quarta-feira, março 04, 2009

Angra Moderna


É possível definir numa frase o que pensa sobre a oposição partidária à liderança socialista no concelho de Angra?
Seria mais fácil se me perguntasse como caracterizo a acção da autarquia. Aí diria-lhe que é uma gestão responsável. Quanto ao trabalho da oposição, penso que é insuficiente. Aliás, acho que essa é uma das características que tem sido transversal ao PSD, não só a nível autárquico, mas também a nível regional. Ou seja, é uma oposição irresponsável, porque - pese embora a mensagem que tente passar de que o trabalho que desenvolve é de apresentar propostas e de que a posição não as cumpre nem as ouve - o que é facto é que nada de concreto é apresentado, e as que surgem não são realistas. Sobretudo, não são capazes de apresentar propostas que projecte um futuro para Angra. Acima de tudo, é uma oposição da maledicência. Essa é uma das suas características...
A falta de propostas resulta da incapacidade da oposição em as elaborar, ou por uma questão de estilo?
É estilo. E, talvez por isso, os açorianos - e os angrenses em particular - já vão dando, de há uns anos a esta parte, uma resposta a esse estilo. Parece-me que se continuarem a não ouvir as populações e o que elas acham que deve ser o papel da oposição, é persistir no erro que os tem afastado da governação. Acima de tudo, é contribuir para a má imagem que os partidos políticos têm, por vezes, junto da população.
Uma das frases que se tem ouvido sobre a governação socialista em Angra é que a cidade e o concelho adormeceram. Que ambos perderam o seu lugar no quadro regional. Aceita essa visão?
De modo algum! Claro que falamos de um trabalho de continuidade. Ou seja, o trabalho de uma autarquia não se esgota num período de quatro anos ou de seis meses. Há muito trabalho por fazer. Sobretudo, é necessário irmos dando as respostas à medida das necessidades da nossa população. Daí ser fundamental ouvi-la, ter capacidade de diálogo e, depois, de delinear uma estratégia que corresponda aos anseios de quem vive no concelho. Penso que o PS tem-no feito. E que é isso que lhe tem garantido o apoio popular nos últimos 12 anos. É esse o trajecto que percorremos e é o que queremos continuar a percorrer. Nesta fase, pretendemos proceder a uma nova avaliação do estado das coisas no concelho, monitorizar os problemas da nossa população e estabelecer perspectivas e medidas que solucionem esses problemas. Hoje, mais do que nunca, com a crise mundial, uma autarquia tem de ter a capacidade de perceber a realidade local, os problemas sociais que derivam do cenário actual, e encontrar e antecipar respostas que minimizem essas situações.
O PS está na governação de Angra há 12 anos: primeiro com Sérgio Ávila, depois com José Pedro Cardoso, e, agora, com Andreia Cardoso. Este percurso, em sua opinião, decorreu sempre com a mesma bitola, com o mesmo nível de desempenho e concretização?
Antes de mais, é importante dizer-se que o facto de o Partido Socialista ter sido capaz de apresentar três pessoas num período de 12 anos à frente deste projecto autárquico, significa que tem alternativas para a governação do concelho. Isso demonstra que o PS é um partido dinâmico e com capacidade de renovação, de propostas e alternativas. Quanto à sua questão, é claro que a liderança de uma autarquia reflecte sempre o estilo da pessoa que a lidera. José Pedro Cardoso não foi igual a Sérgio Ávila, nem Andreia Cardoso será igual a nenhum dos dois. Há características que nos distinguem e que, necessariamente, condicionam a forma como lideramos os destinos autárquicos. O que não quer dizer que não haja um projecto de base, comum aos três. E isso aconteceu. Estas lideranças ocorreram em períodos diferentes, com necessidades distintas a acautelar. E em cada uma dessas fases, as necessidades foram acauteladas. Colocam-se agora novos desafios. E o PS está preparado para eles.
Qual o modelo que, neste momento, o PS defende para Angra?
Temos que ter um concelho e uma cidade preparados para receber os seus jovens e para dar respostas às suas necessidades. Este é o elemento essencial. Ao falarmos de juventude, falamos necessariamente de emprego e de formação. E a isto junta-se o empreendedorismo e a iniciativa. Esta é a equação que queremos resolver, para garantir a Angra a sua revitalização, o seu rejuvenescimento e a concretização de um desenvolvimento sustentado.
Angra, neste momento, tem condições para absorver os seus jovens?
