segunda-feira, dezembro 15, 2008

Coisas e loisas

José Gabriel Ávila

1-Cantagalo é um dos topónimos mais pitorescos de Angra e até já deu nome a uma traineira local, nos tempos áureos da pesca da albacora.
O local, pela sua situação altaneira, chama a atenção de todos quantos vivem ou visitam a Cidade Património Mundial.
Nos últimos anos, que são demais, foi objecto de uma intervenção no sentido de consolidar a encosta da zona, junto à qual tem vindo a ser anunciada, com uma frequência digna de registo, a construção de um hotel. Por coincidência, o penúltimo anúncio fez a sua aparição pública na véspera de se consumar a sucessão na Câmara Municipal de Angra do Heroísmo e a última notícia (sobre a existência de um estaleiro no lugar) foi divulgada pouco tempo depois.
Aquando da intervenção acima referida, foi aberto um grande buraco, onde tem vindo a ser adiada, com uma demora incómoda para o Governo Regional dos Açores e para a Câmara, a dita construção.
Claro está, que o aspecto do sítio se tornou pouco recomendável, quer pelo ar de abandono que apresenta, quer pelo comprometedor prejuízo que representa para o prestigiante galardão que a cidade conquistou há 25 anos. A tudo isto tem de juntar-se o descrédito, que as sucessivas e inconsistentes justificações divulgadas emprestam ao fenómeno, qual elefante branco. Por sinal, nem o ambiente eleitoralista que se viveu, recentemente, conseguiu a proeza de dissimular o “bicho”.
2-O Castelinho é o caso típico do jogo do empurra, na tentativa de passar a bola e, de preferência, para quem estiver off-side. Foi o que aconteceu ao concluir-se que o Ministério da Defesa é que deveria pagar. Assistiu-se, assim, à marcação de um golo contra as regras do jogo, uma vez que ninguém deste departamento governamental lá estava (na reunião) para dizer de sua justiça. Esta, contudo, depressa se fez ouvir e, afinando pelo mesmo diapasão, retribuiu: o pagamento é com a ENATUR!
É inequívoco que o Governo Regional dos Açores e a Câmara Municipal de Angra do Heroísmo têm de assumir um papel pautado pelo empenhamento esclarecido e pró-activo, bem como por uma participação efectiva, que é como quem diz, se for caso disso, pagante.
Que o Inverno seja ameno, para que não haja mais desmoronamentos, pois a conclusão deste processo, cuja epígrafe é “ninguém quer pagar”, parece aprazada para as calendas gregas!...
3-A polémica sobre os acessos à Escola Tomás de Borba, centrada nos problemas decorrentes da respectiva entrada em funcionamento, merece um aditamento.
Por mais que se queira convencer alguém do contrário, houve falta de planeamento ou, pelo menos, de conjugação de esforços, como se constata através do desfasamento entre a conclusão das obras da escola e a execução dos respectivos acessos, o que não deixa de ser estranho para uma infra-estrutura ambicionada há quase 20 anos.
As férias escolares apenas aliviaram a pressão sobre o assunto ao reduzirem, face à sobrecarga de trânsito gerada, as demoras de circulação para os utentes das vias congestionadas.
Impunha-se, no entanto, "fazer a matrícula" da ligação à circular, se bem que numa época extraordinária. É o que está a ser feito nos últimos tempos. O terrapleno avistou-se, rapidamente, mas, sem garantir inauguração durante a primeira quinzena de Outubro, o ritmo das obras abrandou, como é público e notório. E abrandou, quando deveria ter acelerado, pois não há eleições a passar, mas há carros a parar e arrancar, em consequência da redução das faixas disponibilizadas para a circulação na zona em que está a ser feita a ligação acima referida. Isto é: o abrandamento aconteceu na fase mais crítica dos trabalhos!
Aliás, no que se refere à funcionalidade, resta saber em que medida a proximidade, entre a rotunda da Silveira e a que está em construção, localizada a poucas dezenas de metros daquela, irá condicionar a fluidez do trânsito naquela área.
4-A Via Rápida Angra-Praia é o cabo dos trabalhos! As obras, como é perfeitamente visível, para além de se encontrarem atrasadas e atarantadas, representam uma ameaça para a circulação de viaturas, agravada pelo condicionamento do próprio trânsito, que, para mais, está sujeito a alterações diárias e a uma sinalização confusa.
Tem sido frequente que as viaturas sejam brindadas com duches de água de cimento ou se brindem, generosa e reciprocamente, com a projecção de gravilha, cujas consequências são fáceis de imaginar para pinturas e vidros.
Seria mais adequado ponderar a interrupção de circulação na via, pelo menos para viaturas ligeiras, se, com isso, o andamento dos trabalhos pudesse ser acelerado e se ganhasse a garantia de uma conclusão mais rápida dos mesmos. 5-A falta de água, no Concelho de Angra do Heroísmo, levou a que a Câmara Municipal encomendasse um estudo a alguém estranho à Região, desprezando a competência e a disponibilidade dos peritos da Universidade dos Açores. Acresce que a apresentação pública desse estudo decorreu durante a tarde de um dia de semana, quando deveria ter acontecido em horário pós laboral, a fim de que suscitasse a presença e a participação de um maior número de munícipes. Por outro lado, o que não deixa de ser interessante, o documento foi retirado do sítio electrónico da Câmara em tempo recorde e não foi tornado público o seu custo.
Segundo deu para entender, nada de realmente importante veio à tona e, portanto, ficou-se como dantes no que concerne a causas e a soluções, já que as consequências continuam a sobrar, inundando, com falta de qualidade, a vida quotidiana de muitos angrenses e ameaçando toda e qualquer promoção turística da Ilha Terceira.

(In A União)

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