quarta-feira, outubro 29, 2008

Acerca dos Dislates de um Deputado

Avelino de Freitas de Meneses*

Volvida a arenga eleitoral, é tempo de responder a provocações. Refiro-me aos dislates do Deputado Luiz Fagundes Duarte que, à laia de quem age ao mando de qualquer senhor, comentou, no Diário Insular, partes do discurso que proferi no campus de Angra, nas comemorações do 6 de Outubro. Reconhece, e bem, o Deputado Duarte que as referências públicas à Universidade ressaltam em redor da “sacrossanta situação económica”. É o resultado das opções hodiernas, e quiçá inevitáveis, da Comunicação Social, vítima de uma ambiência que privilegia o realce do negativo e do anómalo, mais vendável entre públicos menos exigentes. É o resultado de algum desinteresse político, traduzido em escassa defesa da Instituição que mais contribuiu, na actual era autonómica, para a transfiguração para muito melhor da face das ilhas. Aliás, bastava um pouco mais de empenhamento pela Universidade e toda a dificuldade de garantia de um funcionamento regular num ápice se dissiparia. Afinal, chegava que no contexto das universidades portuguesas beneficiássemos da diferenciação de que usufrui a Região no âmbito do País. Caso contrário, os custos da insularidade e da divisão tripolar (quem não os reconhece?) ditarão para sempre o défice e a dependência. Ainda a propósito de dinheiro, por ignorância ou por maldade, subentende o Deputado Duarte que, para 2009, a Universidade dos Açores beneficia de um acréscimo de 11%, quando as demais se quedam por aumentos de apenas 2%. Então não sabe que houve subidas de 14, 16 e 24% em instituições menos necessitadas que a açoriana? Além disso, no caso dos Açores, o orçamento de funcionamento do próximo ano é de 14 763 299 euros, idêntico ao montante de 2008, resultante de uma dotação inicial de 13 273 747 euros, acrescida de um reforço de 1 489 552 euros.

Vistas as coisas desta forma, o crescimento orçamental da Universidade dos Açores é afinal de 0%. Porém, 2009 ainda vem longe! Antes disso, a manter-se a intransigência do Governo da República, já no próximo mês, a Universidade dos Açores até poderá ser o primeiro instituto público a engrossar o conjunto de entidades privadas que sentem dificuldades em pagar salários. Nestas circunstâncias, se pode, ou se sabe, faça também alguma coisa, porque quanto ao dever esse pertence-lhe, já que é deputado dos Açores na Assembleia da República, com responsabilidades acrescidas na Educação.Recorda o Deputado Duarte, não se entende bem a que propósito, o tempo da sua fugaz passagem pela Direcção Regional da Cultura, quando encomendara sem sucesso, e não se sabe bem a quem, projectos de um valor financeiro tão avultado, que transfigurariam as finanças de uma qualquer Universidade. Neste caso, como diz o povo, o melhor é sempre dar nomes aos bois, para que nunca incorra o autor das afirmações em suspeita de menos verdadeiro. Porém, já que sou historiador, e porque de História também se fala, sempre acrescentarei que há escassas semanas tive o gosto de prefaciar uma História dos Açores, da autoria de Susana Costa, da Universidade dos Açores, que vai ser publicada pela actual Direcção Regional da Cultura. Além disso, até finais de 2008, publicará o Instituto Açoriano de Cultura uma outra História dos Açores, obra colectiva de que sou co-director, grandemente redigida por universitários dos Açores. Tomara o Deputado Duarte, na produção científica, na gestão universitária, ou em qualquer outro sector, equiparar-se da actividade que já desenvolvi, em benefício da Terceira e dos Açores. Que me lembre, é a terceira vez que o Deputado Duarte se mete com a Universidade! Diz-se que esta fixação é uma questão de dor! De dor de cotovelo! Segundo os entendidos, mais fina e insuportável do que a mais abjecta de todas as dores, que por decoro me escuso de mencionar! No passado, o processo de construção da Universidade muito ficou a dever à colaboração de reputados docentes de instituições universitárias do continente. Só que parece que nunca ninguém reparou nas qualidades do Deputado Duarte, que também nunca terá perdoado uma tal afronta. Senhor Deputado, a ser verdade, poupe-me. Não são contas do meu rosário!Não tenho por hábito “lavar roupa” em praça pública. Esta reacção é, por isso, pessoalmente penosa. Mas que não duvide o Deputado Duarte da minha capacidade de com ele esgrimir argumentos, à moda do actualíssimo século XXI, à maneira do anteposto século XX, se necessário for, com recurso aos métodos mais genuínos, mas sempre e só os pacíficos, do século XIX.
(*) Reitor da Universidade dos Açores

(In DI-Revista)

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1 Comments:

Blogger firmina12 said...

È triste ler os dislates de um Reitor.

10:03 da tarde  

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