quinta-feira, março 19, 2009

A astronomia na obra de Camões (II)

Realizou-se no dia 16 de Março, na Escola Secundária Padre Jerónimo Emiliano, organizada pelo grupo de Físico-Química da mesma escola, mais uma conferência sobre "A astronomia na obra de Camões" proferida pelo Professor Félix Rodrigues do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores.
De acordo com este investigador, Camões, tinha uma grande paixão pela física e astronomia, bem visíveis no poema:


Ditoso seja aquele que alcançou
poder viver na doce companhia
das mansas ovelhinhas que criou!
Este, bem facilmente alcançaria
as causas naturais de toda a cousa:
como se gera a chuva e neve fria;
os trabalhos do Sol, que não repousa;
e porque nos dá a Lua a luz alheia,
se tolher-nos de Febo os raios ousa;
e como tão depressa o Céu rodeia;
e como um só, os outros traz consigo;
e se é benina ou dura Citereia.
Bem mal pode entender isto que digo
quem há-de andar seguindo o fero Marte,
que traz os olhos sempre em seu perigo.

onde o autor aspira à vida de pastor para poder estudar fenómenos físicos como a formação da chuva e da neve, o movimento do sol (confundido na altura com o movimento da terra) ou a reflexão da luz do Sol pela Lua.
Ainda hoje a formação da chuva não é fácil de explicar, pois são necessárias várias condições físicas para que esta ocorra: vapor de água em abundância, núcleos de condensação de núvens em suspensão na atmosfera e a possibilidade de ocorrência de um arrefecimento adiabático.
Nos Lusíadas por exemplo, o «Planeta que no céu primeiro habita» (a Lua) marca com rigor o tempo da viagem de Vasco da Gama através das suas fases: «agora meio rosto, agora inteiro» (V, 24), numa alusão clara às várias fases da Lua.
Mercúrio, no segundo céu (no sentido astronómico ou astrológico) é referido três vezes no Canto II, estrofes 59, 60 e 61, e uma vez no Canto Décimo, na estrofe 89 dos Lusíadas. Como entidade mitológica, Mercúrio é referido nessa obra uma vez no Canto Primeiro, quatro vezes no Canto Segundo e uma vez no Canto Nono.
O planeta Vénus, é referido explicitamente, como planeta, ou como estrela da manhã ou grande estrela, no Canto Primeiro (estrofe 33), na estrofes 33, 34 e 35 do Canto Segundo, estrofe 85 do Canto Sexto, na estrofe 15 do Canto Sétimo, na estrofe 64 do Canto Oitavo e na estrofe 89 do Canto Décimo.
O planeta Marte, só é referido em Os Lusíadas, uma única vez como sendo um planeta, na estrofe 89 do Canto Décimo, todas as outras vezes é referido com deus da guerra ou como atributo dos guerreiros.
Júpiter é referido, tanto como planeta “Num assento de estrelas cristalino” como uma figura mitológica “Estava o Padre ali sublime e dino” na estrofe 22 do Canto I. O mesmo se passa na estrofe 41 do mesmo Canto, quando o poeta afirma que Júpiter decide a favor dos portugueses “Pelo caminho Lácteo glorioso”, numa perspectiva astronómica, para logo lhe associar a perspectiva mitológica “Logo cada um dos Deuses se partiu”.
No Canto II, estrofe 33, Júpiter volta a ser referido como planeta “Avante passa, e lá no sexto Céu”, pois de acordo com o modelo Ptolomaico, Júpiter ocupava a sexta esfera celeste, para de imediato lhe atribuir um sentido mitológico “Para onde estava o Padre, se moveu.”, referindo-o como o deus dos deuses.
Na estrofe 89 do Canto X, Júpiter volta a ser referido como um planeta que se movimenta no grande firmamento.
Na estrofe 89 do Canto X, Camões fala dos planetas conhecidos, de acordo com o modelo Ptolomaico:

"Debaxo deste grande Firmamento,
Vês o céu de Saturno, Deus antigo;
Júpiter logo faz o movimento,
E Marte abaxo, bélico inimigo;
O claro Olho do céu, no quarto assento,
E Vénus, que os amores traz consigo;
Mercúrio, de eloquência soberana;
Com três rostos, debaxo vai Diana.

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