Sim. Tem capacidade e pode promovê-la ainda mais. Há que incentivar o aparecimento de talentos. Nesse sentido, há que aproveitar e explorar o facto da juventude, hoje em dia, estar intimamente ligada com as tecnologias. Angra tem de abraçar essa potencialidade. O concelho conta com um pólo universitário e é fundamental explorarmos a conjugação dessas duas valias no desenvolvimento do concelho. O pólo universitário tem vivido voltado para as questões da Agricultura, mas é tempo de voltar-se para as tecnologias. Mas Angra necessita também de uma universidade que lhe dê respostas aos desafios culturais, económicos e tecnológicos. Desta fusão de necessidades, há que encontrar respostas. Acho que elas se avizinham com a concretização próxima de um parque tecnológico. Queremos ter também uma Angra criativa, um concelho de talentos...
Essa Angra de talentos significa o quê?
Uma cidade onde a criatividade, a tecnologia e a tolerância convivam. Este concelho tem dado muitos exemplos, ao nível cultural, social e económico, das suas capacidades, do seu talento. Esses conceitos têm que ser explorados. A inovação urbana é fundamental, para que a cidade e o concelho se tornem atractivos à sua juventude e aos seus habitantes. Os jovens querem uma cidade moderna, não uma cidade cristalizada. É por aí o futuro de Angra. Talento, tecnologia e tolerância serão a chave para esse desenvolvimento.
Das suas palavras, nota-se uma nova lógica, uma possível nova filosofia de desenvolvimento. Pode depreender-se daí que, para o PS/Angra, o concelho e a cidade chegaram a um ponto em que é preciso alterar as perspectivas de desenvolvimento, para que não perca a sua capacidade reprodutiva, por exemplo, para o concelho vizinho?
Não é uma questão de reconhecer o que quer que seja. É apenas a continuidade do trabalho começado há 12 anos. O que o PS iniciou nessa altura foi pensado para chegarmos a este período, a este tempo. Aqui chegados, é preciso continuar, trazendo novos contributos aquilo que já foi feito, e bem feito. Por exemplo, dinamizar Angra como centro de congressos exigia ter as infra-estruturas que alberguem eventos dessa natureza. Criaram-se as infra-estruturas e, agora, é tempo de concretizar o projecto, promovendo a cidade como destino para congressos. Há outros exemplos que, como este, provam a filosofia que o PS tem vindo a implementar em Angra: infra-estruturar as necessidades e, depois, potenciá-las.
Nessa lógica de futuro, há um ponto essencial: nessa equação, onde se insere a Angra património da Humanidade, o casco histórico que lhe valeu esse galardão? Como tecnologia, talento e modernidade se fundem com esse peso histórico que é preciso salvaguardar...
Este casco histórico é uma herança que nos deixaram e que temos que deixar às gerações futuras. Mas não poderá ser deixado de forma cristalizada. É preciso, mesmo dentro desse casco histórico, garantir lugar à criação, à modernidade e aos talentos. A componente artística é muito vincada neste concelho. E isso tem de ser aproveitado. Usar o valor histórico como entrave a que o tempo de hoje se viva, parece-me um erro. No mundo, existem inúmeros exemplos de convivência sã e correcta entre o antigo e o moderno, entre o peso histórico e a inovação e a tecnologia. Angra tem de seguir esse caminho. Por que em Angra não podem por exemplo, conviver exemplos de arquitectura antiga e moderna ou contemporânea? Por que nos espaços públicos a modernidade não pode surgir? Teremos de viver numa cidade constantemente presa ao que foi no século XV ou XVI? Os angrenses querem sentir que a sua cidade não cristalizou, não parou no tempo, não é um museu etnográfico. O facto de Angra ser património da Humanidade deve ser potenciado como fonte de atracção, quer para investidores quer para turistas, quer para os habitantes quer para quem nos visita. Mas isso não pode significar viver ou conviver apenas com o antigo.
