sábado, dezembro 13, 2008

Fungos por si só não podem exterminar o escaravelho japonês

Horta Lopes, Professor do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores
O fungo “metarhizium anisopliae” que vai ser utilizado para tentar exterminar o escaravelho japonês nos Açores é novo ou é já conhecido?

Trata-se de um fungo que na década de oitenta foi testado em laboratório e no campo pelo Departamento de Biologia da Universidade dos Açores e que alcançava bons resultados no laboratório, mas no campo não se conseguia instalar a infecção e transmiti-la às gerações futuras, tendo para isso tido sido feitos testes sobre larvas e testada a sua dispersão pelos adultos, como maneira de tentar instalar essa infecção e assim podê-la passar às gerações futuras desta praga. Não conheço esta estirpe que está a ser produzida e a ser testada e aplicada na ilha de S. Miguel, pelo que não posso afirmar se é eficaz ou não no combate a esta praga. Estou certo de que foram realizados testes de avaliação da sua eficácia, quer em laboratório quer no campo, antes de iniciar a sua aplicação, que só surge pelo facto de provavelmente ter a sua aplicação provocado uma elevada percentagem de mortalidade sobre o escaravelho japonês.
E pode levar mesmo à extinção do escaravelho?

Por si só, atendendo às populações presentes nas diferentes ilhas, e em particular em S. Miguel, acho que não. A solução passa pela aplicação de medidas integradas envolvendo a aplicação de químicos selectivos (tipo reguladores de crescimento de insectos-RCI), armadilhas com feromonas sexuais e também estes meios de luta biológica ou microbiológica como a aplicação deste fungo.

Que efeitos secundários danosos para o ecossistema podem resultar da aplicação do fungo supostamente “terminator”?

Nenhuns, a não ser que se verifique alguma interactividade com a fauna do solo para além do escaravelho.

A distribuição do escaravelho japonês já atinge várias ilhas. Se a extinção não for possível, alguma zona dos Açores pode escapar à praga?

Em princípio isso será difícil, uma vez que existem transportes inter-ilhas de avião e de barco de mercadorias e de passageiros e a regulamentação actual não é suficiente para prevenir a possibilidade de passar de umas ilhas às outras. Vejam-se os exemplos de S. Miguel, Faial, Pico e Flores.

Já há certezas sobre a proveniência e as portas de entrada dos escaravelhos japoneses existentes nos Açores?

A entrada no Arquipélago deu-se pela ilha Terceira, através de voos de escala americanos na Base das Lajes, e o seu aparecimento já nas ilhas de S. Miguel, Faial Pico e Flores, foi por disseminação inicial a partir da ilha Terceira, para o Faial provavelmente por mercadorias levadas para aquela ilha de barco. A certeza se se trata de indivíduos de uma mesma população comum poderá ser determinada através de estudos genéticos a partir de amostras das populações existentes nas diferentes ilhas até agora invadidas por esta praga do escaravelho japonês.

(In Diário Insular)

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