terça-feira, dezembro 16, 2008

Opinião do Director da National Geographic sobre a Universidade

Universidade dos Açores não está a aproveitar as oportunidades disponíveis no campo da investigação na área das Ciências da Natureza. Quem o diz é o director da edição portuguesa da revista National Geographic, Gonçalo Pereira, que acredita que muita da responsabilidade passa pelo actual reitor da academia açoriana.
Os Açores têm condições para ser o “laboratório” do país?
Em muitas áreas já o são, com a Oceanografia e Pescas logo à cabeça. Agora, a Universidade dos Açores têm muitos problemas, que conhecem melhor do que eu. Ainda assim, existem duas ou três áreas em que isso já acontece.
Na sua opinião quais são os principais problema da Universidade dos Açores?
Por onde é que eu começo? A perda de alunos é um sintoma enorme. Há várias instituições pelo país fora a perder alunos, fenómeno relacionado com questões demográficas, mas nenhuma com a percentagem com que isso está a acontece na UA. Penso que isto deve fazer tocar a sineta de alarme. E a questão dos pólos é, imagino, muito pouco prática.
Tem-se defendido que os três pólos são uma forma de descentralizar…É claro que sim, obviamente, mas causam problemas de concertação de esforços, de sobrecusto e, muitas vezes, até de duplicação de informação. Os pólos têm também muito pouca autonomia financeira. Esse é o terceiro principal ponto: A questão financeira, que começa, imagino, a reflectir-se na própria produção científica. Uma vez mais o Departamento de Oceanografia e Pescas teve um enorme mérito, sobretudo por se ter conseguido destacar, mas também por se conseguir alhear um pouco do financiamento estatal português e ir buscar financeiro europeu e internacional. Isso tornou este departamento um órgão à parte.
Pode-se dizer que há o Departamento de Oceanografia e Pescas e depois a Universidade dos Açores?
Eu diria que sim. Com todo o respeito pelas geo-ciências ou pela biologia, que têm investigadores com provas dadas.
Como se podiam solucionar esses problemas?
Faz-me alguma confusão que o reitor de uma universidade tão marcada, pelo menos na visão que tenho dela, pelas Ciências da Natureza, não venha dessa área. Acho que isso provoca uma menor percepção para as oportunidades que a investigação em Ciências da Natureza permite. O balanço que faço deste reitor não é particularmente favorável. Não disponho de todos os elementos, e isso é importante que seja frisado, mas acho que há muito pouca sensibilidade para as oportunidades no campo da investigação, nos vários ramos das ciências da natureza.
O que é que a Universidade dos Açores podia ser idealmente? O motor para que os Açores se transformassem no “laboratório” de que falávamos?
Podia estar mais ligada à sociedade civil e ter um relacionamento mais estreito com a comunidade empresarial, dedicando-se a projectos de ciência aplicada mais frequentemente. Há aqui no Departamento de Ciências Agrárias coisas que são muito interessantes. Aí, se calhar, para não ser injusto, são as Ciência Agrárias, no aspecto da ligação com a comunidade empresarial, de longe que dão cartas. São os únicos que parecem integrar essa importância de produzir ciência também em função da sua aplicabilidade. O pólo da Terceira, com exemplos muito evidentes, tem feito essa ponte que outros departamentos não fazem, ou fazem pouco. Embora exista margem para fazer ciência pura, claro... Não estou a sugerir que toda a ciência seja aplicada. Agora, numa universidade que se quer moderna e relativamente recente no contexto português, com umas meras três décadas, é relevante articular-se melhor com a sociedade civil.
(In Diário Insular)

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