Pelo que percebo, o PS defende a revitalização da cidade. No entanto, a perspectiva que advoga implica, necessariamente, a existência de uma base económica, de uma capacidade financeira, que garanta a viabilidade desses projectos. Ou seja, não basta querer uma Angra cultural e tecnológica se, depois, os seus habitantes não tiverem capacidade económica para, por um lado, desfrutar dessas valências e, por outro, serem investidores nelas…
Claro. Houve capacidade até agora. Não nos esqueçamos que, até aqui, o caminho que Angra percorreu foi feito com investidores privados. Houve quem tenha investido em unidades hoteleiras, em empresas de animação, em empresas de serviços, algumas na área tecnológica. Portanto, isso prova que houve e há capacidade económica para continuar a investir. Nestes 12 anos, sempre reflectimos um projecto credível, em que os investidores acreditaram e ao qual responderam. E acho que vão continuar a fazê-lo. É óbvio que atravessamos uma fase de constrangimentos financeiros. Mas ela é conjuntural. Não veio para ficar. Portanto, importa que a autarquia prepare as bases para que, quando a bonança regressar, os investidores possam surgir.
Quando, economicamente, olhamos para Angra, nota-se o peso da administração pública. No vosso entender, esse peso mantém-se? Será tempo de aumentar a componente privada no concelho?
A administração pública tem, obviamente, peso no cenário económico de Angra. Mas, sinceramente, não me parece que seja preponderante. A realidade actual de Angra não é a de uma cidade que depende, exclusivamente, do sector público. Há um sector privado pujante, apesar das dificuldades que se sentem a nível mundial. Por exemplo, o parque industrial de Angra tem a sua capacidade praticamente esgotada, o que prova a dinâmica privada no concelho. E mesmo no centro histórico da cidade tem surgido iniciativas privadas, o que demonstra que esse sector está vivo e tem uma dinâmica própria muito importante. Aliás, só com esse sector privado se fará o desenvolvimento de Angra. Disso, não duvido.
O concelho de Angra pode ser dividido em duas partes, tendo em conta a sua dinâmica social e económica: da cidade para o lado de São Sebastião e no sentido do parque industrial, assiste-se a desenvolvimento; no outro sentido, nem tanto. o PS reconhece essa divisão? E se sim, como será possível invertê-la, garantindo um desenvolvimento mais harmonioso a todas as parcelas do concelho?
É evidente que, tal como na Região em que há dinâmicas diferentes entre as ilhas, num concelho há freguesias com desenvolvimentos diferentes. A autarquia tem, por inerência, que garantir que essa diferença não implique menor qualidade de vida. A diversidade é uma característica de Angra e isso é bom. O que importa é salvaguardar que todos os angrenses, quer vivam em São Sebastião quer nos Altares, tenham boa qualidade de vida. Temos feito, constantemente, o diagnóstico dessas situações, procurando antecipar as necessidades da população. É por isso que, por exemplo, nos próximos três meses vão surgir duas escolas completamente novas, uma na Ribeirinha e outra em Santa Bárbara. Esta terá um papel fundamental ao garantir qualidade de ensino aos pais que queiram viver nessa zona do concelho. Isso é essencial para quem opta por viver numa freguesia. Em paralelo, queremos desenvolver iniciativas de ocupação de tempos livres, para que as crianças possam estar ocupadas no período em que os pais estão a trabalhar. Essa lógia permite manter as crianças nas freguesias e, com isso, salvaguardar a fixação populacional naquela zona do concelho. Condições semelhantes têm vindo a ser criadas para os idosos. Além disso, sendo uma zona maioritariamente rural, a autarquia tem que estar desperta para garantir as estruturas essenciais nessa actividade, nomeadamente ao nível dos acessos. Esse trabalho tem vindo a ser desenvolvido, em parceria com o Governo Regional. As respostas vão surgindo à medida das necessidades...
Essas respostas, particularmente ao nível social, têm de ser públicas?
Não necessariamente. Podem ser privadas também. Os empresários têm muita margem de manobra para surgirem com respostas viáveis a estas questões. As próprias instituições que existem nessas localidades têm também uma palavra a dizer. Por exemplo, nos Altares, através da Santa Casa da Misericórdia dessa freguesia, surgiram iniciativas ao nível do apoio ao domicílio que são exemplares.
No modelo de desenvolvimento de Angra, o Turismo terá um papel fundamental. O PS defende que o concelho deve receber turismo de massas ou turismo de qualidade?
De qualidade e cultural, sem dúvida.
Tem sido essa a estratégia em concretização?
Sim. É evidente que surgiram unidades hoteleiras com alguma dimensão, mas isso era fundamental, nomeadamente para um turismo associado aos congressos. Mas, tal não implica que as características do turista que nos visita não sejam as de alguém que procura qualidade.
Angra deve vender-se pelo seu património?
