terça-feira, dezembro 16, 2008

Energias renováveis com objectivo pouco ambicioso

Vasco Silva, presidente da Gê-Questa e Doutorando no Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores.

O Governo Regional anunciou recentemente que, dentro de uma década, as energias renováveis deverão representar 50 por cento da produção global de energia eléctrica. Trata-se, no seu entender, de uma meta realista?
Como objectivo, acho até pouco ambicioso. Como meta, noto que a não ser que uma série de políticas que encontram-se actualmente em vigor não sejam alteradas, esta poderá não ser realista. O assumir que não é condição obrigatória a existência de uma única empresa regional de produção eléctrica (actualmente Grupo EDA) e a promoção da micro geração (produção eléctrica em pequena escala por particular) deverão ser condições essenciais e suficientes, para atingir a meta dos 50 por cento, e mesmo ultrapassá-la, promovendo a independência energética da Região em relação ao exterior.
A Região dispõe de recursos para se tornar, a longo prazo, totalmente independente dos combustíveis fósseis?
Com o desenvolvimento de uma série de tecnologias para produção energética, os Açores, a longo prazo, deverão ter capacidade de tornarem-se auto-suficientes, nomeadamente através do uso da geotermia, da energia eólica e das ondas. Estes recursos poderão ser usados directamente na fonte, para produção de electricidade, ou poderão ser convertidos em vectores energéticos, como o Hidrogénio, o Biodissel e o BioGas, para posterior utilização em sistemas autónomos, por exemplo automóveis e navios.
Outra das apostas do executivo em termos ambientais vai para a água. Que desafios se colocam a este nível?
A qualidade da água, ameaçada pela poluição difusa originada por práticas agronómicas intensivas, a disponibilidade desta, devido a questões de alteração do regime hídrico, provocadas, principalmente, por alterações climáticas e alterações da paisagem, desflorestação e impermeabilização dos solos, e a procura de água, a aumentar pelo desenvolvimento da sociedade açoriana, e pelo turismo, são os principais desafios que colocam-se actualmente a nível dos recursos hídricos da Região.
Os cortes de água verificados nos últimos meses no concelho de Angra devem, na sua perspectiva, ser vistos como um sinal de alerta para o futuro?
Estas deficiências ao nível do abastecimento da população do concelho de Angra do Heroísmo foram o primeiro sinal de alerta para a maioria da população de que este é um recurso escasso. Torna-se necessário rever uma série de políticas, e práticas, no que diz respeito à gestão dos recursos hídricos da Região. Torna-se necessário minimizar as perdas de água, quer a nível particular, nas habitações e nos nossos hábitos, quer a nível público, com uma melhor gestão e manutenção dos sistemas de abastecimento público.

(in Diário Insular)

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