperação a nível internacional, com vista à adaptação das alterações climáticas e o acompanhamento das negociações levadas a cabo nos diversos fóruns internacionais.
A estratégia, que envolve diversos departamentos governamentais, universidades, bem como outras instituições, elaborará relatórios de progresso a cada dois anos, com o objectivo de avaliar a prossecução das acções previstas.
(In Humberta Augusto haugusto@auniao.com)
Recentemente aprovada em conselho de ministros, a estratégia efectua cenários e projecções climáticas para o período 2080-2100 quer para o país, como para os arquipélagos.
Os projectos do CLIMAAT – Clima e Meteorologia dos Arquipélagos Atlânticos, coordenados pelo Centro de Estudos do Clima, Meteorologia e Mudanças Globais, da Universidade dos Açores (UA) e o SIAM – Scenarios, Impacts, and Adaptation Measures, da Universidade de Lisboa e no qual a UA participa, estão na base da Estratégia Nacional de Adaptação às Alterações Climáticas – ENAAC.
Recentemente aprovada, em Conselho de Ministros, no passado dia 18, a estratégia nacional identificou estes dois projectos para estruturar as políticas a seguir no que diz respeito às mudanças meteorológicas que afectarão o país.
Segundo o coordenador do CLIMAAT, Eduardo Brito de Azevedo, estes projectos “foram os únicos projectos identificados a nível nacional como relevantes para a definição da estratégia nacional”.
O docente universitário explica que, nos Açores, a estratégia regional está a cargo de uma comissão nomeada especificamente para o efeito, a ComCLIMA, criada no âmbito da Secretaria Regional do Ambiente e do Mar, da qual é coordenador científico.
O projecto CLIMAAT, desenvolvido no âmbito da iniciativa comunitária INTERREG_III B, visa a cooperação científica entre os Açores, Madeira e Canárias, para o desenvolvimento de metodologias específicas no estudo da meteorologia e do clima das regiões insulares atlânticas, recolhendo e divulgando informação climática relevante para fins aplicados. Previsão do estado do tempo, climatologia insular, química e física da atmosfera, anuários climatológicos, fisiografia, são algumas das finalidades do CLIMAAT.
Através do portal do CLIMAAT, em www.climaat.angra.uac.pt, podem aceder-se aos valores que as estações meteorológicas e as bóias ondógrafos, instaladas ao longo do arquipélago, actualizam diariamente, referentes à temperatura do mar, velocidade e orientação do vento, precipitação, entre outros. A instalação de doze webcams em todas as ilhas açoreanas são outros dos produtos do projecto.
Aumento significativo da temperatura média
De acordo com o relatório de consulta pública da Estratégia Nacional de Adaptação às Alterações Climáticas, coordenada pela Comissão das Alterações Climáticas (CAC), todos os cenários e projecções climáticas para todo o país, tendo por base os modelos climáticos dos projectos SIAM, SIAM_II e CLIMAAT_II, apontam para um aumento significativo da temperatura média em todas as regiões de Portugal até ao fim do século XXI.
Assim, o ENAAC sugere, para o período 2080-2100, um aumento da temperatura máxima no verão, no continente, entre 3ºC na zona costeira e 7ºC no interior, acompanhados por um incremento da frequência e intensidade de ondas de calor.
Nos Açores e na Madeira, os aumentos da temperatura máxima deverão ser mais moderados, entre os 2°C e os 3°C na Madeira, enquanto para os Açores os aumentos estimados são entre 1 °C e 2 °C;
“Os aumentos são grandes no número de dias quentes (máxima superior a 35ºC) e de noites tropicais (mínimas superiores a 20ºC), enquanto são esperadas reduções em índices relacionados com tempo frio (por ex., dias de geada ou dias com temperaturas mínimas inferiores a 0ºC)”, aponta o relatório.
“Em todo o território nacional são previstos efeitos decorrentes da alteração do clima térmico, designadamente os relacionados com o incremento da frequência e intensidade das ondas de calor, com o aumento do risco de incêndio, com a alteração das capacidades de uso e ocupação do solo e com implicações sobre os recursos hídricos”.
Chuvas normais nos Açores
Se nos Açores são previstas alterações do ciclo anual da precipitação sem grande impacto nos valores totais, em território continental a incerteza do clima futuro é substancialmente maior.
Quase todos os modelos analisados prevêem uma redução da precipitação durante a Primavera, Verão e Outono: “um dos modelos de clima prevê reduções da quantidade de precipitação no Continente que podem atingir valores correspondentes a 20 por cento a 40 por cento da precipitação anual, com as maiores perdas a ocorrerem nas regiões do Sul”.
Na Madeira estima-se igualmente uma importante redução da precipitação anual, até cerca de 30 por cento; bem como alterações significativas na sua variabilidade inter-anual e sazonal, circunstâncias agravadas pela limitada capacidade de retenção hídrica dessa região.
Ainda sobre a precipitação, os estudos efectuados referem que, nas ilhas, sobretudo nos Açores, a precipitação é caracterizada por uma grande variabilidade inter-anual, com diferentes graus de expressão nas diferentes ilhas, verificando-se mais recentemente uma alteração significativa do seu padrão sazonal.
Clima afecta pescas agricultura e florestas
As previsões da ENAAC “antevêem um aumento da produtividade e de sequestro de carbono apenas para algumas regiões do país onde se conjugue um ligeiro aumento da temperatura média e a manutenção de elevados níveis de humidade (Noroeste do continente, Açores e Madeira), enquanto que para as regiões mais secas (interior e o Sul do País) se espera uma diminuição da produtividade e do sequestro de carbono”.
A implementação das estratégias delineadas para os arquipélagos açorianos e madeirense, aponta o documento, “terá necessariamente de passar pelo envolvimento dos respectivos Governos Regionais. Assim, no quadro da Estratégia, será fomentada a articulação com as entidades e os grupos de reflexão estabelecidos a nível das Regiões Autónomas, para que estes possam contribuir para o desenvolvimento da Estratégia, bem como para que incorporem e adaptem os objectivos e metodologia de trabalho desta Estratégia ao contexto regional. Esta vertente será em grande parte conduzida pelo envolvimento dos organismos competentes das Regiões Autónomas”.
A estratégia da Estratégia
A ENAAC encontra-se estruturada sob quatro objectivos: informação e conhecimento, com a necessidade de consolidar e desenvolver uma base científica e técnica sólida; reduzir a vulnerabilidade e aumentar a capacidade de resposta; participar, sensibilizar e divulgar, levando a todos os agentes sociais o conhecimento sobre alterações climáticas e a transmitir a necessidade de acção; e a cooperação a nível internacional, com vista à adaptação das alterações climáticas e o acompanhamento das negociações levadas a cabo nos diversos fóruns internacionais.
A estratégia, que envolve diversos departamentos governamentais, universidades, bem como outras instituições, elaborará relatórios de progresso a cada dois anos, com o objectivo de avaliar a prossecução das acções previstas.
(In Humberta Augusto haugusto@auniao.com)