Por ele, mas também pelas características ambientais e paisagísticas únicas. Se queremos aumentar o tempo de permanência dos turistas no concelho, não nos podemos ficar pelo património. Temos de valorizar as nossas freguesias, sobretudo aquilo que elas têm de único. Temos exemplos únicos de flora, património, paisagem e cultura que têm de ser integrados, valorizados e explorados turisticamente.
Essas qualidades têm, em sua opinião, sido aproveitadas?
Temos de as aproveitar melhor. Há que aprofundar o trabalho a esse nível. A cidade é reconhecido no exterior como património mundial, mas há elementos paisagísticos, por exemplo, que devem ser explorados. Claro que, essa exploração, não pode, de forma alguma, pôr em risco a salvaguarda e a preservação desses locais. Aproveitar as características naturais de Angra não significa a sua destruição.
Os angrenses perderam o orgulho no que têm?
Quando conversamos entre nós, temos muito a perspectiva de que o que é de fora é que é melhor. Isso resulta da leitura - muitas vezes negativa - que é feita das coisas. No entanto, parece-me que essa mentalidade, essa crítica negativa, tem vindo a alterar-se. E que o que temos tem vindo a ser reconhecido como uma mais-valia.
Um sector turístico dinâmico implica, entre outras coisas, um sistema de transportes eficaz e a qualidade nos serviços e na hospitalidade nas unidades comerciais vocacionadas para receber turistas. Acha que essas condições estão reunidas em Angra e na Terceira?
Quanto à qualidade dos serviços, acho que ainda há um caminho a percorrer. O paradigma dessa área é conseguirmos dar o salto da qualidade ao nível da prestação de serviço que já temos. Há investimentos feitos ao nível dos recursos humanos que, com certeza, darão frutos. Quanto aos transportes, de facto, têm surgido entendimentos distintos por diversas entidades, designadamente a Câmara do Comércio de Angra, que se tem manifestado muito sobre esta questão. Entendemos que, a esse nível, têm sido dados passos importantes. O que não quer dizer que estejamos no nível adequado ou ideal...
Qual o nível ideal para o PS/Angra?
Trazer os turistas à Terceira por bons preços e com a regularidade que as nossas unidades hoteleiras desejam.
Como é possível concretizar essas vontades?
Parece-me que o Governo Regional tem uma palavra importante nessa matéria. E tem vindo a reflectir e a intervir nos transportes. É importante termos a noção de quais os mercados que nos interessam e, depois, garantir uma promoção de qualidade do destino Açores e, nele, do destino Angra. Temos uma empresa aérea que, sob orientação do Governo Regional, tem de dar essa resposta.
Há alguns anos, foi anunciado que o objectivo seria consolidar Angra como capital regional da Cultura. Esse objectivo foi conseguido?
É uma meta para a qual temos de trabalhar todos os dias. Muito se fez nesse sentido. Mas há mais a fazer. Nessa perspectiva, há um exemplo que traduz aquilo que entendo que deve ser a política cultural no concelho: o Angrajazz. Este evento, ao mesmo tempo, permite aos terceirenses ouvir e ver músicos de qualidade a nível nacional e internacional; permite incorporar mais-valias essenciais em nível da formação, através da orquestra Angrajazz; e, através deste evento, conseguimos promover Angra. Ou seja, é este tipo de eventos que necessitamos para o concelho: eventos que, ao mesmo tempo, garantam qualidade, formação e promoção. Entendo que a política cultural autárquica deve caminhar por aqui.
Por diversas vezes, na Comunicação Social local e regional vemos, ouvimos e lemos vozes que contestam o momento actual da cidade e do concelho. O seu discurso contrasta com essas visões. Que leitura faz dessas críticas, dessas análises? Elas reflectem o sentir real da população ou reflectem apenas a visão de "velhos do Restelo"?
Há, de facto, pessoas com uma perspectiva completamente derrotista do futuro de Angra. Eu não acredito minimamente nessas perspectivas. Acho que Angra continua a ser um concelho de oportunidades: só assim se justifica que uma jovem de 23 anos seja eleita deputada na Assembleia Legislativa dos Açores e que uma mulher e mãe pode estar na política activa. Daí achar que este é um concelho de oportunidades. Daí também acreditar que essas opiniões derrotistas terem origem em "velhos do Restelo". Respeito a opinião destas pessoas, mas não concordo com ela. E ela não é unânime. Acredito também que essas opiniões não correspondem ao sentir da maioria dos angrenses. Os angrenses, ao contrário do que muitas vezes se tenta passar, têm um espírito crítico muito forte e, tendo por base isso, se não concordassem com o rumo do concelho e da cidade já o teriam manifestado. Não podemos permanecer num espírito de crítica atrás de crítica, até sermos afundados. Obviamente que, quem ler a Imprensa, poderá ficar com uma leitura menos positiva de Angra. Mas, duvido que ela corresponda à verdade. Isto não quer dizer que a realidade seja perfeita. Há sempre coisas a melhorar. Mas isso depende do esforço de cada um de nós...
