quinta-feira, outubro 02, 2008

Torre abaixo no meio das negociações

A torre do Observatório José Agostinho, em Angra, foi demolida pelo Instituto de Meteorologia (IM), mesmo apesar de estarem a decorrer negociações entre a secretaria regional da educação e Ciência e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior para a recuperação do observatório e instalação do Centro de Climatologia, Meteorologia e Mudanças Globais (CCMMG). A revelação foi feita pelo próprio Governo Regional, em nota divulgada ontem pelo Gabinete de Apoio à Comunicação Social do executivo açoriano (GACs). É nessa nota que o director regional da Ciência e Tecnologia, João Luís Gaspar, adianta que, além de não terem sido requeridas as autorizações necessárias, a demolição por ordem do IM aconteceu numa altura em que o Governo Regional se havia disponibilizado a garantir a recuperação do Observatório José Agostinho, para receber o CCMMG. Centro pode avançar
Ainda de acordo com o responsável pela pasta da Ciência e Tecnologia na Região, “apesar da irreversibilidade da acção do Instituto de Meteorologia, o Governo Regional mantém-se disponível para garantir que o Observatório de Angra do Heroísmo recupere a dimensão científica que José Agostinho lhe conferiu, assumindo-se como centro de referência do Atlântico nas áreas da Climatologia e Meteorologia”. O Centro de Climatologia, Meteorologia e Mudanças Globais foi criado pela Universidade dos Açores por proposta da Direcção Regional da Ciência e Tecnologia. O objectivo era implementar no arquipélago um núcleo de investigação coerente e de dimensão internacional, "numa área científica estratégica e prioritária". As declarações de João Luís Gaspar surgem cerca de uma semana depois da notícia da demolição da torre do Observatório ter sido levada a público por DI. Na altura, o professor do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores e especialista em meteorologia, Eduardo Brito de Azevedo, classificou a demolição como um ataque à cultura científica da ilha e do arquipélago: “Está-se a demolir, ou pelo menos a não considerar, uma parte substancial da nossa cultura, que também é a nossa cultura científica”. Em causa está, recorde-se, uma primeira torre de lançamento de balões meteorológicos a dos Açores, um edifício que fazia parte do património científico e arquitectónico da Região. A direcção regional da Cultura veio depois afirmar que a demolição da torre foi executada pelo IM sem a sua autorização prévia, que teria carácter vinculativo. O director regional da Cultura adiantou estar a estudar juridicamente o caso, não deixando a possibilidade de avançar com um processo judicial contra o IM de parte. Também a Câmara Municipal de Angra do Heroísmo disse não ter tido conhecimento prévio da demolição da torre.
A Assembleia Municipal de Angra do Heroísmo, aprovou, na passada Segunda-feira, por unanimidade, um voto de protesto apresentado por Félix Rodrigues do CDS-PP, contra a actuação do Instituto de Meteorologia que provocou perda de património na cidade Património Mundial de Angra do Heroísmo, com os mesmos pressupostos daqueles que foram levantados pelo Professor Eduardo Brito de Azevedo. O IM continua a manter o argumento de que a torre foi demolida por razões de segurança e que não seria viável “reabilitar” o edifício.

(In Diário Insular)

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