Os angrenses deixaram de se importar com o seu concelho e a sua cidade?
Não. Há muita gente a contribuir. Só uma minoria quer passar a mensagem de que as coisas não são assim. Temos um conjunto vasto de instituições e de pessoas que, diariamente, tiram do seu tempo para contribuir para o bem comum. Só não vê isso quem não quer! Temos instituições particulares de solidariedade social, grupos de teatro, filarmónicas, associações juvenis, colectividades... Perante isso, acha possível dizer-se que não há contribua e se interesse pelo concelho e pela cidade?
Angra viveu semanas com falta de água. As soluções que a autarquia e o Governo Regional anunciaram garantem que esse episódio não se vai repetir?
Convém começar por dizer que o problema da falta de água não tem origem na falta de investimento. Este não é um problema que se resolva exclusivamente com investimento. O investimento que a autarquia anunciou solucionará apenas uma parte do problema. É importante esclarecer-se isto. Daí a colaboração do Governo Regional. Porque há outras questões a assegurar, que não passam pela autarquia.
Acusam a Câmara de não ter investido na rede de abastecimento e, com isso, contribuído para o problema. Se os investimentos agora anunciados tivessem sido realizados antes do verão de 2008, ter-se-ia evitado o corte da água?
Não necessariamente. O problema reside nos aquíferos, que são como que tanques de armazenamento. Se a água não chegar a eles, por muitos furos que se tenha, eles de nada servem. Foi isso que aconteceu. Os investimentos que vamos executar vão dar algumas garantias, mas não são a resposta total ao problema. O fundamental é fazer com que a água chegue aos aquíferos.
Há quem vos acuse de não separarem as águas entre PS, Governo Regional e autarquias socialistas. Concorda?
Não. Evidentemente que há um conjunto de pessoas que participam nos diferentes níveis que refere. O que não quer dizer que não haja espaço para opiniões. E há. Tenho o privilégio de participar nos órgãos de partido a nível regional e nacional e testemunho essa capacidade de análise e debate internos. Em todos estes níveis há espaço para a crítica construtiva e para a reflexão. E não há confusões entre o que é o exercício de funções a nível partidário e governativo.
Foi noticiado que o seu antecessor – José Pedro Cardoso – não era o candidato que o PS queria para Angra. Que a escolha recaía sobre si. Ele é eleito, mas, abandona o cargo a seis meses do final do mandato. A esta distância, é possível comentar este alegado diferendo.
Tudo isto seria, ao nível da opinião pública e publicada, mais claro se as pessoas conhecessem o funcionamento do PS. Ninguém é candidato pelo partido se o partido não o quiser apresentar como tal. Portanto, José Pedro Cardoso foi candidato pelo PS porque o PS assim o entendeu, partindo da vontade do candidato, claro. Que fique bem assente isso. Depois, a composição das equipas – e eu fazia parte da equipa de José Pedro Cardoso, sendo a número dois dessa lista; daí estar nestas funções – é da responsabilidade do cabeça de lista, sendo possíveis contributos do partido. Mas a decisão final dos nomes a incluir na equipa é do candidato. Por razões pessoais, José Pedro Cardoso decidiu sair da autarquia, o que levou a que eu assumisse essas funções, tendo em conta o meu lugar na lista. Nada mais houve do que isso.
É a candidata do PS a Angra. Com o desgaste do partido, os problemas da água e com o conjunto de críticas que se fazem à governação socialista no concelho, a sua eleição estará dificultada?
Há quatro anos atrás, essas questões colocaram-se – menos a água, claro – e José Pedro Cardoso obteve uma das maiores vitórias do partido em Angra. Quero com isto dizer que tudo está em aberto. Respeitarei os meus adversários nessa disputa. Mas candidato-me para vencer. E quero vencer para implementar um projecto credível e eficaz que potencie o desenvolvimento de Angra, cidade e concelho.
(In DI-Revista)

Etiquetas: , , ,